“Como a China lida com as redes sociais” é o tema abordado pelo professor e escritor Elias Jabbour, no Meia Noite em Pequim, da TV Grabois, desta semana.
Sobre isso, a primeira coisa que aparece é ‘na China é proibido ter Google’, ‘na China é proibido ter e-mail’, os chineses ‘não têm acesso a Twitter’, observa Jabbour, quando na verdade, a China tem “as suas próprias redes sociais altamente potentes, Weibo, WeChat, que são mais potentes que as redes sociais aqui do Ocidente. Eles conseguiram criar as suas próprias plataformas”.
O ponto fundamental disso é que a China conseguiu quebrar o monopólio da captação de informações, que permite que informações sejam usadas via algoritmos para induzir as sociedades a um determinado comportamento, especialmente o Whatsapp.
O fato é que os Estados Unidos, a partir dessas grandes plataformas, que são privadas mas altamente a serviço do governo americano, têm uma capacidade muito grande de desmobilizar a sociedade, de fazer guerras híbridas, de desestabilizar sociedades e levar, por exemplo, ao que aconteceu no Brasil em 2018.
Em 2018, foram 2 milhões de disparos de Whatsapp por dia, contendo fake news contra as candidaturas de Haddad e Manuela D’Ávila, lembrou o pesquisador.
Isso tudo fruto de um grande esquema – isso não é teoria da conspiração, é um fato – que envolve o papel político das Big Techs norte-americanas no controle e disseminação de fake news pelo mundo, enfatizou Jabbour. É assim que as coisas funcionam, ainda mais em época de eleições.
Quando se fala da China, as pessoas caem naquela velha história da separação da liberdade formal e da liberdade real. “Eu me pergunto por que a China tem que colocar a sua segurança nacional em perigo em nome das chamadas liberdades individuais, das pessoas poderem escolher suas plataformas, sob influência americana ou europeia?”, questionou Jabbour.
A grande questão que envolve a China é uma questão de soberania nacional. Tem o exemplo do programa nuclear iraniano que utilizava o Windows, da Microsoft. A partir daí eles conseguiram explodir boa parte do programa nuclear iraniano.
Ele lembra as manifestações de 2013: “aquela questão dos 20 centavos acabou nos custando o Pré-Sal” e custou a mudança no padrão de acumulação no Brasil. “O Brasil é hoje um país que eu chamaria da ditadura da mais valia absoluta”.
Por que a China deveria se colocar em risco diante de um mundo em que existem guerras por procuração, em que esse tipo de instrumento substitui as armas, instrumentos que desmoralizam completamente com a sociedade, esses instrumentos conseguem fazer uma sociedade ficar de joelhos diante das ameaças externas e a questão que fica é por que a China deveria ter o mesmo destino, indagou Jabbour.
Vejam como, por exemplo, as Big Techs entraram com tudo na propaganda de guerra com relação ao conflito na Ucrânia. Ou seja, passaram a jogar um papel preponderante na formação de uma subjetividade aqui no Ocidente contra a Rússia.
Essas Big Techs – acrescentou Jabbour – jogam um papel intenso na construção de uma subjetividade anti-China. Você abre o jornal, a China é um país expansionista e perigoso, quando na verdade não tem nenhum porta-aviões chinês no Golfo do México.
É a distorção da verdade absurdamente ocorrendo aqui no Ocidente. Para o fim do que foi colocado aqui, a questão não é ser contrário ou favorável ao controle das redes sociais.
Para Jabbour, os chineses deram um passo fundamental ao estatizar os algoritmos. Hoje os algoritmos na China são propriedade do Estado, isso diminui muito a margem para o surgimento das fake news e isso não é algo que o Ocidente consiga fazer de jeito nenhum, ao mesmo tempo em que a China consegue ter redes sociais mais interessantes, mais potentes e mais criativas que os americanos.
Então fica essa questão, o socialismo é um sistema social novo, o capitalismo vai tentar o tempo inteiro desestabilizar as experiências socialistas e as experiências nacionais autônomas.
E hoje – ele concluiu – a principal forma de desestabilização dessas experiências socialistas ou de projetos nacionais autônomos é a utilização massiva de instrumentos de guerra híbrida, a começar, por exemplo, pelo papel do Whatsapp na disseminação de fake news.
Elias Jabbour é professor dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Econômicas e em Relações Internacionais da UERJ.