O Fundo Soberano da Rússia reagiu à decisão da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de negar o pedido de importação da vacina russa Sputnik V, imunizante contra a Covid-19 desenvolvido pelo instituto Gamaleya.
Segundo manifestação do Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, na sigla em russo), a instituição acredita que a decisão da agência reguladora do Brasil seja uma decisão política.
A agência reguladora decidiu não recomendar a importação excepcional e temporária da vacina em uma reunião realizada na segunda-feira (26), alegando falta de dados e risco de doenças por falhas na fabricação.
“A decisão da Anvisa de adiar a aprovação da Sputnik V é, infelizmente, de natureza política e nada tem a ver com o acesso do órgão regulador à informação ou à ciência. Em nossa opinião, essa decisão é consequência direta da pressão dos Estados Unidos”, disse em nota o fundo russo, que financia o desenvolvimento do imunizante.
“Isso é confirmado pelos dados do relatório do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos de 2020, que fala abertamente dos esforços do departamento de pressionar as autoridades brasileiras e forçá-las a recusar a compra da vacina russa”, enfatizou o RFPI.
A nota diz ainda que as “questões técnicas” levantadas pela Anvisa na reunião desta segunda-feira “não têm embasamento científico e não podem ser tratadas com seriedade na comunidade científica e entre os reguladores internacionais.” Afirma também que a equipe da agência “teve pleno acesso a todos os documentos relevantes, bem como aos locais de pesquisa e produção.”
Em coletiva de imprensa conduzida na manhã desta terça-feira (27), o CEO do fundo russo, Kirill Dmitriev, falou que a Anvisa não foi “profissional” e nem “ética” e acusou a agência de estar tentando barrar a entrada do imunizante no país. Também disse que a Anvisa solicitou mais documentos do que todos os órgãos reguladores dos outros países onde a vacina foi aprovada e que todos os documentos pedidos foram entregues.
Um dos supostos problemas da Sputnik V apontados pela agência foi a presença de um suposto “adenovírus replicante”. Sobre isso, o Instituto Gamaleya, que desenvolve a vacina, falou que tem um controle de qualidade rigoroso e que “nenhum adenovírus competente para replicação (RCA) foi encontrado em qualquer um dos lotes da vacina Sputnik V que foram produzidos.”
O diretor do Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, Aleksandr Gintsburg, afirmou que a Anvisa não solicitou visita ao local de fabricação da vacina russa. Ele lembrou que o centro não nega isso a ninguém, mas há regras.
“A agência reguladora do Brasil [Anvisa] não me solicitou [a visita] na qualidade de diretor do centro, isso posso dizer com certeza. O regulador argentino nos contatou e já os recebemos diversas vezes. Não negamos o acesso a ninguém, mas há determinadas regras, estas visitas são coordenadas com o Ministério da Saúde da Rússia”, disse Gintsburg.
Até agora, a Sputnik V foi aprovada em 60 países, sendo a segunda vacina mais aprovada por órgãos sanitários no mundo. Entre os países sul-americanos que já aprovaram o imunizante, estão México, Argentina, Bolívia, Venezuela e Paraguai.
De acordo com resultados de estudos clínicos publicados em fevereiro na revista médica The Lancet, referência no mundo, a vacina tem eficácia de 91,6%. Dados da inoculação de 3,8 milhões de pessoas na Rússia mostram que a eficácia da Sputnik V é de 97,6%.