“Povos e países clamam por voz e igualdade nas relações internacionais. Clamam por tolerância e pelo fim da pilhagem e da violência”
O professor Elias Jabbour, um estudioso da China e uma das maiores autoridades brasileiras no assunto, nos brinda neste momento com um artigo analisando as iniciativas do gigante asiático no sentido da construção de um mundo mais harmonioso, mais justo e com menos conflitos.
Ele aponta que o chamado fim da globalização é, na verdade, o fim da exploração dos países da periferia pelos centros hegemônicos mundiais. “O que está chegando ao fim é uma forma não inclusiva de globalização. Uma globalização voltada aos interesses de um único país, que patrocinou uma chamada ‘globalização financeira’, e que em nenhum momento atendeu aos interesses dos povos da periferia do sistema”, diz o autor. Confira o artigo na íntegra!
A CHINA E A CONSTRUÇÃO DE UMA COMUNIDADE DE INTERCÂMBIO CULTURAL
ELIAS JABBOUR
Desde o início do processo de financeirização da economia internacional e, no início da década de 1990, o fim das primeiras experiências socialistas, o mundo tornou-se cada mais instável com crises financeiras recorrentes que trazem consigo um imenso rastro de destruição em todos os aspectos. A pobreza, a concentração de renda e a falta de esperança de populações inteiras no futuro têm aberto condições a um mundo cada vez mais intolerante e onde ideologias de extrema-direita, em sua maioria nascidas e desenvolvidas nos Estado Unidos e exportadas ao mundo, ganham terreno. Por exemplo, nos Estados Unidos o racismo praticado dentro do país se transforma em política de Estado quando este país age fora de seu território. O fascismo, o neocolonialismo e o imperialismo estão, mais do que nunca, presentes no horizonte internacional.
Muitos analistas anunciaram o “fim da globalização”. Não acreditamos nisso. O que está chegando ao fim é uma forma não inclusiva de globalização. Uma globalização voltada aos interesses de um único país, que patrocinou uma chamada “globalização financeira”, e que em nenhum momento atendeu aos interesses dos povos da periferia do sistema. Esta globalização está em seu fim. Um fim melancólico com a potência hegemônica do mundo patrocinando guerras e intolerância por toda parte. Por outro lado, a República Popular da China com a Iniciativa Cinturão e Rota e a decisão firme de construir uma “comunidade de destino compartilhado” oferece ao mundo uma outra globalização: inclusiva, tolerante, pacifista e que gere valor e riqueza material a todos os países envolvidos nos projetos do Cinturão e Rota.
Mas esta iniciativa não se encerra somente na construção de grandes obras de infraestruturas. Enquanto alguns países estavam buscando politizar a questão da pandemia, a China foi pioneira no lançamento do Cinturão e Rota para a Saúde. Outras iniciativas com o mesmo espírito inclusivo têm sido diariamente debatidas entre autoridades chinesas e estrangeiras. Porém, a que nos tem chamado muito a atenção é a chamada “construção de uma comunidade de intercâmbio cultural”. Esta iniciativa chinesa leva em consideração que os grandes desafios que enfrenta hoje a humanidade não passam somente por maior integração econômica entre os países ou cooperação em áreas-chave no setor de ciência, tecnologia e inovação. Existe uma questão nodal que é a necessidade da construção de uma outra subjetividade no mundo que também acompanhe a superação da “globalização financeira” proposta pelos EUA cujos resultados estão aí: guerras, fome, desemprego, racismo, fascismo, intolerância.
Essa iniciativa chinesa de construir uma comunidade de intercâmbio cultural é parte da necessidade de se construir um ambiente onde as diferentes formas de pensar e de sistemas políticos ou mesmo de ideologia deixem de ser obstáculos para a construção de um mundo melhor. Ao contrário, das grandes diferenças e do diálogo podem se encontrar soluções a um grande problema que afeta a humanidade: a falta de confiança entre os diferentes países e diferentes povos e civilizações. Todos nós sabemos que a época em que um único país ou o que chamam de “Ocidente” podiam ditar as regras para o restante do mundo e usar as diferenças entre povos e países como forma de atingir seus próprios interesses. Grandes parcelas da humanidade que inclui países como a China, Índia, Rússia, Brasil, República Islâmica do Irã e parcelas significantes da América Latina e Ásia já perceberam que juntos e exercitando a tolerância mútua o mundo poderá atingir um outro patamar de convivência e tolerância.
Devemos louvar e levar às últimas consequências esta iniciativa chinesa de construção de uma comunidade de intercâmbio cultural. Por exemplo, em um país como o Brasil são várias as iniciativas neste sentido. Desde a promoção de viagens de grandes delegações de estudantes, professores, jornalistas e profissionais de diversas áreas de atuação até a ação do Instituto Confúcio. Este instituto não pode ser visto somente como um meio de divulgar a língua e a cultura chinesas. É um instrumento efetivo de difusão de cultura de paz e tolerância. A base material do mundo mudou significativamente nas últimas quatro décadas. Povos e países clamam por voz e igualdade nas relações internacionais. Clamam por tolerância e pelo fim da pilhagem e da violência. Repetimos: devemos ir às últimas consequências no sentido de apoiar essa iniciativa de construção de uma comunidade de intercâmbio cultural.
Elias Jabbour é professor associado da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ganhador do Special Book Award of China 2022. Artigo produzido em colaboração com a Rádio Internacional da China.