A casa de Bolsonaro literalmente caiu com a divulgação do vídeo dos golpistas de 5 de julho de 2022. Sem ter como se explicar, ele resolveu afrontar o Supremo Tribunal Federal (STF) e convocar seus comparsas e suas milícias para tumultuar a Avenida Paulista no dia 25 de fevereiro
Jair Bolsonaro foi flagrado numa reunião com comparsas tramando um golpe de Estado que seria seguido pela prisão de ministros do Supremo e líderes políticos. Até agora não se sabe ao certo o que ele realmente pretendia ao mandar o seu “faz-tudo”, o coronel Mauro Cid, gravar suas falas na reunião. Ele disse que mandou Cid gravar só as manifestações dele, que já são altamente incriminadoras de cometimento de crime, mas o funcionário gravou todos os golpistas presentes. Ministros e assessores abriram toda a trama.
VAMOS ESPERAR O QUÊ?
“Alguém acredita em Fachin, Barroso e Alexandre de Moraes? Se acreditar, levanta braço. Acredita que são pessoas isentas, que tão preocupadas em fazer justiça, seguir a Constituição?”, indagou o golpista, dando a entender que as Forças Armadas poderiam agir. “Eles erraram [ao incluir as Forças Armadas]. Para nós, foi excelente. Eles se esqueceram que sou o chefe supremo das Forças Armadas?”, afirmou Bolsonaro.
“Alguém tem dúvida do que vai acontecer no dia 2 de outubro? Qual resultado que vai estar às 22h na televisão? Alguém tem dúvida disso? Aí a gente vai ter que entrar com um recurso no Supremo Tribunal Federal… Vai pra puta que o pariu, porra. Ninguém quer virar a mesa, ninguém quer dar o golpe… Ninguém quer botar a tropa na rua, fechar isso, fechar aquilo… Nós estamos vendo o que está acontecendo. Vamos esperar o quê?”, prosseguiu o chefe dos golpistas.
ATO CONTRA O STF
A casa de Bolsonaro literalmente caiu com a divulgação do vídeo. Sem ter como se explicar, ele resolveu afrontar o Supremo Tribunal Federal (STF) e convocar seus comparsas e suas milícias para um tumulto na Avenida Paulista no próximo dia 25. Bolsonaro disse que é para se defender de “todas as acusações que têm sido feitas a mim nos últimos meses”, mas, o ato tem o claro objetivo de afrontar a Justiça, atacar o STF e tentar obstruir as investigações da trama golpista.
Assista a reunião dos golpistas
O cerco já havia começado a se fechar contra ele e seus comparsas na operação de busca e apreensão na casa de praia em Angra dos Reis, na semana anterior ao carnaval. Ele e seus filhos conseguiram fugir de lancha do local assim que souberam da operação. Acredita-se que eles aproveitaram a fuga para esconder celulares e computadores.
CERCO SE FECHANDO
Depois de um tempo, uma parte deles voltou à casa e foram autuados pela PF. O filho “zero dois”, criador do bunker de provocações instalado no Palácio do Planalto, teve seus pertences levados pela Polícia Federal. A apreensão na casa de Mauro Cid do vídeo da reunião dos conspiradores com todos os detalhes da reunião ocorrida em julho de 2022, acabou de fechar o quebra-cabeças do golpe arquitetado por Bolsonaro.
A PF aponta que Bolsonaro recebeu de Filipe Martins, então assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, um documento que detalhava considerações a respeito de supostas interferências do Poder Judiciário no Executivo. Era uma minuta do golpe.
Ao final do documento, a minuta decretava a prisão de autoridades, como os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Martins foi um dos presos na operação da última quinta-feira (7). Bolsonaro analisou a minuta, mudou alguns tópicos do documento e manteve a prisão de Alexandre de Moraes.
PROVAS PRODUZIDAS POR ELES MESMOS
Com o vídeo, os próprios investigados produziram provas contundentes contra eles mesmos. A Polícia Federal encontrou a gravação com todos os detalhes da reunião escondida na casa de Mauro Cid. Sem ter o que dizer sobre o “golpe antes das eleições”, defendido por ele, Bolsonaro resolveu afrontar o Supremo Tribunal Federal (STF) e convocar os mesmos comparsas que riam dar o golpe para tumultuarem a Avenida Paulista junto com ele no próximo dia 25 de fevereiro. A ideia do ato, segundo o site Metrópoles, teria partido do “mercador da fé”, ou melhor, do pastor Silas Malafaia, apoiador de tudo o que Bolsonaro diz e faz e dono da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
Deputados alvos de operações da Polícia Federal, exatamente por também pregarem e trabalharem pelo golpe, estão usando suas redes sociais para aderir à manifestação convocada por Bolsonaro para atrapalhar as investigações. O “ato” é alegado como sendo uma tentativa de “defesa” do golpista confesso, mas o que ele está pretendendo na Paulista é atacar o STF, que autorizou a operação da Polícia Federal.
O espião Alexandre Ramagem, acusado de montar um esquema de monitoramento ilegal na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro, declarou total apoio ao ato. Carlos Jordy, que foi alvo de buscas da Operação Lesa Pátria, que investiga pessoas que planejaram, financiaram e incitaram os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, também está convocando a encenação de Bolsonaro na Paulista.