Tratamento de sintomas leves com coquetel da Roche, aprovado pela agência em regime de urgência, tem custo que chega a R$ 6,5 mil. Vacinas fundamentais para barrar a circulação do vírus, como a Sputnik V, esperam na fila sem data para serem aprovadas
Impressiona a agilidade com que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprova, por unanimidade, o uso emergencial de um coquetel de drogas para combater sintomas leves de Covid-19 que tem um custo de R$ 6,5 mil cada tratamento.
O que chama atenção é que ela faz isso ao mesmo tempo em que leva quase seis meses para analisar a aprovação – também para uso emergencial – de vacinas muito mais baratas, como é o caso da vacina russa Sputnik V. O coquetel da Roche foi aprovado nesta terça-feira (20).
A presteza e a agilidade dispensadas na análise do coquetel de anticorpos monoclonais, que estão em fase experimental nos EUA, deveria ser o modelo de funcionamento da agência para as vacinas.
Não foi assim que ela agiu, por exemplo, no caso da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, em parceria com a chinesa Sinovac. Não fosse a pressão exercida pelo governo de São Paulo, à época, até hoje a Agência estaria cobrando papéis, carimbos e assinaturas ao Instituto de São Paulo, assim como faz agora com a vacina russa e com a empresa brasileira União Química, que assinou contrato de transferência de tecnologia com o Instituto Gamaleya, da Rússia.
Nada contra os anticorpos monoclonais casirivimabe e imdevimabe, duas drogas desenvolvidas pela empresa Roche, que foram usadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e que demonstraram alguns afeitos benéficos na redução de sintomas de casos leves de Covid-19. Essas drogas, contudo, não previnem o surgimento da doença.
A urgência evidente são as vacinas. São elas que conseguirão interromper a circulação do vírus. São elas a arma poderosa para deter a atual pandemia que assola o Brasil e o mundo. Combater sintomas leves é obviamente menos importante numa situação grave como esta que o país está vivendo do que investir rapidamente na aquisição de vacinas.
Então, por que a demora e a má vontade da direção da Anvisa em aprovar a Sputnik V, que é uma vacina que está sendo usada de forma segura em mais de 50 países e que, diferente das outras, está disponível de imediato para o Brasil? Só pode ser o resultado da sabotagem de Jair Bolsonaro e de seus seguidores contra as vacinas. Não foi à toa que ele indicou um negacionista como ele para a direção da Anvisa.
A vacina russa já foi comprada por governadores e até pelo próprio Ministério da Saúde. Só não chegou ainda ao solo brasileiro porque a Anvisa, dirigida por um bolsonarista “obediente ao chefe” como Eduardo Pazuello, sentou nos processos que solicitam o seu uso em caráter emergencial. Numa situação de calamidade como esta, não adianta aprovar drogas sintomáticas nem vacinas que não estão disponíveis para serem entregues a tempo, como foram os casos dessas drogas e das vacinas da Jansen e da Pfizer.
Os governadores de Estado, liderados por Flávio Dino, chefe do Executivo do Maranhão, foram obrigados até a entrar com uma ação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a postergação infinita da Anvisa na análise do pedido de uso emergencial da Sputnik V.
A empresa brasileira União Química, que já está apta a produzir de imediato 10 milhões de doses da vacina russa, também vem denunciando a demora da Anvisa em autorizar a aplicação da Sputnik na população brasileira. Enquanto isso a vacinação segue em ritmo muito lento e as mortes por Covid-19 não param de subir, já atingindo mais de 375 mil pessoas.
Flávio Dino, lembrou recentemente, em entrevista à Globonews, que, tanto a norma técnica da Anvisa – RESOLUÇÃO RDC Nº 475, DE 10 DE MARÇO DE 2021 – quanto a Lei 14.124 determinam que a agência regulatória brasileira tem um prazo máximo de sete dias para se posicionar sobre pedidos de autorização de uso emergencial de vacinas registradas em qualquer um dos onze países onde o órgão regulador é reconhecido internacionalmente.
A Sputnik V já foi registrada na Rússia e na Argentina, dois países elencados na norma interna e na legislação brasileira como possuidores de agências reguladoras reconhecidas internacionalmente. Não há nenhuma justificativa plausível para a protelação da Anvisa em aprovar o uso emergencial da vacina russa no Brasil.
O Instituto Gamaleya, desenvolvedor da Sputnik V já publicou os resultados dos estudos das três fases de seu imunizante na respeitada revista científica Lancet. A vacina apresentou resultados altamente positivos em termos de segurança e eficácia. Cientistas russos concluíram esta semana estudos mostrando que a vacina Sputnik V tem eficácia de 97,6% no “mundo real”. O estudo foi feito em 3,8 milhões de pessoas vacinadas. “Esses dados confirmam que a Sputnik V tem uma das melhores taxas de proteção contra o coronavírus entre todas as vacinas disponíveis”, disse à Agencia Brasil, Kirill Dmitriev, diretor do fundo soberano RDIF que está apoiando o desenvolvimento do imunizante.
Curiosamente, vieram a público, há algumas semanas, documentos revelando que o governo dos Estados Unidos fez forte pressão para que o Brasil não adquirisse a vacina desenvolvida pelo prestigiado Instituto de Pesquisa Gamaleya, da Rússia. O Departamento de Saúde e Serviços Humanos norte-americano (HHS, na sigla em inglês) confirmou que o governo Donald Trump, antes de sua saída do governo, havia pressionado o Brasil para não comprar a vacina russa contra a Covid-19, a Sputnik V, para “deter o aumento da influência maligna” da Rússia na América Latina e no Caribe.
O HHS, o ministério da Saúde dos EUA, admitiu, em item arrolado na página 48 do relatório anual de atividades de 2020, que a vacinação com o imunizante russo seria “em detrimento da segurança nacional dos EUA”. O documento atesta que essas pressões se estenderam a Cuba e, até mesmo, à Venezuela, e que o órgão usado nessa sabotagem foi o Escritório de Adidos de Saúde, (OGA, na sigla em inglês).
O mais escandaloso é que a agência brasileira fez declarações contra as “boas práticas” de produção russa sem ter feito inspeções in loco nas fábricas russas. Só agora está indo fazer as inspeções.
Antes ela estava se baseando em pareceres fornecidos pelo “desinteressado” CDC norte-americano e a EMA, a agência europeia de medicamentos. O primeiro, como nós já vimos acima, é de um governo que já se posicionou politicamente contra a aquisição pelo Brasil da vacina russa, e, a segunda agência, coincidentemente, localiza-se nos países que sediam as principais “big pharmas”, monopólios que não costumam permitir nenhuma concorrência.
SÉRGIO CRUZ
É juntar provas contra está corja, colocar no banco dos réus e proceder com o devido julgamento.