Após três semanas do ataque hacker que derrubou os sistemas de informação do Ministério da Saúde, o país ainda permanece com problemas da divulgação dos principais dados com relação à Covid-19.
No primeiro dia de 2022, o país registrou 30 mortes em decorrência do coronavírus. Com isso, a média móvel passou para 97 óbitos. Os dados são do consórcio de veículos de imprensa. No total, 619.139 brasileiros já morreram desde o começo da pandemia e mais de 22,2 milhões de pessoas receberam diagnóstico da doença.
São 22 dias de instabilidade na divulgação dos dados. Ainda segundo o Consórcio de veículos de imprensa, o Estado de Roraima não divulgou seus números relativos à covid-19 no sábado. Em nota, a Secretaria de Saúde informou que só voltará a publicar boletins no próximo dia 3, devido às instabilidades no sistema do Ministério da Saúde.
Distrito Federal, Minas Gerais, Tocantins, Rondônia e Rio Grande do Sul também não divulgaram seus números.
O apagão, que também foi utilizado pelo governo federal como pretexto para suspender a exigência do passaporte da vacina para entrada no país, atingiu ainda informações sobre vacinação e dados que permitiam o monitoramento da pandemia foram impactados.
Segundo o Ministério da Saúde, o e-SUS, sistema que agrupa dados sobre casos e mortes pela doença, foi restabelecido no último dia 21. Entretanto, vários estados relataram dificuldades em acessar a base de dados desde então.
O Ministério da Saúde promete que os dados serão restabelecidos no início do mês de janeiro. Na última sexta (31), o ministro Marcelo Queiroga, definiu a situação como uma “luta diária” e disse que sua expectativa é que o sistema volte ao normal somente na primeira quinzena de janeiro. Ou seja, mais de um mês após o ataque.
TENDÊNCIA DE ALTA
O impacto do apagão pode permanecer ainda por mais tempo. Apesar de um perceptível aumento dos casos e das internações na rede pública em diferentes cidades, os dados nacionais não apontam para esta tendência.
Em São Paulo, por exemplo, as internações por Covid-19 dobraram no mês de dezembro. Na quarta-feira, dia 29, foram registradas 664 novas hospitalizações, alta de 106% em relação ao início do mês. Os dados são do governo paulista. Não se trata de um registro pontual. A média móvel diária de hospitalizações dos últimos sete dias em relação ao período imediatamente anterior também saiu de 290 no início do mês para 499 – aumento de 72%.
Com mais internações, a taxa de ocupação de leitos de UTI por Covid-19 aumentou. No Estado, passou de 21,5% em 1º de dezembro para 25,2% na quarta-feira. Na Grande São Paulo, que reúne o maior número de casos, chegou a 31,4%.
As internações em São Paulo podem indicar o que está acontecendo no país. Também chamou atenção a corrida das populações às farmácias nesse fim de ano à procura de testes de Covid-19. Segundo a Abrafarma, que reúne redes de farmácia, o percentual de positividade dos testes deu um salto nos últimos dias. No dia 17 de dezembro, 6,7% dos testes realizados no país acusavam o vírus da Covid-19. No dia 29, esse percentual chegou a 20,5%.
ÀS CEGAS
Os especialistas em saúde pública estão preocupados com a ausência de dados mais detalhados sobre o avanço da ômicron no país. “Estamos completamente às cegas, sem poder auxiliar na análise de situação”, diz Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe.
O físico da Unesp e membro do Observatório Covid-19 BR, Roberto Kraenkel considera que existe “uma subida muito forte no número de internações que não pode ser explicada somente por gripe já no início de dezembro, e naquele momento ninguém fazia teste para gripe. E a gente sabe que a ômicron está vindo, é só ver que ela vem de todos os lados, na Europa, nos Estados Unidos, por que achar que aqui não vai ser assim também?”.
A falta de acesso aos números de casos, internações e mortes por Covid-19 desde que o sistema do Ministério da Saúde sofreu um ataque hacker causa “momento de voo cego”,
Na avaliação do infectologista Alexandre Naime, o avanço da variante ômicron e dos casos de síndrome gripal precisam ser rastreados. “Precisamos de transparência de dados, se eles não estiverem funcionando, não teremos direção segura”, disse em entrevista à CNN.
O infectologista afirma ainda que a ômicron “tem poder de infectar muito maior do que o vírus original”, mas “a parte boa dessa história é que aparentemente temos estudos preliminares de que ela é menos patogênica, leva a menos quadros de pneumonia viral, ou seja, deve haver aumento de casos sem um aumento proporcional de número de internação e óbitos”.