
Multidão saiu às ruas neste sábado (21) em Roma, capital da Itália, para protestar contra o genocídio em Gaza, a guerra de agressão de Israel ao Irã, o rearmamento europeu e a Otan
Convocada pela maior central sindical italiana, a CGIL, partidos anti-fascistas e centenas de grupos e movimentos sociais, frente ao genocídio sem fim em Gaza e escalada contra o Irã, o protesto também serve de preparação para o protesto em Haia, durante a cúpula da Otan de 24 a 25 de junho, em repúdio ao rearmamento da Europa, instada sob ordem do governo Trump a aumentar os gastos militares para 5% do PIB em detrimento dos gastos sociais. A manifestação começou na Porta San Paolo às 14h e terminou no Coliseu com um “barulhaço” contra o genocídio e a guerra.
“Parem Israel, parem a Terceira Guerra Mundial”. É o que diz uma das duas faixas no caminhão que inaugura a marcha Stop ReArm Europe – Não à guerra, ao rearmamento, ao genocídio e ao autoritarismo”, que atravessa Roma, registrou o jornal La Repubblica. Também numerosas bandeiras palestinas e dos partidos e organizações populares.
“Somente juntos podemos construir uma bandeira contra a guerra, o genocídio e o autoritarismo”, sublinharam os organizadores do ato. “A prioridade é parar o genocídio em Gaza, a guerra na Ucrânia, o ataque terrorista de Israel ao Irã”, diz um ativista ao microfone.
Entre os principais oradores, o ex-primeiro-ministro e líder do Movimento 5 Estrelas (MS5), Giuseppe Conte; a eurodeputada do Partido Democrata (PD), Cecilia Strada, o líder da Aliança Verde e de Esquerda (AVS), Angelo Bonelli, e representantes da comunidade palestina na Itália.
“Mataram mais de 20 mil crianças, atacaram os hospitais”, disse o porta-voz da comunidade palestina de Nápoles, Omar Suleiman, acrescentando que “não há paz sem justiça na Palestina”. Ele convocou a manter essa unidade para seguir “reivindicando a descolonização. No dia 7 de outubro, nasceu uma menina, agora com 18 meses e está aqui na Itália. Ela é linda, por ela devemos gritar Palestina Livre”.
REARMAMENTO DA EUROPA É LOUCURA
“O rearmamento é uma loucura. A maioria das pessoas diz não”, afirmou o ex-primeiro-ministro Conte. “A grande maioria diz que esta corrida armamentista é uma loucura, e que é uma loucura contribuir para a escalada militar enquanto, em vez disso, cortamos verbas para a assistência social, para o modelo social europeu que construímos laboriosamente durante muitos anos, para a saúde, a educação, as creches e tudo o que os cidadãos precisam.”
Ele convocou a ir a Haia em 24 de junho, contra o rearmamento. “Lancei um apelo a todas as forças políticas europeias que compartilham nossa avaliação de uma corrida armamentista louca e uma escalada militar. Criaremos, com os outros líderes das forças europeias que compartilham nossa visão, uma comparação permanente, uma rede para combater essa corrida armamentista em nível político europeu e internacional.”
“INACEITÁVEL MORRER POR UM PUNHADO DE FARINHA”
Angelo Bonelli, porta-voz da Aliança Verde e de Esquerda (AVS), disse que é “inaceitável o horror daqueles que são mortos por um punhado de farinha, como está acontecendo em Gaza”, assim como o fato de a Europa sancionar a Rússia, “mas não Israel”. Ontem, [a primeira-ministra fascista] Giorgia Meloni “humilhou a Itália porque Netanyahu e Trump lhe disseram para não ir” a Genebra. “Mas a Itália não pode ser vassala. Precisamos nos desarmar, vamos continuar esta batalha também em nome do povo que é exterminado todos os dias em Gaza”.
A eurodeputada Cecilia Strada (PD) denunciou que no Parlamento Europeu pediu 12 vezes “a suspensão do acordo UE-Israel”, acrescentando que “esse duplo padrão está matando os valores da Europa”. Precisamos retomar a palavra segurança, de não sermos espancados em manifestações, mortos na prisão, de termos um lar. Em vez disso, na Europa, eles usam a ‘ameaça de Putin’ para fazer leis liberticidas que destroem nossas democracias por dentro.”
“Os desafios são enormes: salvar Gaza de um enorme genocídio. Mas também nos dar um sinal de alerta, fazer novas alianças, reunir nossas lutas, a sociedade civil e a política. Queremos salvar a Palestina, mas talvez a Palestina nos salve”, ela concluiu.
Pela CGIL, Francesca Re David afirmou que o que está acontecendo em Gaza “é a demonstração do que acontece em um mundo onde poucos oligarcas poderosos comandam.”
“Trabalho, democracia e paz andam juntos. Ontem, o decreto de segurança [anti-protestos] entrou nas ruas – com os trabalhadores que se manifestaram em Bolonha e que foram denunciados – e por isso dizemos que devemos nos rebelar, devemos continuar nos rebelando, somos nós que decidimos não ser derrotados, ao lado de Gaza e dos direitos humanos”, ela enfatizou.
“O ATACADO É O IRÃ, O AGRESSOR É ISRAEL”
“Faz mais de 18 meses que o governo italiano não diz uma palavra, mas continua a armar Israel. Mas bastou um dia para dizer que Israel tem o direito de se defender. Mas dizemos uma coisa claramente, que é o direito internacional: o atacado é o Irã, o agressor é Israel. Este governo deve renunciar”, disse à multidão Fabrizio De Santis, da ANPI (Associação Nacional dos Partidários da Itália), o histórico movimento partigiani contra Mussolini e Hitler.
Já o porta-voz das comunidades palestinas de Roma e Lácio, Yousef Salman, agradeceu “a todos vocês que foram às ruas para dizer não ao extermínio, para pedir um mundo mais justo. Este cão de guarda — diz ele, referindo-se ao governo de Netanyahu à frente do Estado de Israel — também atacou o Líbano, enquanto na Palestina há genocídio, há extermínio. A Palestina continua sofrendo e morrendo diante dos olhos de todos. É um extermínio. Até vocês, italianos, lutaram quando estavam ocupados. Nós também, e teremos nosso 25 de abril”. Discurso prontamente ecoado pelos manifestantes com o lema “Palestina Livre” do rio ao mar.
“UM MINUTO DE BARULHO QUANDO AS CRIANÇAS MORREM”
O encerramento do protesto junto ao Coliseu foi especialmente emocionado, com um “die-in”. Dezenas de pessoas se deitaram no chão, sobre lençóis brancos, por 4 minutos, representando o morticínio de palestinos sob o barulho das bombas em Gaza, através de um áudio enviado pelo engenheiro de som palestino Oussama Rima.
Então, uma performance homenageia a fotojornalista Fatma Assouma, assassinada pelos fascistas israelenses: “Mataram-me, mas não estou morta. Quando me matarem, não quero ser um número ou uma manchete de jornal. Quero ser barulho.”
“Disseram-nos que deveríamos ficar em silêncio quando as crianças estão dormindo e não quando as crianças estão morrendo, por isso vamos fazer um minuto de barulho”, convocou a seguir o ativista ao microfone, sendo atendido pela multidão.