“O chefe supremo sou eu”, disse Bolsonaro. “E eu determinei que as Forças Armadas, junto com seu comando de defesa cibernética, fizesse o trabalho que tinha que ser feito dentro do TSE”, acrescentou ele, após Fachin fechar o espaço e encerrar o assunto urna eletrônica
Jair Bolsonaro (PL) está alternando ameaças ao processo eleitoral e aos ministros o TSE com estímulos a atos de violência por parte de integrantes de suas milícias.
Apenas dois dias após um de seus seguidores assassinar a tiros, dentro de uma festa de família, o tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu, o guarda municipal Marcelo Arruda, no Paraná, ele ataca o ministro Edson Fachin chamando-o de ditador.
“Ontem, o Fachin falou que não tem mais conversa com as Forças Armadas. Eu acho que ele já se intitulou o ditador do Brasil. Quem age dessa maneira não tem qualquer compromisso com a democracia. Deixo bem claro: Fachin foi quem tirou o Lula da cadeia. Fachin sempre foi o advogado do MST. Nós sabemos o que está na cabeça dele”, afirmou Bolsonaro, na manhã desta segunda-feira (11), para apoiadores, no cercadinho do Palácio da Alvorada.
“Não tem nenhum poder mais forte do que outro”, afirmou o provocador e, sem citar nomes, disse que nos últimos anos “a liberdade está sendo açoitada por quem deveria defender a Constituição.”
O atual presidente do TSE, Edson Fachin, voltou a afirmar, no domingo (10), que todas as sugestões apresentadas pelas entidades convidadas pelo TSE para a “Comissão de Transparência” das eleições, inclusive as Forças Armadas, já tinham sido respondidas, sendo algumas delas aceitas e outras não. O presidente da Corte eleitoral afirmou que os testes finais já haviam sido realizados confirmando a segurança do processo.
Ele afirmou também, mais uma vez, que o prazo legal para receber novas sugestões sobre a a segurança das urnas já se esgotou e que, qualquer nova proposta será muito bem-vinda para ser debatida no próximo pleito de 2024. O presidente da Corte considerou, portanto, encerrado o assunto da segurança das urnas para as eleições de outubro.
É por conta deste fato, de Fachin respeitar as leis e cumprir os prazos, que Bolsonaro o está chamando de “ditador”. Ele está manipulando o Ministério da Defesa para insinuar que, se não forem aceitas as suas “queixas”, não haverá eleições. Mas, o fato é que não é dele, um dos participantes do pleito, as decisões sobre como devem ser conduzidas as eleições.
Fixado em seus planos golpistas, Bolsonaro não respeita a verdade e diz que o TSE estaria desrespeitando as Forças Armadas. “O TSE convidou as Forças Armadas para participar de uma comissão de transparência eleitoral. Só que eles não entenderam, não sabiam que o chefe supremo sou eu. E eu determinei que as Forças Armadas, junto com seu comando de defesa cibernética, fizesse o trabalho que tinha que ser feito dentro do TSE. E nós fizemos e apresentamos sugestões. Bem, agora o TSE na pessoa do Fachin, era na pessoa do Barroso, não aceita que o nosso pessoal técnico converse com o pessoal técnico deles”, disse ele na conversa com apoiadores.
Ele afirma explicitamente: “o chefe supremo sou eu. E eu determinei que as Forças Armadas, junto com seu comando de defesa cibernética, fizesse o trabalho que tinha que ser feito dentro do TSE”. Só que a instituição Forças Armadas não pode seguir determinações inconstitucionais. Ele, Bolsonaro, é parte interessada na disputa eleitoral. Não pode determinar que seja feito nenhum “trabalho” no TSE. Quem a Constituição determina que conduza as eleições no Brasil chama-se TSE. A “Lei Maior” determina que elas sejam conduzidas dentro das leis. E é isso o que Fachin está fazendo.
Bolsonaro provoca porque o presidente do TSE já avisou que a Corte não aceitará nenhuma ingerência no que diz respeito à condução das eleições. “Ao longo dos últimos anos nossa liberdade está sendo açoitada por quem deveria defender a Constituição. Temos eleições pela frente. O voto é importante. Sei o que está em jogo aqui no Brasil. Não queremos que outros poucos países venham mandar aqui, como mandam na Venezuela. Agora, é um momento difícil porque inimigo não é externo, é dentro do Brasil. Está aqui nessa região da Praça dos Três Poderes”, declarou.
Chamar os ministros do TSE de “inimigos internos” é pura provocação. Mais do que provocação, é uma afronta que não será tolerada pelo país. Referir-se aos observadores internacionais, que tradicionalmente acompanham as eleições em diversos países, inclusive as do Brasil, como “outros países que venham mandar aqui”, é de uma arrogância e destempero sem limites. O TSE fez o que sempre fez, convidou entidades internacionais para serem observadoras das eleições de outubro, inclusive a OEA (Organização dos Estados Americanos).
E, para alimentar sua sanha golpista, Jair informou no cercadinho, pela décima vez, que vai provar que houve fraude nas eleições de 2014 e em 2018. O que ele vai fazer é apresentar mais uma de suas fake news sobre fraude eleitoral. “Essa semana terei reunião, só não sei se vai ser aqui ou outro local, com todos os embaixadores do mundo aqui no Brasil. São mais de 150. Quero explicar para eles o que aconteceu no 2º turno de 2014, documentado, e o que aconteceu no 1º e 2º turno de 2018, documentado. Não adianta eu querer falar com a imprensa, que distorce. Eles têm o candidato deles. O cara fala que vai querer censurar a mídia e ainda estão com ele”, afirmou.