O secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Fabio Wajngarten, se mostrou inconformado com o relatório do Observatório Judaico de Direitos Humanos no Brasil “Henry Sobel” intitulado “O Antissemitismo Durante o Governo Bolsonaro”, lançado no dia 21.
É o que mostra seu twitter, no qual ele exigiu, por exemplo, do Observatório, como suposta questão de coerência, posicionamentos sobre eventos governamentais de 2006 a 2014, quando o mesmo ainda não existia. Aliás, ele mesmo, mais adiante, mostra conhecer que a entidade foi fundada em 2019.
Wajngarten também demonstrou irritação com o jornal O Globo que publicou uma matéria sobre o lançamento: “Aumentam denúncias de antissemitismo no Brasil e pandemia acentua tendência”, detalhando elementos trazidos pelo Observatório. Na matéria do jornal, se afirma: “Documento do Observatório de Direitos Humanos Henry Sobel mostra que relatos aumentaram durante governo Bolsonaro; entidade destaca influência de discurso oficial que flerta com totalitarismo”.
O secretário recrimina O Globo pela publicação dizendo que o jornal não poderia “cometer a leviandade de fazer estardalhaço com algo que não se sustenta”.
O lançamento do relatório aconteceu através de um evento virtual e teve mais de 500 participações.
O relatório traz uma tabela com 26 casos de referências preconceituosas a judeus ou de cunho neonazista em 2019 e outros 30 só nos primeiros meses de 2020. Traz também respectivos links registrando estas manifestações, além de uma inconografia comparando elementos gráficos e slogans adotados pelo atual governo e seus integrantes, com os símbolos similares usados no período nazifascista.
O trabalho faz referências a portais, fotos e documentos, para denunciar o crescimento do antissemitismo durante estes meses do governo Bolsonaro e ressalta: “marca destes 18 meses tem sido o recurso a imagens e temas próprios ao nazifascismo, tais como a saudação do braço direito estendido, feita por bolsonaristas à presença do ‘condottiere’ Bolsonaro ou o discurso do ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, copiando estética, trechos e, acima de tudo, os conceitos de ‘cultura pura e nacional’, em um pastiche de Joseph Goebbels, o sinistro ministro nazista da Propaganda”.
O documento reproduz ainda um alerta da organização Safernet, que monitora manifestações nazistas em todo o mundo e que afirma ser “inegável que as reiteradas manifestações de ódio contra minorias por membros do Governo Bolsonaro têm empoderado as células neonazistas no Brasil”.
Em redes sociais, também se sucederam ataques à autora da matéria do O Globo, a jornalista Carolina Mazzi.
O Observatório emitiu nota defendendo o documento, a liberdade de expressão e de imprensa:
“O crescimento do antissemitismo no país, apontado em nosso relatório, é corroborado por pesquisas de entidades que vão da Anti-Defamation League (ADL), dos Estados Unidos ao Centro Kantor, da Universidade de Tel Aviv (Israel), à ONG Safernet, que monitora o neonazismo em todo o mundo e a pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)”.
A nota repele a atitude hostil do secretário do Ministério das Comunicações, que apesar de se colocar como “de religião judaica”, se preocupa mais em tentar desqualificar as denúncias do que com sua gravidade e destaca que “o objetivo maior de nosso relatório é que todos, sociedade civil e Poderes Públicos, ao invés de se insurgirem contra as denúncias, cumpram seu papel, combatendo o flagelo do antissemitismo e do racismo, e a degradação dos direitos humanos, de todos os humanos, no Brasil”.
E conclui: “permaneceremos firmes em nossas convicções, ao lado de todos os que lutam por um Brasil mais justo”.
Para defensores do nazismo a lei deve ser o caminho para punílos e as autoridades não devem serem cúmplice, conivente ou omissa com essas pessoas