
Em agosto deste ano, foram registrados 31 mil focos de incêndio no bioma Amazônia, segundo dados divulgados neste domingo, dia 1° de setembro, pelo Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Esse é o maior número registrado para o mês desde 2010, quando houve 45.018 focos.
Os dados mostraram ainda que, em relação ao mesmo mês do ano passado, os focos de incêndio triplicaram. Em agosto de 2018, foram registrados 10.421 incêndios. Entre janeiro e agosto deste ano, foram registrados ao todo 46.825 focos de incêndio na Amazônia. Esse número é mais do que o dobro observado no mesmo período do ano passado, 22.165.
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Os números dizem respeito a todo bioma amazônico brasileiro e foram coletados com base no sistema de satélites do INPE. O aumento registrado em agosto bateu o recorde de desmatamento desde 2010.
O total de focos superou em 20% a média histórica de queimadas para os meses de agosto, que era de 25 mil. A medição média ocorre desde 1998, mas a partir de 2011 o país vinha seguindo uma tendência de registros abaixo da média histórica.
De janeiro a agosto de 2019, foram registradas 46.825 queimadas na região amazônica. No mesmo período de 2018, foram 22.165 focos ativos na região, o que equivale a um crescimento de 111%.
O Pará foi o estado com mais queimadas registradas, com 10.185 focos. A cidade paraense de Altamira liderou o ranking dos municípios, com 2.932 casos no ano.
Segundo especialistas, as queimadas na Amazônia são a parte final do processo de desmatamento. A maioria das áreas são preparadas após os incêndios para pastos. Nos últimos 12 meses, as cicatrizes de queimadas responderam por 32% de toda área desmatada ou degradada da Amazônia.
DESMATAMENTO
O desmatamento na Amazônia em julho deste ano chegou a 2.254,8 km². Isso representa um aumento de 278% em relação a julho de 2018 (596,6 km²), segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), através do monitoramento em tempo real, feito pelo Sistema Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real).
Essa área desmatada em um único mês (2.254,8 km²) é 1/3 da área desmatada nos últimos 12 meses (agosto de 2018-julho de 2019).
O crescimento na derrubada de florestas fornece o combustível necessário para os incêndios. “O número de queimadas representa o número do desmatamento na Amazônia. A floresta é úmida, e por isso não tem a característica de autocombustão. Só pega fogo a área que está seca, ou seja, nas regiões nas quais as árvores foram cortadas e deixadas para secar”, afirmou o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam) Carlos Bocuhy.
Para ele, apesar da pressão internacional e do anúncio de medidas como o decreto que proíbe as queimadas na Amazônia, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) na semana passada, até o momento não é possível avaliar o impacto dessas ações.
“Ainda não consegui fazer uma avaliação para dizer se a estratégia adotada pelo governo é suficiente para diminuir os focos de incêndio. A tendência é que, diante da inação, a quantidade de focos aumente, porque há áreas que já foram desmatadas e precisam ser ‘limpas’, e setembro não será um mês isolado, mas um concatenamento de tudo o que aconteceu antes”, afirmou.
DECRETO
No dia em que Bolsonaro publicou no Diário Oficial da União o decreto que proibia queimadas no país por 60 dias, os incêndios na região da Amazônia mais que dobraram, aumentando 106%.
Bolsonaro reviu termos do decreto, retirou a parte que falava de todo país, mas manteve a proibição das queimadas na Amazônia Legal.
Segundo apurou o Greenpeace, que utilizou dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), “no dia 28 de agosto, foram 607 focos de calor na Amazônia”.
Bolsonaro publicou o decreto na manhã de quinta-feira (29), quando as queimadas dispararam em comparação com o dia anterior. “No dia 28 de agosto, foram 607 focos de calor na Amazônia”, informou um dos responsáveis pelo levantamento, o agrônomo Danicley Aguiar, membro da Campanha da Amazônia do Greenpeace.
“Já no dia 29, foram 1.255, um aumento de 106%, mesmo após o Decreto 9. 992/2019, anunciado no dia 28 e publicado no dia seguinte”, afirmou Aguiar. A maior parte do fogo consumiu a floresta no Pará: 587 focos de calor. O estado foi seguido por Mato Grosso (371), Amazonas (209), Rondônia (67), Acre (18), Tocantins (2) e Roraima (1). Altamira (PA) foi o município campeão de focos, com 137 ocorrências.
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