A conclusão é que Bolsonaro ajudou os demais criminosos. “Ele deu a planta da casa ao assaltante”, denunciou Luiz Roberto Barroso
Depois da conclusão da delegada da Polícia Federal, Denisse Ribeiro, de que Jair Bolsonaro cometeu crime ao vazar informações sigilosas de um inquérito que investigava a invasão hacker do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Augusto Aras, Procurador-Geral da República, terá dificuldades para arquivar o caso.
Ainda mais depois que o presidente do TSE, ministro Luiz Roberto Barroso, apontou, em seu discurso na terça-feira (1), na abertura dos trabalhos do Judiciário, que o chefe do Executivo, ao divulgar ilegalmente essas informações sigilosas, “deu a planta da casa ao assaltante”.
E mais, se, por ventura, o Procurador-Geral, numa atitude de blindagem ao escândalo, vier a arquivar o inquérito que apontou que houve crime do presidente, do deputado Filipe Barros e do ajudante de ordem de Bolsonaro, Mauro César Barbosa Cid, não adiantará nada porque a decisão final sobre os rumos que tomará o inquérito caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF). O STF poderá autorizar o indiciamento dos criminosos com foro privilegiado.
Entre integrantes do Tribunal Superior Eleitoral, a conclusão da Polícia Federal de que houve vazamento por parte de Jair Bolsonaro da investigação sobre o ataque hacker aos sistemas da corte foi recebida com satisfação. O entendimento é que a apuração sobre o ataque tinha informações sensíveis e que, ao vazar o conteúdo, Bolsonaro agiu de forma a auxiliar os bandidos.
O descontentamento dos integrantes do tribunal com o vazamento e os danos causados pelo ato do presidente foi destacado pelo ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, durante seu discurso na na abertura do ano Judiciário. Segundo Barroso, a divulgação da investigação que continha dados fornecidos pelo próprio TSE auxilia “milícias digitais e hackers de todo mundo”.
Entre os investigadores, a conclusão é que, além do dano material, com a necessidade de providências, como citou Barroso, há o impacto na credibilidade do sistema eleitoral pelo vazamento. Um dos pedidos da PF na conclusão da apuração é o compartilhamento do caso com o inquérito das milícias digitais. A PF acha que o ataque ao TSE com o uso equivocado do inquérito vazado é mais um evento que envolve a organização criminosa que conspira contra a democracia.
A Polícia Federal diz ainda que encontrou, durante a investigação do vazamento deste inquérito, indícios da atuação de Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, em outros episódios de disseminação de notícias falsas.
A PF afirma que informações coletadas na quebra de sigilo telemático do ajudante de ordens de Bolsonaro também indicam sua participação na live de 21 de outubro em que Bolsonaro fez uma falsa associação entre a vacinação contra a Covid e o desenvolvimento da Aids. Médicos e entidades, no entanto, repudiaram a associação entre o imunizante contra o coronavírus e a transmissão do HIV, o vírus da Aids. “Esta associação é falsa e inexistente”, afirmaram.
“Dados armazenados em serviço de nuvem apontam a participação de Mauro Cid em outros eventos também destinados à difusão de notícias promotoras de desinformação da população”, diz trecho do relatório da delegada. Ou seja, o ajudante de ordens de Bolsonaro, o único que foi indiciado, por não ter direito a foro privilegiado, como têm Bolsonaro e Filipe Barros, é também um “ajudante de fake news”.