Resposta do Irã a atentado de Netanyahu acertou base aérea israelense

Mísseis iranianos atingiram base aérea de Israel (Imagem de vídeo divulgada por Times of Israel)

Força da ocupação israelense admite que base aérea no Neguev foi atingida por mísseis lançados por Teerã

Resposta precisa do Irã à provocação terrorista de Netanyahu contra embaixada evita tirar de foco o genocídio, a exigência mundial pelo cessar-fogo e da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Reação foi “limitada e em legítima defesa” e visou exclusivamente alvos militares, entre eles uma base aérea no sul do Negev e um centro de inteligência, sublinhou Teerã.

Exercendo o direito de defesa estabelecido pelo artigo 51 da Carta da ONU, o Irã respondeu ao bombardeio de Netanyahu contra a embaixada iraniana na capital síria, desencadeando na noite de sábado para domingo um ataque contra alvos militares israelenses com 300 drones, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos, explicitando a vulnerabilidade de Israel, cujo mito de “superioridade” já saíra bastante arranhado pela ‘Ofensiva do Tet’ palestina de 7 de outubro e antes com a guerra do Yom Kipur em 1973.

Em especial, segundo as fontes iranianas, foram atingidas a base aérea de Nevatim no coração do deserto de Negev de onde decolaram os aviões que cometeram o criminoso bombardeio da embaixada, e um centro de inteligência na fronteira síria-israelense que forneceu dados para a agressão.

Segundo o jornal The New York Times , que citou autoridades israelenses, o Irã disparou 185 drones, 36 mísseis de cruzeiro e 110 mísseis superfície-superfície contra Israel. Nenhuma cidade ou assentamento israelense foi alvo de ataques iranianos. Não houve vítimas fatais.

O ataque demonstrou que o Irã pode, com uma única ação, ameaçar qualquer canto de Israel.

A sobriedade da resposta iraniana – que só usou uma pequena parte dos recursos de que dispõe – e seu fundamento na Carta da ONU expõe ainda mais o fracasso da tentativa de Netanyahu de usar a provocação contra embaixada para ampliar a guerra, na busca de se manter no poder a qualquer preço, e abafar a repulsa causada pelo genocídio em Gaza e por sua recusa em fechar acordo de troca de presos e dar fim ao progrom no enclave palestino. Há também, como sabem todos os israelenses, a previsão de sua queda e ida à cadeia sob diversos processos por corrupção já documentados e testemunhados.

Perpetrada em 1º de abril, a provocação buscou desviar a atenção do genocídio que o regime Netanuahu vem cometendo em Gaza contra os palestinos, que já levou Israel para o banco dos réus na Corte Internacional de Justiça e que indigna o mundo inteiro, para tentar levar o foco para a suposta “ameaça a Israel” vinda do Irã.

E, claro, tapear a população israelense, boa parte dela de volta às ruas exigindo sua renúncia e um acordo imediato de troca de presos que traga de volta os israelenses cativos em Gaza, o que pressupõe o cessar-fogo.

No ataque que viola a Convenção de Viena e as Convenções de Genebra, o regime Netanyahu matou sete pessoas que estavam na instalação diplomática, inclusive dois altos conselheiros militares iranianos na Síria.

ARTIGO 51

Em seu comunicado à ONU, o Irã registrou estar exercendo seu direito inerente à autodefesa, conforme estabelecido no Artigo 51 da Carta das Nações Unidas, em resposta às agressões militares recorrentes de Israel. E que essa resposta não teria sido necessária se o Conselho de Segurança da ONU houvesse condenado o ataque israelense como determina o direito internacional, ao invés de ser leniente com a ultrapassagem por Israel de todos os limites e princípios fundamentais da lei internacional.

Também deixou claro que, ao invés de agressão indiscriminada, como Israel faz em Gaza ou contra a embaixada iraniana, a resposta de Teerã só visou alvos militares e não atingiu nenhuma cidade ou assentamento.

O Irã também deixou claro que, se não houvesse uma retaliação adicional de Israel, a questão estaria encerrada.

DETER A ESCALADA

Nas horas que se seguiram ao ataque, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, China e Rússia conclamaram à “contenção” para evitar uma escalada na guerra que engolfaria todo o Oriente Médio, e foco no cessar-fogo em Gaza e na entrada da ajuda humanitária.

De acordo com relatos da CNN e do Wall Street Journal, em comunicação telefônica ainda na noite de sábado, o presidente norte-americano Joe Biden disse a Netanyahu que os Estados Unidos não participariam de nenhuma contra-ofensiva israelense contra o Irã.

Neste domingo o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, disse ao programa “This Week” da ABC que os EUA continuarão a ajudar Israel a se “defender”, mas não querem a guerra com o Irã. “Não buscamos o aumento das tensões na região. Não buscamos um conflito mais amplo”, enfatizou, se descomprometendo com uma revanche como quer Netanyahu. Embora Biden haja convocado o G7, para expor sua cumplicidade com os crimes de guerra de Israel.

IRÃ NOTIFICOU VIZINHOS

Neste domingo, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amirabdollahian, ao se reunir com embaixadores em Teerã, afirmou que seu país não quer uma “escalada de tensões” e que notificou seus vizinhos três dias antes do ataque contra Israel.

“Cerca de 72 horas antes da operação, informamos aos nossos queridos vizinhos e aos países da região que a resposta da República Islâmica do Irã na forma de defesa legítima é definitiva e inegável”, afirmou.

“Anunciamos à Casa Branca em uma mensagem esta manhã que nossas operações serão limitadas e mínimas, com o objetivo de defesa legítima e punição do regime israelense”, acrescentou.

“CONSIDERAVELMENTE MAIS SEVERA”

Por sua vez, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas iranianas, major-general Mohammad Bagheri, Teerã alcançou os objetivos pretendidos, apesar da assistência a Israel por aviões dos EUA que operam no espaço aéreo do Iraque e da Jordânia.

Ele advertiu que se Israel continuar tomando medidas contra o Irã em seu território ou em outro lugar, a próxima resposta “será consideravelmente mais severa”.

Bagheri também deixou uma mensagem aos EUA, notando que, se Washington continuar incentivando e facilitando os crimes de Israel, as bases norte-americanas no Oriente Médio e seu pessoal “não estarão seguros”.

BARRAR A BARBÁRIE EM RAFAH

À Al Jazeera, um ex-diplomata israelense, Alon Liel, sugeriu que o “enorme êxito” – segundo ele – do sistema de defesa israelense Domo de Ferro, ao possibilitar a Netanyahu ter “algo de positivo em seu histórico”, pode “ajudar a terminar a guerra em Gaza”. 

“Acho que devemos trazer os reféns de volta e devemos terminar a guerra em Gaza”, ele anteviu. “Voltar para Rafah vai abrir tudo de novo e complicar ainda mais a situação. Muito difícil para Israel fazê-lo sem o apoio americano. Não consigo imaginar que façamos um grande movimento militar agora sem coordenar totalmente com os americanos”.

Em suma, como dizem os americanos: declare vitória e bata em retirada – o difícil é Netanyahu topar.

Por sua vez, o jornalista e escritor israelense Gideon Levy disse à Al Jazeera que se Israel revidar contra o Irã, então “estaremos enfrentando uma guerra regional”.

Para ele, Israel terá que seguir o conselho do governo dos EUA de não retaliar após o ataque da noite passada. Netanyahu, disse Levy, não pode atacar o Irã sem o apoio dos EUA e ser “exposto” a um “ataque pior do que na noite passada”.

“Enquanto a lógica prevalecer, o que espero que ainda seja o caso, Israel não tem opção de retaliar e não deve fazê-lo”, disse ele.

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