Os comandantes das Forças Armadas foram convocados e não compareceram ao evento onde Bolsonaro atacou as instituições do país. Nesta quarta, generais da ativa informaram aos ministros do STF que não endossam as tentativas de desacreditar as urnas eletrônicas
A reunião de segunda-feira (18), convocada por Jair Bolsonaro, com embaixadores de diversos países para atacar o sistema eleitoral brasileiro causou um grande desgaste político ao governo. Não só o mundo político e jurídico, assim como a comunidade internacional, condenaram a reunião, mas também militares da ativa demonstraram insatisfação com a iniciativa.
Os comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, da Marinha, almirante-de-esquadra Almir Garnier Santos, e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar Carlos de Almeida Baptista Junior, foram convidados para participar do evento, mas não compareceram. Segundo a colunista Carla Araújo, do UOL, militares disseram que o comportamento do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, teria causado um grande mal-estar nas três Forças.
Segundo ainda o jornalista Valdo Cruz, comentarista da GloboNews, a insatisfação com o comportamento do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, levou militares da ativa e do Alto Comando do Exército a entraram em contato na manhã desta quarta-feira (20) com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para informar que não endossam as tentativas de desacreditar as urnas eletrônicas.
Segundo esses militares, Bolsonaro ultrapassou todos os limites ao reunir na segunda-feira (18) com embaixadores sediados em Brasília para fazer ataques contra ministros do STF e contra o processo que rege as eleições do país. Na avaliação desses militares, o encontro serviu para desgastar ainda mais a imagem do Brasil no exterior. A decisão dos militares de mostrar que não estão alinhados ao discurso presidencial, num momento em que Bolsonaro afronta a Justiça e o país, foi bem recebida dentro do STF e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Fontes militares ouvidas pelo HP também confirmaram o teor das reportagens sobre a insatisfação dos militares da ativa com o comportamento de Bolsonaro e de seu auxiliar da Defesa. Segundo avalia essa fonte, as Forças Armadas, ao não enviarem representantes ao evento organizado por Bolsonaro, confirmam mais uma vez a condição das FFAA, já manifestada em outras momentos, de instituição de Estado. Esta linha e o caráter de profissionalismo dos comandantes, segundo avalia a fonte, serão reforçados. Hoje, mais do que general da reserva, o ministro da Defesa é possuidor de um cargo político, acrescenta o militar.
Presente à reunião com embaixadores, o ministro da Defesa hoje é visto por seus colegas da ativa do Exército, segundo a colunista do UOL, mais como um “político” do que como um militar. General de quatro estrelas, Paulo Sérgio Nogueira era classificado dentro do Exército como um militar “sensato”, mas que acabou mudando de postura ao assumir o ministério.
Na condição de membro do governo, que segue as orientações políticas de Bolsonaro, o ministro da Defesa acabou se afastando da instituição Forças Armadas. Ele esteve na reunião de Bolsonaro e estava pronto para também discursar, mas não foi requisitado para fazê-lo. Para um militar de alta patente, o ministro se livrou de passar vergonha. “Ninguém merece ficar atrelado a uma vergonha internacional como esta”, disse.
Jair Bolsonaro repetiu as mentiras que já tinha dito antes, sem apresentar nenhuma prova. Suas acusações já foram desmentidas, mas ele mantém a estratégia de tentar desacreditar as urnas e o sistema eleitoral brasileiro. O que incomoda os militares é a atitude de Paulo Sérgio de se alinhar acriticamente com essas posições irresponsáveis do presidente provocando um desgaste para as Forças Armadas.
As manifestações de repúdio à atitude de Bolsonaro vieram de diversos segmentos da sociedade brasileira. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, rebateu imediatamente as afirmações mentirosas de Bolsonaro aos embaixadores. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, foi na mesma direção. Procuradores de 27 estados e do DF também se manifestaram.
Três entidades representativas dos delegados e peritos da Polícia Federal refutaram os ataques de Jair Bolsonaro contra as urnas eletrônicas e manifestaram “total confiança no sistema eleitoral brasileiro”. A OAB, a ABI, a AJUFE também se manifestaram. O TCU também soltou nota nesta quarta reafirmando a segurança das urnas.
A oposição também entrou com queixa-crime junto ao STF, pedindo uma investigação contra Jair Bolsonaro por reunião com embaixadores de todo o mundo, onde falou mentiras sobre as urnas eletrônicas e fez ameaças à democracia. Outro desgaste para Bolsonaro foi a nota da embaixada dos Estados Unidos em Brasília, divulgada nesta terça-feira (19). A embaixada elogiou as urnas eletrônicas e afirmou que o sistema eleitoral brasileiro é um modelo para o mundo.
A manifestação foi citada por aliados de Bolsonaro no Centrão como uma prova do erro político do presidente em realizar o encontro com embaixadores. Apoiadores de Bolsonaro eram contra essa iniciativa. A embaixada americana foi uma das que participaram da reunião.