“A vacina é efetiva, protege e é importante para parar a pandemia”, defendeu o embaixador da Rússia, Alexey Labetskiy, sobre a Sputnik V, imunizante do Instituto Gamaleya, produzido no Brasil pela União Química que ainda aguarda o registro de uso emergencial, em território brasileiro, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em entrevista ao jornal “O Globo”, o embaixador destacou o trabalho realizado pela chancelaria russa para garantir a aprovação da vacina. “A Sputnik está na agenda”, disse Labetskiy destacando que ele mesmo já falou “com várias personalidades brasileiras sobre isso: com o presidente da República, com o ministro da Saúde e com o senhor Barra Torres, [presidente] da Anvisa”.
Na quinta-feira (20), o laboratório químico-farmacêutico brasileiro União Química iniciou, em sua fábrica de São Paulo, a produção nacional da Sputnik V. Entretanto, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não aprovou o uso da Sputnik V no Brasil, as 100 mil doses do primeiro lote deverão ser destinadas para exportação aos países da América Latina.
O Brasil está atrasado em sua vacinação, tendo imunizado menos de 10% de sua população com as duas doses de vacina. Há falta de vacinas no país e, enquanto isso, a Anvisa protela a aprovação da vacina da União Química. O país já se aproxima de 16 milhões de infectados. Já são quase 450 mil o número de mortos. Vários Estados tiveram que interromper a imunização de suas populações por falta de imunizantes.
No final de abril, a Anvisa rejeitou a aprovação dos pedidos de autorização excepcional e temporária para importação e distribuição da vacina russa no Brasil. A agência exigiu mais documentos e adiando o registro da Sputnik V no país.
Alexey Labetskiy assegurou que “as partes interessadas brasileiras continuam trabalhando com a Anvisa, fornecendo os documentos necessários para o registro da vacina para uso emergencial. Devemos respeitar a ordem interna brasileira quanto à liberação de utilização de medicamentos e vacinas. Estamos trabalhando e, apesar de todas as dificuldades que existem, estamos abertos, caso seja do interesse dos parceiros brasileiros”, afirmou o embaixador.
A vacina que a empresa União Química começou a produzir em solo brasileiro e que não poderá ser usada nos brasileiros já foi aprovada para uso em 66 países. O imunizante ocupa a segunda posição mundial em aprovações de agências reguladoras estatais. A vacina tem eficácia de 97,6%, baseando-se na análise dos dados de 3,8 milhões de russos vacinados, sendo esta porcentagem mais alta do que a eficácia revelada antes na revista científica The Lancet (91,6%).
“Hoje, a vacina está permitida em mais de 60 países, incluindo Argentina, México, Venezuela e outros países da América Latina, além de Índia, Hungria e Eslováquia. A Índia, que é um dos maiores produtores de IFA de vacinas do mundo, autorizou a utilização da Sputnik, as primeiras doses já foram concedidas e eles já começaram a vacinar a sua população. Queremos trabalhar com todos os países, inclusive o Brasil, não só em vacinas, mas em estudos científicos para a produção de medicamentos para o tratamento da doença”, afirmou o embaixador russo.
Alexey Labetskiy ainda destacou a importância das vacinas no combate a Covid-19. “Partimos do princípio que o combate à pandemia é um desafio global e o combate também deve ser global. Devemos unir os esforços de todos os países para vencer esse desastre epidemiológico que caiu sobre a Humanidade. Estamos abertos a trabalhar com todos. Não podemos vencer a pandemia num único país nem em uma única região. Trabalhamos com os estados, com o setor privado e com a União Química, que assinou um contrato com o Fundo de Investimento Direto da Rússia, que é a única instância no meu país que tem o direito e a possibilidade de negociar e fornecer a vacina Sputnik fora das fronteiras da Rússia”.
O embaixador ainda apontou a disposição da sobre a suspensão de patentes para vacinas contra a Covid, e usou o exemplo do acordo com a União Química como exemplo.
“A União Química possui todos os direitos de uso e produção de IFA [Ingrediente Farmacêutico Ativo, insumo para a produção de vacina]. Estamos abertos à negociação para passarmos nossas tecnologias aos parceiros estrangeiros. A tecnologia do Gamaleya foi entregue à União Química sem royalties, sem nada, o que significa que nós abrimos a patente”, enfatizou Alexey Labetskiy.