Autópsia independente realizada a pedido da família do ex-segurança George Floyd concluiu que ele foi efetivamente assassinado por asfixia e morreu no local. Como assinalou o advogado da família, Ben Crump, para Floyd “a ambulância foi seu carro funerário”.
Ele estaria vivo hoje – acrescentou o advogado – “se não fosse pela pressão aplicada com o joelho pelo policial demitido Derek Chauvin sobre o pescoço da vítima e pela pressão em seu corpo de outros dois policiais ajoelhados sobre ele”.
O assassinato, sob custódia e algemado, no dia 25 de maio, em pleno feriado do Memorial Day nos EUA – que homenageia os mortos nas guerras -, desencadeou a maior revolta contra o racismo nos EUA das últimas cinco décadas, que já ultrapassou uma semana.
O policial Chauvin manteve o peso do corpo sobre o joelho que apertava o pescoço de Floyd por oito minutos e 46 segundos, sendo quase três minutos após um dos policiais verificar o pulso dele e constatar que não respondia mais. A informação está registrada no laudo inicial.
A autópsia independente foi conduzida pela Dra. Allecia Wilson, diretora de autópsia e serviços forenses da Universidade de Michigan, e pelo Dr. Michael Baden, que foi médico-legista-chefe da cidade de Nova York no final dos anos 1970.
Baden é mais conhecido como apresentador da série “Autópsia”, da HBO. Foi ele quem fez a autópsia independente de Michael Brown, morto por um policial em Ferguson, Missouri, em 2014, e mais recentemente de Jeffrey Epstein, que foi encontrado morto numa cela em Nova Iorque.
As descobertas dos dois legistas contradizem o laudo anterior de que não houve asfixia, e que serviu de base para o indiciamento do criminoso em homicídio de terceiro grau e não o de primeiro grau (quando há a intenção de matar).
As evidências físicas mostraram que a pressão aplicada levou à morte, disse a Dra. Wilson. O Dr. Baden disse ainda que houve uma hemorragia na área da carótida direita.
Não é incomum, ele assinalou, que relatórios de autópsia divirjam. “Isto não é necessariamente ciência, é medicina. Medicina é uma arte e uma ciência”.
“Vimos relatos da denúncia e, com base nisso, sim, nossas descobertas diferem. Algumas das informações que li da denúncia dizem que não havia evidência de asfixia traumática. Este é o ponto em que discordamos. Há evidências neste caso de asfixia mecânica ou traumática”, destacou a Dra. Wilson.
Os dois médicos também disseram que quaisquer condições subjacentes de Floyd não o mataram ou contribuíram para a morte dele. “Ele estava bem de saúde”, disse o Dr. Baden.
A autópsia independente concluiu que mesmo sem evidência de asfixia “traumática”, tal como ossos quebrados, a compressão causada pelos policiais levou à morte de Floyd ao privar seu cérebro de sangue e oxigênio e seus pulmões, de ar.
Ele acrescentou que as abrasões no lado esquerdo da face de Floyd e no ombro mostraram quão duramente ele foi pressionado contra o pavimento. “O vídeo é real”, acrescentou o Dr. Baden.
O legista assinalou que a pressão não foi necessariamente visível na autópsia devido a que no momento em quaisquer médicos revisaram o corpo, a pressão já tinha sido liberada.
A determinação da causa e modo de morte foi baseada na revisão das circunstâncias, incluindo o vídeo, mas também de descobertas adicionais determinadas na autópsia de parte deles. “A principal questão que ambos estamos dizendo é que é um homicídio devido ao modo como ele foi submetido”.
Vídeo que só circulou posteriormente ao impacto da morte mostra que não era só um policial – como se pensava -, mas três que se ajoelharam sobre Floyd, como retratou a CNN.
São imagens tomadas de um ângulo diferente, que mostram que enquanto Chauvin pressiona com o joelho o pescoço de Floyd, os outros dois se ajoelham sobre as costas da vítima. O quarto policial fica parado junto ao veículo, observando tudo e impedindo a intervenção dos transeuntes, que pediam para que parassem com aquilo.
Crump, o advogado da família, disse que a morte de Floyd foi resultado dessa pressão física dos três policiais sobre o ex-segurança. Ele acrescentou que Chauvin deveria ser acusado de assassinato de primeiro grau, e não a menos grave acusação de homicídio de terceiro grau que está enfrentando, e que os demais policiais envolvidos deveriam encarar “a mais plena extensão da lei”.
O advogado disse, ainda, que a desconfiança da família em relação ao Departamento de Polícia de Minneapolis se devia, em parte, à forma como descreveu como Floyd tinha sido detido, e que a família se sentia “encorajada” pela abordagem da questão assumida pelo procurador-geral de Minnesota, Keith Ellison.
Pouco depois da divulgação do laudo independente, o serviço forense do condado de Hennepin, onde fica Minneapolis, divulgou seu próprio exame e também concluiu que foi homicídio.
A autoridade atribuiu a causa da morte a “uma parada cardiopulmonar complicando ação policial com submissão, contenção e compressão do pescoço”.
Em outras palavras, o coração de Floyd parou de bater e seus pulmões pararam de receber ar enquanto ele estava sendo contido pelos policiais.