Apesar do clima amistoso na abertura, foi encurtada nesta quinta-feira (28) a segunda cúpula entre Coreia Popular e Estados Unidos, com a desmarcação do almoço entre os líderes Kim Jong Un e Donald Trump e da cerimônia conjunta de assinatura de acordos.
Pela manhã, Kim e Trump se reuniram a sós por 30 minutos e depois ocorreu a reunião ampliada com as respectivas equipes, em que ficou patente o desacordo. Kim Jong Un permanecerá em visita oficial ao Vietnã nesta sexta-feira e no sábado.
Na coletiva à imprensa, antecipada para as 14 h (horário local), o presidente Donald Trump afirmou que o motivo para a falta de um acordo foi que “basicamente, eles queriam as sanções levantadas na totalidade (em troca do desmantelamento do centro nuclear de Yongbyon) e nós não estávamos dispostos a fazer isso”. Mais tarde, o ministro das Relações Exteriores norte-coreano corrigiu a declaração de Trump e restabeleceu os fatos: o proposto na reunião em Hanói foi a revogação de apenas cinco sanções, para começar.
Embora apontando a reunião com Kim como um tempo “realmente produtivo”, Trump disse que ambos acordaram que “não eram um bom momento para assinar nada”. Às vezes “você tem que se ir”, asseverou Trump, depois de descrever sua relação com o líder coreano como “muito forte”.
Antes da cúpula de Hanói havia expectativas sobre o anúncio de abertura mútua de escritórios de representação, de avanços quanto a uma declaração política sobre o fim da guerra, em estado de armistício desde 1953 e de abrandamento das drásticas sanções. Não aceitar no mínimo o abrandamento das sanções, como vêm pedindo Rússia e China no Conselho de Segurança da ONU, significa que os círculos mais belicistas de Washington seguem querendo dobrar a Coreia Popular pela fome.
Trump descreveu aos jornalistas as discussões entre as duas partes como “amigáveis” – embora não seja exatamente o que a foto do jornal sul-coreano Hankyoreh mostra – e garantiu que o “relacionamento” entre os EUA e a Coreia do Norte e respectivos líderes irá “se manter”. “Eu confio nele e na sua palavra”, afirmou Trump ao ser questionado sobre os compromissos alcançados na cúpula de Singapura.
O presidente norte-americano acrescentou, quanto à desnuclearização, que Kim “tem uma certa concepção, que não é exatamente a nossa concepção, mas está mais próxima do que há um ano”. “Ele [Kim] quer desnuclearizar, mas quer fazer em áreas que são menos importantes do que o que queremos”.
Conforme Trump, o compromisso sobre a suspensão de testes nucleares e de mísseis está mantido, enquanto a suspensão de manobras militares no sul segue em vigor por razões de “economia”. Trump se disse, ainda, desejoso de “levantar as sanções” e que a Coreia do Norte “tem um enorme potencial de crescimento”.
O presidente norte-americano acrescentou que “poderia ter assinado algo hoje”, mas “é melhor fazer bem do que rápido”. Antes da segunda cúpula, Trump já apontara que ficaria satisfeito com a preservação da atual troca de suspensão de manobras pela suspensão de testes em encontro com governadores republicanos.
Trump não antecipou qualquer desdobramento do processo de negociações. “Pode ser em breve, ou pode demorar. Eu espero que seja em breve, mas pode demorar algum tempo”. “Um acordo deveria ter sido alcançado por presidentes antes de mim. Não estou apenas culpando o governo Obama, (…) estou culpando vários governos”, assinalou.
Nas negociações, Trump estava acompanhado pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, e pelo chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney. A delegação de Kim Jong Un incluía Kim Yong Chol, negociador-chave nas conversações com Washington, e o chanceler Ri Yong Ho.
Na segunda-feira, porta-voz do governo sul-coreano havia manifestado que “certamente há uma possibilidade de que uma declaração de fim de guerra possa ser acordada entre a Coreia do Norte e os EUA”. A ocupação do sul da península coreana pelas tropas dos EUA data do final da II Guerra Mundial, o que dividiu a milenar nação no momento em que se libertava da anexação pelo Japão imperial. Desde que a ex-presidente virou presidiária por corrupção, e o novo governo a favor da reconciliação intercoreana assumiu, essas relações têm avançado a passos largos.
Corroborando as explicações de Trump, seu secretário de Estado, declarou que a Coreia do Norte estava “despreparada” para atender às exigências dos EUA. “Mas ainda estou otimista”, acrescentou, asseverando que as negociações levarão tempo e continuarão nos “dias e nas próximas semanas”.