
Copa foi sucesso no futebol e na empatia. É uma verdade autoevidente que as duas maiores potências nucleares do Planeta têm que conversar. O que só maníacos por guerra e Hillary não admitem
Após meses seguidos de demonização da Rússia nos EUA e em certos países da Europa, o imenso sucesso da Copa do Mundo de futebol, a simpatia com que os russos acolheram os visitantes e a beleza do país acabaram por dissolver em grande parte a histeria russófoba. É nesse clima que se realizou nesta segunda-feira (16) a primeira cúpula entre o presidente norte-americano Donald Trump e o presidente russo Vladimir Putin, em Helsinque, capital da Finlândia.
No mundo inteiro, a Rússia foi vista tal como é, e não o espantalho que certa mídia tentou pintar. E a Copa foi amplamente comemorada como uma das melhores já realizadas, da excelência dos estádios à alegria dos torcedores, com toda a segurança.
A cúpula Putin-Trump, que aconteceu no dia seguinte ao encerramento da Copa, tem como principal saldo a retomada das negociações diretas entre as duas maiores potências nucleares do planeta. Uma necessidade autoevidente que só os maníacos por guerra, a mídia intervencionista e a derrotada Hillary não admitem.

A Copa mostrou a Rússia como ela é e ajudou a desmascarar a demonização de parte da mídia
Trump e Putin inicialmente conversaram cara a cara, a sós, durante duas horas, acompanhados apenas dos tradutores. Depois
concederam uma entrevista coletiva, seguida por um “almoço de trabalho” com seus principais assessores. Os dois classificaram as negociações de “produtivas” e um “primeiro passo”. “Nosso relacionamento nunca foi pior do que é agora, mas isso mudou há cerca de quatro horas, eu realmente acredito nisso”, disse Trump.
Se centenas de milhões de pessoas no mundo inteiro viram, por si próprias, a Rússia real, seu povo caloroso, seu progresso e desenvolvimento, isso não quer dizer que o establishment, o complexo industrial-militar, Wall Street e sua predileta, Hillary, hajam desistido da encenação do ‘Russiagate’ e do neo-macartismo do “você conhece, ou conheceu, algum russo?”.
Na véspera da cúpula, os serviços secretos norte-americanos, mais o Departamento de Justiça, indiciaram 12 supostos agentes russos por hackearem o Diretório Nacional Democrata – um caso de ‘timing’ perfeito para sabotar a reunião, uma provocação notória.
Mas o objetivo claro da provocação com os “12 agentes russos” foi criar um pretexto para, depois, alegar que Trump voltou a “trair os EUA” e “preferiu Putin aos serviços secretos ianques”. É que, com um orçamento de guerra de US$ 700 bilhões, mais US$ 75 bilhões só para os serviços secretos, o que não falta no pântano de Washington é gente interessada em manter seus lucros e sinecuras à custa de deixar o mundo à beira do Armagedon.
Enquanto Trump está sob ataque cerrado nos EUA, é malvisto no mundo inteiro por sua xenofobia e grossura e abriu uma guerra comercial contra a China e a União Europeia, o presidente Putin vive seu ‘momento sputnik’, após ter revelado os novos mísseis hipersônicos da Rússia, restaurado o papel essencial de Moscou no Oriente Médio e no mundo e aprofundado os laços com Pequim e os BRICs. Na sua campanha eleitoral, Trump havia feito da normalização com a Rússia a questão central em sua estratégia de contenção da China.
Na coletiva de imprensa conjunta com Trump, o líder russo chamou a “restaurar o nível aceitável de confiança e voltar ao nível anterior de interação”. Acrescentou que “só podemos lidar com os desafios [mundiais] se nos unirmos e trabalharmos juntos”. “Como grandes potências nucleares, temos a responsabilidade especial de manter a segurança internacional”, ressaltou Putin.
O que inclui “a extensão do Tratado de Limitação de Armas Estratégicas Ofensivas, a discussão do sistema global antimíssil americano e os problemas de implementação com o tratado INF. E, claro, a não colocação de armas no espaço”.
Trump, por sua vez, felicitou a Rússia e Putin pela Copa do Mundo, e depois disse que “um diálogo produtivo não é apenas bom para os Estados Unidos e bom para a Rússia, é bom para o mundo inteiro”. “Temos que encontrar formas de cooperar na busca de interesses compartilhados”.
Trump destacou que “nada seria politicamente mais fácil do que se recusar a se encontrar, mas isso não conseguiria nada”. Ele acrescentou que como presidente não podia tomar decisões sobre política externa “em um esforço fútil de apaziguar os críticos partidários, ou a mídia, ou os democratas que não querem fazer nada além de resistir e obstruir”.
DIVERGÊNCIAS
As divergências foram postas claramente sobre a mesa, como quanto à reintegração da Crimeia por referendo pela Rússia, de que Washington discorda. Ou o Acordo Nuclear com o Irã, rompido por Trump. A Rússia manifestou ainda seu apreço pelos avanços na península coreana e propôs que os dois lados colaborem para acelerar o retorno dos refugiados afugentados pela guerra na Síria.
Na coletiva de imprensa, os jornalistas americanos pareciam mais interessados nas fofocas do Russiagate do que na cúpula. Em resposta, Putin pediu que a Rússia deixasse de ser utilizada “como moeda de troca” nas disputas domésticas dos EUA. Ele disse que o povo russo, por causa da posição de Trump de normalizar as relações, preferia que Trump vencesse, mas não houve ingerência. Por meio de um tradutor, Putin disse ao repórter: “devemos nos guiar por fatos. Você pode citar um único fato que definitivamente prove o conluio?”. Numa democracia, lembrou, é um tribunal que se pronuncia sobre fatos, e não ilações ou boatos.
Aproveitando o sucesso da Copa do Mundo da Rússia, Putin presenteou Trump com uma bola de futebol – os EUA vão co-patrocinar a Copa de 2026 -, dizendo: “agora a bola está na sua quadra”. “Isso vai para o meu filho Barron”, respondeu Trump, sorrindo. E a arremessou para sua esposa, Melania, sentada ao lado do secretário de Estado, Mike Pompeo, na primeira fila.
ANTONIO PIMENTA