
Corrido de um protesto, nas redes sociais, o candidato a deputado federal chamou manifestantes de “bárbaros” e alegou mais tarde que conversou com o entregador, que conseguiu pular da moto antes de ser atingido. Ele ofendeu as pessoas do ato chamando-as de “maconheiros pró-democracia”
O bolsonarismo disse a que veio, pois, a prática é o critério da verdade. A atitude do ex-ministro e candidato a deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), que derrubou entregador da moto que usava para trabalhar explicita bem isso.
O fato ocorreu durante a saída do candidato de universidade na qual palestrava em São Paulo.
Quando saía da universidade, Salles enfrentou um protesto. Em meio à confusão, o carro usado pelo ex-ministro do Meio Ambiente atingiu o motociclista que passava. Apesar do susto, não houve feridos. Ao perceber que carro do ex-ministro se aproximava, motociclista desceu do veículo e quase foi atingido, diz matéria do G1.
Nas redes sociais, o candidato a deputado federal escreveu que sofreu ataques de “bárbaros”. Salles alega que teve o carro atingido por pedras e chutes. O ex-ministro ainda explicou que, mais tarde, falou com o motociclista.
“Horda de bárbaros atacou nossa comitiva ontem. Jogaram pedras, chutaram carro e quebraram para-brisa. Na confusão, um dos carros derrubou uma moto quase parada. Falamos mais à frente com o rapaz, que nada sofreu. E a moto, nada de grave. Turma [de] “maconheiros pró-democracia”, escreveu o ex-ministro em rede social.
“MACONHEIROS PRÓ-DEMOCRACIA”
Há no final deste tuíte do candidato, mensagem nada cifrada. Trata-se, pois, de explícita manifestação contra o regime político democrático, que vigora no Brasil. A expressão não está descontextualizada e foi escrita de maneira displicente.
O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, é um “filhote da ditadura” militar (1964-1985). E os seguidores dessa liderança nefasta que é Bolsonaro são saudosistas do regime militar, antidemocrático, que vigorou no Brasil por 21 anos. E gostariam de uma ditadura para fazer o que bem entenderem e agredirem quem quiser. Além de obter privilégios para meia dúzia de apaniguados.
Não é à toa, que Bolsonaro dedicou parte expressiva dos sete mandatos de deputado federal a exaltar a ditadura militar. Ele comemorava publicamente o aniversário do golpe militar, quando era deputado federal.
EXALTAÇÃO À DITADURA E AO GOLPE DE 64
O governo Bolsonaro, pelo quarto ano seguido, usou o 31 de março, data do golpe de 1964, para defender o regime militar, que fechou o Congresso, acabou com as eleições diretas para cargos majoritários, censurou a imprensa, torturou e matou opositores e até quem não era opositor tanto assim, mas desagradava à ditadura.
Neste ano, o Ministério da Defesa afirmou em ordem do dia — texto para ser lido para a tropa —, que o golpe foi “marco histórico da evolução política brasileira”, e que a história “não pode ser reescrita, em mero ato de revisionismo, sem a devida contextualização”, citando o medo de que uma miragem de “regime totalitário” fosse implantado no País, então governado pelo presidente João Goulart, democraticamente eleito.
A nova ordem do dia descreveu, na ocasião, o regime militar de forma falsamente idílica, como “um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político”. O texto foi assinado pelo então ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, que hoje é candidato a vice na chapa à reeleição de Bolsonaro.
QUEM É RICARDO SALLES
Ricardo de Aquino Salles (PL) é advogado, administrador e agente político brasileiro, ex-secretário de Meio Ambiente do governo do Estado de São Paulo. Foi ministro do Meio Ambiente do governo federal brasileiro.
Candidatou-se a deputado federal por São Paulo em 2006, pelo então PFL (Partido da Frente Liberal), a deputado estadual pelo DEM em 2010 e novamente a deputado federal, desta vez pelo Partido Novo, em 2018. Não foi eleito em nenhuma das vezes.
No ministério, desmontou a estrutura de fiscalização contra o desmatamento e de defesa do meio ambiente. O que resultou nos maiores desmatamentos na Amazônia da história do país. Atuou a favor de madeireiros desmatadores criminosos, segundo denúncia do delegado da Polícia Federal, Alexandre Saraiva. Ver Delegado da PF: “nesse governo, quando o policial trabalha, ministro defende bandidos”
BATE-BOCA
Embora tenha viralizado nas redes sociais, o bate-boca de André Janones e Ricardo Salles nos bastidores do Debate da Band, na noite do último domingo (28), mostra bem quem é Ricardo Salles. Uma espécie de “bate-pau” ou tropa de choque bolsonarista.
As cenas foram grosseiras, com xingamentos, num nível de confronto preocupante.
A avaliação de aliados de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é que o caso pode servir de exemplo para que se acirre o clima de tensão também entre eleitores, o que pode aumentar o risco de violência contra Lula e aliados nas ruas.
M. V.
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