A pouco mais de 60 dias das eleições presidenciais de 7 de novembro, as autoridades judiciais da Nicarágua decidiram processar a jornalista Cristiana Chamorro, candidata da oposição, que já se encontrava em prisão domiciliar.
Na política de cerco à família Chamorro, também são alvo seu irmão Pedro Joaquín e três ex-funcionários de uma Organização não governamental (ONG) por suposta lavagem de dinheiro e outros crimes, informou o Ministério Público na quinta-feira (2). Cristiana nega as acusações e diz que a ONG, que fechou em fevereiro, é um centro de formação de jornalistas e defesa da liberdade de imprensa.
O comunicado do Ministério Público assinala que “o processo penal foi denunciado e está em andamento” contra a Fundação Violeta Barrios de Chamorro (FVBCH) e que, além dos irmãos Chamorro, serão processados três ex-funcionários administrativos daquela entidade: Marcos Fletes, Walter Gómez e Pedro Vásquez, que já se encontram detidos.
Com reconhecidos vínculos com o governo do presidente Daniel Ortega, as autoridades judiciais informaram que cinco outros réus no mesmo caso, entre eles o jornalista Carlos Fernando Chamorro, irmão dos anteriores e exilado na Costa Rica, “estão foragidos da justiça e com ordem de prisão judicial, enquanto aguardam a realização de suas audiências”.
O relatório oficial ainda não revelou onde foi realizada a audiência judicial, mas o não governamental Centro de Direitos Humanos da Nicarágua (Cenidh) garantiu que ela ocorreu no temido presídio conhecido como El Chipote, na zona sudeste de Manágua. No local, aguardam 35 outros oposicionistas detidos desde 27 de maio passado.
O Cenidh denunciou que familiares foram impedidos de entrar no presídio e que o advogado de defesa designado a um dos acusados foi mantido incomunicável durante toda a audiência.
Cristiana Chamorro, de 66 anos, está em prisão domiciliar desde 2 de junho, após anunciar que desejava disputar as eleições contra o presidente Daniel Ortega, de 75 anos. O presidente esteve no governo entre 1979 e 1990, primeiro à frente de um Conselho e depois como presidente. Em 1990 foi derrotado pela ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro e voltou ao poder em 2007, onde permanece até hoje. Ortega busca a terceira reeleição pelo quarto mandato consecutivo.
Seis dos 35 oposicionistas detidos nos últimos 100 dias não foram sequer acusados pela Promotoria e no caso de Alex Hernández sequer se explicaram as razões de sua detenção, conforme denunciaram os familiares. O Ministério Público começou as acusações de 24 de agosto e até quarta-feira (1) haviam sido acusados 29 desses presos.
Outros oponentes que aspiram à presidência foram detidos até aquela data e continuam encarcerados. Entre os presos mais recentes estão líderes políticos, camponeses e estudantes, investigados por “traição” e “conspiração em detrimento do povo e do Estado”.
Os familiares dos presos políticos denunciaram que os detidos nas celas da Direção de Auxílio Judicial, conhecidas como o “novo Chipote” têm sido vítimas de interrogatórios frequentes, tortura psicológica e vários deles baixaram de peso.
A Nicarágua está mergulhada numa crise iniciada com os protestos sociais de 2018, quando a violenta ação de policiais e paramilitares deixou 328 mortos, mais de mil feridos, 1.600 detidos e fez com que mais de 100 mil pessoas migrassem ou se exilassem, conforme a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).