A Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a quebra do sigilo bancário e fiscal da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Ela é citada em conversas interceptadas nas quais o tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, faz referências a ela. Uma caixa com um presente recebido dos árabes teria “sumido”, na residência da Embaixada do Brasil em Londres.
A PF já havia feito pedido semelhante referente ao próprio Bolsonaro.
Segundo relatório da PF, nas mensagens para discutir se os kits de itens preciosos poderiam ser vendidos, o assessor especial Marcelo Câmara relatou a Mauro Cid sobre o “desparecimento” de objetos.
“As mensagens revelam que, apesar das restrições, possivelmente, outros presentes recebidos pelo ex-Presidente Jair Bolsonaro podem ter sido desviados e vendidos sem respeitar as restrições legais, ressaltando inclusive que ‘sumiu um que foi com a dona Michelle’”, afirma a Polícia Federal (PF).
Na sexta-feira (11), a PF fez uma operação de busca e apreensão contra Mauro Cid e seu pai Mauro Lourena Cid por venda ilegal de joias nos EUA recebidas de presentes por Bolsonaro. Os objetos teriam que ser integrados ao acervo da Presidência, mas não foram registrados.
DEPOIMENTO
A Polícia Federal também pediu tomar o depoimento de Michelle, que deve acontecer na semana que vem. Assim como no caso de Bolsonaro, a decisão sobre as quebras dos sigilos de Michelle dependerá do ministro Alexandre de Moraes.
A PF já pediu a quebra de sigilo fiscal e bancário de Jair Bolsonaro, apontado como beneficiário do esquema criminoso de venda ilegal de joias do acervo público.
A CONVERSA
Marcelo Câmara, ex-assessor especial de Bolsonaro, conversou com Mauro Cid sobre o que fazer com os pacotes que estavam sendo levados para o exterior para serem vendidos.
“O que já foi, já foi. Mas se esse aqui [pacote de joias] tiver ainda a gente certinho pra não dar problema. Porque já sumiu um que foi com a DONA MICHELLE; então pra não ter problema”, disse Câmara.
Entre os conjuntos de joias dadas de “presente” pela Arábia Saudita estavam colares e outras peças femininas cravejadas com diamantes.
Segundo a PF, na investigação “identificou-se que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-Presidente da República”, mas sem usar o “sistema bancário formal” para que os crimes não fossem mais facilmente rastreados. O valor total das vendas ilegais pode ter chegado a R$ 1 milhão.
Todo presente de alto valor que é dado para o presidente da República deve, obrigatoriamente, ser incorporado ao acervo público da Presidência.
De forma ilegal, Jair Bolsonaro se apropriou dos presentes dados pela Arábia Saudita, Bahrein e outros países.
Quando viajou para os Estados Unidos, em dezembro de 2022, o ex-presidente levou no avião presidencial as joias para que fossem vendidas, através de Mauro Cid e outros assessores, em lojas especializadas em pedras preciosas.
Em alguns casos, os aliados de Jair Bolsonaro tiveram que se apressar para conseguir “recomprar” as joias que venderam porque o Tribunal de Contas da União (TCU) tinha determinado que elas fossem devolvidas ao Estado brasileiro.
Alguns dos objetos desviados por Jair Bolsonaro foram encontrados pelos investigadores em lojas online e em leilões.
Em outro momento da conversa, Marcelo Câmara defendeu para Mauro Cid que um kit de joias da marca de luxo Chopard, que não foi vendido, fosse guardado. “E aí depois tenta vender em uma próxima oportunidade”, falou.
A PF também obteve conversas de Mauro Cid que indicam que Jair Bolsonaro recebeu US$ 25 mil, equivalente a R$ 125 mil, em mãos quando foi a Miami. O dinheiro estava com o pai de Mauro Cid, o general Mauro Lourena Cid.
Outro pacote que foi dado de presente pela Arábia Saudita, contendo uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe (“masbaha”) e um relógio – tudo da Chopard -, e que foi trazido para o Brasil pelo ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, também foi levado por Bolsonaro para os EUA.
“Após ser desviado, de forma ilegal, do acervo privado do ex-Presidente da República JAIR BOLSONARO, em novembro de 2022, foi evadido do país, possivelmente, por meio do avião presidencial, no final do mês de dezembro de 2022, para os Estados Unidos da América”.
O kit chegou a ir a leilão, mas o negócio não foi concretizado.
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