O secretário estadual da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, afirmou que a CoronaVac, vacina contra a Covid-19 produzida no Brasil pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, não atingiu 90% de eficácia em testes realizados no país, mas “está em níveis que nos permitem fazer uma redução de impacto de doença na nossa população”, afirmou Gorinchteyn, citando que o percentual é superior ao mínimo de 50% exigido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A eficácia obtida no Brasil seria divulgada na quarta-feira (23) pelo Instituto Butantan, mas, segundo o instituto, o laboratório Sinovac pediu adiamento do anúncio para analisar os dados dos testes para entender os percentuais diferentes obtidos nos países onde o imunizante é testado. O governo da Turquia, que também realiza testes da CoronaVac, anunciou 91,25% de eficácia.
Em entrevista ao canal ‘Globonews’, o secretário destacou que “a vacina é eficaz, é segura e se mostrou segura imunogênica, produtora de anticorpos na fase um e dois, ou seja, anticorpos neutralizantes em 97% de todas as pessoas que fizeram uso dela, de todos os voluntários, seja aqui no Brasil, seja na China, seja na Indonésia, seja na Turquia”.
Gorinchteyn ainda explicou que não havia expectativa da CoronaVac atingir 90% de eficácia, pela fórmula diferente que tem a vacina do Butantan em relação à da Pfizer e da AstraZeneca (produzida no Brasil em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz). De acordo com o secretário, vacinas formuladas com fragmentos de vírus, os chamados vírus inativados, como é o caso da CoronaVac, acabam produzindo um percentual de defesa inferior àquelas que usam, por exemplo, a técnica chamada de vírus atenuado.
Ele explicou que a vacina será fundamental no programa de imunização e que, após os dados compilados serem analisados pelo Sinovac estarão disponíveis para a Anvisa.
“A CoronaVac se consagrou aqui no Brasil como eficaz, acima de 50%. O quanto acima, se 60% 70%, 80%, 90%, nós não sabemos. Por que nós não sabemos? Porque houve uma tratativa do Instituto Butantan com a Sinovac, que frente aos números inferiores àqueles que eles encontraram em outros países, lá na Turquia como revelados agora nesses estudos preliminares, falaram assim: ‘Poxa vida por que foi menor?’ E aí, as explicações são exatamente essas: ‘Quais são os viesses de alteração? Será que eu não dei tempo da produção?’ Eu dou a vacina hoje, a produção de anticorpos ainda demora 15 dias e daqui a 21 dias eu tomei mais uma dose, esse é o reforço de imunidade desse indivíduo. ‘Será que ele se contaminou nesse período e não deu tempo dele ter a proteção?’ Então, todas essas análises estão sendo consideradas nesse momento para que se saiba se realmente ela tem 70%, 80%, 90% ou menos de percentual de proteção”, disse o secretário paulista.
“Nós não temos esse percentual. Então, dessa maneira nos próximos dias, em até 15 dias, nós receberemos essa informação. Os dados compilados já foram enviados para China e dessa maneira, também, nos próximos dias estes mesmos dados serão enviados para Anvisa para que possamos solicitar o registro definitivo que terá um prazo de 10 dias para uma análise muito mais célere e assim possamos proteger a população”, complementou.
IMUNIZAÇÃO
O secretário comparou o uso da CoronaVac com as vacinas utilizadas na imunização contra a gripe. “A nossa vacina do Instituto Butantan é uma vacina que tem a mesma formulação que é usada, por exemplo, na vacina da gripe. Ou seja, eu não atinjo, mesmo nas coberturas de gripe, uma eficácia tão alta de 90%, 95%, como nós teríamos em outras formulações. Para se ter uma ideia, a vacinação da gripe, tem um percentual de cobertura de eficácia que vai de 40% a 80%, que depende do grupo etário, mais jovens, mais idosos, como que eles respondem”.
“Fazendo analogia com a gripe, se eu tiver um endivido que tomou a vacina da gripe e ele diz: “ah eu tomei a vacina e tive gripe“, mas seguramente a manifestação clínica dele não foi tão grave ao ponto de levar ele para uma unidade hospitalar, para ser internado ou eventualmente morrer em decorrência da gripe. Então, mesmo que eu tenha uma expressão, de eficácia menos intensa, eu estarei protegendo esse paciente quanto contra formas graves e fatais diminuindo, portanto as chances de internação e óbitos, assim como a CoronaVac em relação a Covid-19”.
“É importante entender que as vacinas vão ter a suas apresentações de respostas diferentes. Quando estivermos usando uma vacina de vírus, de fragmentos de vírus, que não são vírus vivos, como a CoronaVac, a minha resposta vai ser menor do que as vacinas em que eu tenha vírus vivos atenuados, que é o caso de todas as outras vacinas”.
Gorinchteyn destacou ainda que “se eu tiver 50% ou mais, 60%, 70%, eu vou fazer com que de 10 pessoas que tomem a vacina, 6 ou 7 estejam totalmente protegidas e aquelas três ou quatro, que mesmo que não estejam integralmente protegidas, vão estar protegidas de desenvolver formas graves da Covid-19, aquelas formas que levam as pessoas ao hospital e a morte”.
“Como médico infectologista que sou e que ainda estou na linha de frente de atenção ao Covid-19, assim como gestor da saúde, nós estamos vendo mortes, formas graves da doença, e a única maneira que nós temos de proteger a nossa população é com vacinas seguras e eficazes, como essa do Instituto Butantan está com a Sinovac”, ressaltou.
25 DE JANEIRO
A jornalista Eliana Cantanhêde apontou o sentimento de frustração da população com a demora para a saída da pandemia frente ao desgoverno Bolsonaro e à morte de mais de 190 mil brasileiros: “Secretário, a gente tem que admitir que a sociedade brasileira vem sendo muito maltratada nesse processo todo. Era uma gripezinha, a demissão de dois ministros da Saúde, depois um general que não entende nada de epidemiologia, agora o negacionismo em torno da própria vacina”.
“Quando o senhor fala em frustração, é uma frustração perigosa numa sociedade que já vem sendo sucessivamente frustrada, está amedrontada”, afirmou a jornalista que completou: “Agora, o senhor focou muito na questão da eficácia, Mas eu queria focar também na questão dos prazos. A gente está vendo Chile vacinando, o México vacinando, Costa Rica vacinando, enfim, o mundo inteiro já começou a vacinar. O senhor acha que a efetivas condições de manter o prazo de 25 de janeiro ou será mais uma frustração a caminho?”, questionou Eliana.
O secretário concordou com o posicionamento da jornalista e confirmou o inicio da vacinação para 25 de janeiro. “A sua fala é muito bem colocada. A população vem sofrendo durante toda a pandemia, a perdas de vidas, perdas de sonhos, perdas econômicas e infelizmente vivemos um momento muito difícil, mas nós temos que dar esperança, esperança é a vacina” e completou: “mesmo que a Sinovac leve os 15 dias para encaminhar o resultado final, a gente inicia a vacinação em 25 de janeiro. A Anvisa já prepara uma força tarefa para analisar os resultados de forma célere e nós garantimos o inicio da vacinação”.