“Suportar o Bolsonaro mais 16 meses é algo que preocupa muito. Ele pode entregar o Brasil daqui a 16 meses em frangalhos. Nós já não estamos bem. Então, temos que continuar todas as iniciativas, inclusive com relação ao impeachment”, propôs o senador do PSDB paulista
O senador José Aníbal (PSDB-SP), afirmou no sábado (11), em entrevista à Globonews, que Jair Bolsonaro “é um aventureiro”. “Ele não vai mudar. Ele vai continuar sendo o mesmo cidadão. Ele tem várias preocupações com o entorno dele, com a família, com a possiblidade de prisão”, afirmou.
“Jair Bolsonaro é um aventureiro. Ele não vai mudar”
“Suportar o Bolsonaro mais 16 meses é algo que preocupa muito. Ele pode entregar o Brasil daqui a 16 meses em frangalhos. Nós já não estamos bem. Então, temos que continuar todas as iniciativas, inclusive com relação ao impeachment. Sinalizar claramente nessa direção”, argumentou José Aníbal.
“As elites têm que tomar um choque de realidade. Olha a situação que está vivendo o povo brasileiro. Ou nós respondemos a isso ou vamos ficar com a agenda bolsonarista que diz uma coisa no 7 de Setembro, depois diz outra, depois de amanhã outra. No dia 9 foi diferente do dia 7 e no dia 12 também vai ser diferente. Temos que nos concentrar no que é principal. Isso incumbe o parlamento, os empresários que reclamam da inflação, que o Brasil deixe de regredir tanto como vem regredindo sob todos os aspectos com este governo”.
“Quando o Mourão diz que o governo está bem e que tem 200 deputados, significa dizer que ele está bem mal. A sociedade tem que ir para a rua, se manifestar, protestar contra esse estado deplorável de coisas. Eu tenho esperança que consigamos um resultado que nos permita um novo começo. Depois de quase três anos que o Brasil anda para trás”, denunciou. “A nós políticos, parlamentares, incumbe fazer uma boa agenda para o Brasil”, prosseguiu.
O senador avisou que “se o país não investigar essa tentativa de golpe estará cometendo um erro de muito maior dimensão do que outros do passado”. “O presidente da República ameaçou durante a última semana, disse que não vai aceitar decisão do Supremo, falou de democracia, mas tem que ter cada um no seu lugar, enfim colocou o Brasil sob tensão. O Brasil estressado. Como é que produz um bom resultado nessas circunstâncias? Vamos fazer um gesto para ele. Dizem que ele fez uma autocrítica. Que autocrítica coisa nenhuma”, destacou.
“Se o país não investigar essa tentativa de golpe estará cometendo um erro de muito maior dimensão do que outros do passado”
“O Bolsonaro é uma questão de conveniência dele. Ele viu que tentou e não teve a adesão que ele imaginou que teria, inclusive das polícias militares, das FFAA, exceção de Brasília, onde caminhoneiros focaram na esplanada por três dias e a polícia de Brasília dizendo que estava vendo como retirá-los de lá. Isso não faz o menor sentido. Isso é uma complacência da polícia”, acrescentou o parlamentar.
“No fundamental as coisas aconteceram no sentido inverso. Não havia emoção nenhuma nesses atos dele. Tudo patrocinado. Nós temos filmes aí de gente que veio bancado por empresas, ônibus, aviões, hotéis em Brasília. Ele tentou criar um clima e recebeu de volta um anti-clíma”, disse Aníbal.
“Não houve comemoração da Independência, não houve homenagem a Tiradentes, que foi executado pela liberdade, não houve comemoração da República, da democracia, enfim, houve um presidente que patrocinou algumas manifestações, diga-se sempre, muito aquém do que ele propagandeava, dois milhões de pessoas em São Paulo, quinhentas mil em Brasília e, após essa situação, o Brasil continuou na mesma situação, com os mesmos desafios”, disse.
“A Covid, desgraçadamente vai chegar a 600 mil brasileiros mortos, a inflação batendo 10%, que é uma expropriação de renda do povo trabalhador, o consumo cai, as pessoas deixam de comer, com uma inflação de 10%, que é muito maior sobre os alimentos. O parlamento com uma agenda deletéria. Ontem mesmo o código eleitoral, que que isso acrescenta, nada. Censura nas pesquisas? Sou contra isso. O Brasil precisa ter uma agenda melhor. E aí, o presidente no meio disso tudo, acuado, solta essa nota”, observou o senador.
Na opinião do senador não houve recuo verdadeiro. “Com medo de alguma coisa que fugisse ao seu controle, do ponto de vista mais imediato, inclusive com as investigações que estão sendo feitas sobre os próprios atos pelo STF, ele compartilhou a ideia desse recuo. Mas é um mero recuo. A questão central para nós é avançar agora, do ponto de vista do parlamento, do ponto de vista de rua, do ponto de vista de manifestação, que esta situação econômica e social que estamos vivendo hoje, esse stress político não pode continuar”.
“Bolsonaro pode continuar? Se nós queremos mudar, muda com ele? Como é que faz com ele? Dezesseis meses que nós vamos ficar sempre aquela história do cidadão tirava o sapato jogava no assoalho e acordava a pessoa embaixo. A pessoa embaixo reclamou com ele e ele falou, não, não vou fazer isso mais. No primeiro dia ele chegou e soltou um sapato. Aí ele disse ah, eu me comprometi a não soltar o outro. Mas o cidadão lá embaixo acordou, ficou esperando e disse olha, por favor solta logo o segundo sapato. Nós vamos esperar ele soltar o segundo sapato? Nós temos que agir”, argumentou.
“Bolsonaro pode continuar? Se nós queremos mudar, muda com ele? Como é que faz com ele?”
“E as coisas estão muito claras. Não tem muita discussão sobre uma agenda. O parlamento tem que parar de votar agendas deletérias. Semana passada nós impusemos uma derrota forte ao governo dele, 47 a 27 numa medida provisória que o senado acrescentou 75 mudanças na CLT, três novos programas de emprego que são uma mentira, para fragilizar o emprego. Enfim, 69 artigos a mais daqueles que estavam na origem. E nós conseguimos derrotar, mas nós vamos ficar derrotando? Ele propõe, a gente derrota?”, indagou.
“A nossa capacidade de iniciativa, do parlamento, dos políticos, nossas elites empresariais, soltam uma nota aqui outra acolá. Ou seja, ou nós temos uma sintonia, uma sintonia fina com os anseios da sociedade, os desafios que a sociedade enfrenta hoje, a pobreza, a inflação, a falta de esperança para o jovem, a ausência de qualificação, enfim, nós estamos nos atrasando. O preço do Bolsonaro já é altíssimo do ponto de vista do país, da nação. Então, é preciso ação”, voltou a ressaltar o senador paulista.
“Não é só porque ele soltou uma nota. Ah, ele é meio maluco. Ele está na presidência da República. Ele pode causar um mal enorme ao país. Já está causando muitos e pode continuar a causar. Então, eu próprio espero, no Senado, que a gente faça uma conversa sobre isso. Uma conversa serena, com todos. Nós vamos fazer a nossa parte. Nós temos responsabilidade nisso também. Espero que isso ocorra na Câmara e espero que nas instâncias devidas, os empresários falem também e que as ruas falem. Por isso eu irei ao ato do dia 12”, completou.