
Em sua mais recente genuflexão ao governo dos EUA, o presidente do Equador, Lenin Moreno, declarou que o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, terá de sair da Embaixada equatoriana em Londres. Mas será “quando queira”. Segundo o mais novo vassalo de Washington, “não é viável para o cumprimento dos direitos humanos” que uma pessoa “passe tanto tempo” detido numa embaixada.
Como se ficar confinado em um prédio durante mais de cinco anos não fosse a única opção dada ao ativista australiano para não ser extraditado aos EUA, onde está ameaçado de ser condenado à morte. Com extrema coragem, Assange tornou públicas, em 2010, informações sigilosas de crimes de guerra cometidos pelo governo estadunidense e documentos secretos que revelam práticas ilegais – assassinatos, torturas e espionagem – e de ingerência ianque em vários países.
“Nos pusemos em contato com o advogado de Assange para chegar a algum acordo, no que deve prevalecer a sua vida e as normas internacionais”, assinalou cinicamente o fantoche, como se tivesse alguma preocupação real com os direitos da vítima, perseguida e criminalizada por ter divulgado a verdade. Segundo Moreno, “se chegamos a um acordo deste tipo, estamos encantados de solicitar ao senhor Assange que abandone a Embaixada e se submeta a um julgamento que lhe corresponde”. Não basta ser serviçal, precisa ficar encantado em se submeter ao jogo sujo.
Entregar o fundador do WikiLeaks aos mesmos criminosos que denunciou, segundo o bajulador equatoriano, seria uma forma de abrir caminho à Justiça. “Nunca estive de acordo com as atividades que realiza o senhor Assange, nunca estive de acordo com intervenções em mensagens privadas de pessoas para obter informação, por mais valiosa que seja para revelar certos atos indesejáveis de governos ou pessoas”, destacou Moreno. Na opinião de Moreno, “existem formas corretas e legais de fazê-lo”.
Como se desconhecesse que quem cometeu não um, mas vários e gravíssimos crimes pelo mundo afora, foi o governo dos EUA e não quem os denunciou, com fartura de provas e documentos.
Apesar de nunca ter sido acusado e muito menos condenado por qualquer crime, Assange permanece asilado na embaixada do Equador em Londres, desde 2012 para se proteger de uma farsa orquestrada por Washington, em conluio com a Inglaterra e a Suécia, para calar sua potente voz. Ainda que as autoridades suecas tenham recuado da acusação de abuso sexual – as moças utilizadas inicialmente na acusação recuaram, e o “crime” prescreveu -, Londres manteve em alto a perseguição, alegando que ele faltou a uma audiência no país e recusou qualquer compromisso para não extraditá-lo aos EUA.
Conforme afirmou o documentarista australiano, John Pilger, o único crime de Assange foi expor como ninguém os crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão. “Em toda a minha vida, nenhum jornalismo investigativo pode se igualar à importância do que o WikiLeaks fez ao convocar o poder para prestar contas”, sintetizou.
L.W. S.