Abaixo, os principais trechos de matéria do jornal “O Estado de S. Paulo”, na segunda-feira, 22/10, do jornalista Luís Fernando Toledo.
O esquema descrito tem uma característica em comum com aquele denunciado pela “Folha de S. Paulo”, que motivou a ação do PDT pedindo a investigação da campanha do candidato Jair Bolsonaro: é uma empresa – na verdade, duas – que forjava perfis e os organizava para beneficiar o mesmo candidato, sem ligação oficial com a campanha (v. Bolsonaro copia Lula e diz que não tem culpa se pagam sua despesa sem ele saber).
Resta saber quanto essas empresas gastaram com o impulsionamento no Facebook – pois é impossível chegar a tal alcance sem pagar.
Esse gasto, por fora da contabilidade oficial, é completamente ilegal.
C.L.
O Facebook removeu na segunda-feira, 22, um grupo de 68 páginas e 43 contas da rede social que, juntas, formavam a principal e mais influente rede de apoio e difusão de ideias do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro. Segundo a empresa, essas páginas – que pertencem a um mesmo grupo chamado Raposo Fernandes Associados (RFA) – violaram as políticas de autenticidade e spam, ao criar endereços falsos e múltiplas contas com os mesmos nomes para administrar os grupos. O conteúdo compartilhado pelas páginas não teve influência sobre a decisão do Facebook.
Em reportagem publicada no dia 12 passado, o Estado mostrou que o grupo atingiu um alcance tão grande nas redes sociais que superava, em nível de interação no Brasil, a soma dos índices das páginas de famosos. Feita em parceria com a organização internacional de campanhas e mobilização social Avaaz, a reportagem indicou que, num período de apenas 30 dias, os endereços alcançaram 12,6 milhões de interações no Facebook – ou seja, o total de reações a postagens, comentários e compartilhamentos –, ante 1,1 milhão do jogador Neymar e 442,5 mil da cantora americana Madonna.
A empresa que administra o grupo é a Novo Brasil Empreendimentos Digitais Ltda, de propriedade do advogado Ernani Fernandes Barbosa Neto e de Thais Raposo do Amaral Pinto Chaves. As páginas da rede são sempre identificadas com a sigla RFA na descrição. Procurados na segunda-feira, depois do anúncio do Facebook, eles não responderam até a conclusão desta reportagem.
“Autenticidade é algo fundamental para o Facebook porque acreditamos que as pessoas agem com mais responsabilidade quando usam suas identidades reais no mundo online”, diz nota divulgada pelo Facebook. A seguir, a empresa afirma exigir “que as pessoas usem seus nomes reais e também proibimos spam, uma tática geralmente usada por pessoas mal intencionadas para aumentar de maneira artificial a distribuição de conteúdo com o objetivo de conseguir ganhos financeiros”.
Embora se declarasse como independente, a rede administrava endereços como “Apoio a Jair Bolsonaro” e, durante a divulgação dos resultados do primeiro turno, comemorou nas páginas vitórias como as dos candidatos Eduardo Bolsonaro e Janaina Paschoal, ambos do PSL. A RFA também já recebeu recursos no ano passado tanto do PSL, por meio da cota parlamentar do deputado Delegado Francischini, quanto do PRTB – sigla do general Hamilton Mourão, vice na chapa de Bolsonaro – pelo fundo partidário.
O maior puxador de interações da RFA era uma página chamada Movimento Contra Corrupção (MCC), de uma entidade criada por Ernani, Thais e outros membros em 2013, no auge dos protestos de rua contra o aumento da passagem de ônibus e, mais tarde, contra a corrupção generalizada no País. Em abril, o MCC protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de impeachment de todos os 11 ministros, por entender que eles haviam cometido crime de responsabilidade ao decidirem julgar habeas corpus apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato.
Na época, o documento foi protocolado pelo ator Alexandre Frota – filiado ao PSL e recém-eleito deputado federal por São Paulo. A página dele também foi criada pela rede, mas não foi excluída pelo Facebook.