
“Esta situação do Ceará, minha gente, é uma luz amarela poderosa a mostrar o que acontece quando o presidente da República alimenta motins contra a legalidade”, observou o governador do Maranhão
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirmou na terça-feira (03), em palestra realizada no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, que o Brasil vive um momento desafiador e que é necessário achar os caminhos para tirar o país dessa gravíssima crise que assola o povo brasileiro. O auditório do Palácio do Trabalhador, na Liberdade, região central de São Paulo, estava lotado para ouvir o governador maranhense.
“Em primeiro lugar, tenhamos clareza, tenhamos nitidez na compreensão de que, sim, a democracia plena no Brasil vive uma ameaça”, avaliou o governador. “É preciso enxergar isso em toda a sua dimensão para não minimizar a gravidade deste quadro. Nós temos a tentativa de uma união de corpos armados, militares e milicianos sob autonomia e sem controle, inclusive dos governadores dos Estados”, denunciou Flávio Dino.
HOUVE TENTATIVA DE FOMENTAR MOTINS
Ele chamou a atenção para os acontecimentos recentes que põem em risco a democracia. “Esta situação do Ceará, minha gente, é uma luz amarela poderosa a mostrar o que acontece quando o presidente da República alimenta motins contra a legalidade”, observou.
“A palavra presidencial tem poder. É a mais alta autoridade do país. E com isso o que ele diz, reverbera, muitas vezes vira realidade. Nós vimos isso no Ceará. Lá, infelizmente, houve uma tentativa de fomentar isto. E também em vários Estados brasileiros. Vejam a situação do Rio de Janeiro. Veja a situação desse senhor Adriano que acabou morrendo na Bahia”, acrescentou.

“Como nós chegamos nessa situação?”, indagou Dino. “Se nós olharmos o Brasil dos anos setenta, nós vemos que conseguimos avançar. Tínhamos uma ditadura no país, que inclusive impedia a livre organização sindical, a liberdade de expressão do povo. Com a luta democrática, nós conseguimos fazer uma aliança ampla que conduziu o Brasil à superação daquele momento e conquistamos algumas décadas em que nós tínhamos democracia plena, tínhamos uma certa estabilidade econômica, diminuição do desemprego, políticas de inclusão social”, destacou.
MUITA COISA SE PERDEU
“Muitos que aqui estão acompanharam isso. O deputado Orlando e outros. O que aconteceu amigos e amigas, nos últimos anos? Aparentemente tudo aquilo que nós levamos algumas décadas para construir muito duramente se perdeu. Nós tivemos passos atrás nessas grandes conquistas a que fiz alusão”, afirmou o governador.
“O que é esta situação do Rio de Janeiro, minha gente? A situação do Rio de Janeiro aconteceu e acontece exatamente porque uma parte de segmentos policiais passou a cumprir a sua própria lei. E a lei tem que ser para todos. Principalmente se você anda com arma na cintura”, explicou.
“O presidente da República, portanto, estimula ataques contra as instituições da democracia não pelos seus defeitos mas pelas suas virtudes”, alertou.
“Claro que o Congresso Nacional tem muitos problemas. Está longe de ser o que nós queremos e precisamos. É claro que o Judiciário, que eu conheço tão bem por dentro, por ter sido Juiz por 12 anos, também tem inúmeros problemas. Quanto os trabalhadores e trabalhadoras esperam pela Justiça do Trabalho? Mas, o que está em questão não é a correção de rumos e sim a ideia de que o presidente da República deve governar sozinho e só para os seus. Ou seja, ele e sua família, numa hiper concentração de poder jamais vista na vida do país. A democracia portanto corre perigo. Não é motivo de alarmismo, de pânico, mas sim de responsabilidade”, prosseguiu Dino.

TODO MUNDO QUE DEFENDE A DEMOCRACIA É ALIADO
“Tenho feito esse alerta o tempo inteiro e tenho procurado responder a esse desafio com a única forma correta, que é nós termos uma frente ampla de defesa da democracia. Independentemente de alianças eleitorais”, argumentou.
“Ficam me questionando se fulano é aliado, se sicrano é aliado. Amigo, todo mundo que defende a permanência da democracia e das eleições, para essa causa, é aliado. Independentemente da visão que cada um tem sobre outros temas”, destacou Flávio Dino.
O governador disse que a luta em defesa dos sindicatos é a luta em defesa do trabalho. “A estabilidade econômica foi transformada num mecanismo de exclusão dos trabalhadores. A precarização do trabalho é uma bomba social, uma bomba fiscal nesse país. Há uma contradição absoluta entre os que dizem defender a economia e defendem a precarização do trabalho”, disse.
“Quem vai sustentar o INSS? Quem vai pagar as aposentadorias? Se ninguém contribui, não porque não queira, mas porque não pode, com a superexploração do trabalho. O que há é a uberização e a pejotização. Juntam esses dois e quebram o INSS. Se essa economia é assim, algo está muito errado”, denunciou Flávio Dino.
REPRESAR BENEFÍCIOS SOCIAIS É MATAR PESSOAS
Ele denunciou o represamento de benefícios sociais básicos como o Bolsa Família, que está ocorrendo no Nordeste, “mas não só lá”. “O Bolsa Família tem um nome. Comida. Bolsa Família é comida. Negar Bolsa Família é negar comida para as pessoas. Represar milhões de benefícios por causas fiscais para supostamente diminuir o déficit público é matar as pessoas”, denunciou.
“Mulheres engravidam. O bebê nasce e cresce e a mulher não recebeu os seus direitos. Essa é a situação que nós temos. E o crescimento econômico, infelizmente, não vem. Não é o coronavírus é mais o bolsovírus”, ironizou. “Não vai passar de 2% esse ano. E se a economia não cresce pelo menos 3%, ela está andando para trás”, destacou Flávio Dino.
“Eu luto pela igualdade de oportunidade. Tem que haver igualdade de chances. Eu inaugurei uma escola, das 900 que nós inauguramos no Maranhão – no maior programa educacional deste país, só equiparado ao de Leonel Brizola como governador do Rio Grande do Sul e depois do Rio de Janeiro, com quem aprendi à distância. Quando eu inaugurei esta escola, tinha uma menininha de dez anos nesta escola. Essa menininha se encantou aos dez anos porque pela primeira vez ela via um computador”, contou.
“Que chance uma menina dessa vai ter de competir com o filho da classe média, dos mais ricos, que já nasce, sai da barriga da mãe e ganha um tablet e um smartphone? Isso cria uma desigualdade de partida que chega a ser desleal falar em meritocracia. Meritocracia se afere entre iguais. Meritrocracia para desiguais é perversidade”, disse o governador, que defendeu ainda uma reforma tributária justa e a defesa do movimento sindical.
“Defender o movimento sindical é apoiar a luta dos trabalhadores por melhores salários. É uma luta contra a superexploração”, argumentou Dino.
SÉRGIO CRUZ E PEDRO BIANCO