
“Doutor, se eu fico preso ou se for achado eu vou ser morto”.
Mesmo que não tivesse sido cama e mesa dos Bolsonaro em outros carnavais, o dramático telefonema do miliciano Adriano Magalhães a seu advogado, no dia 5 de fevereiro, dá muito o que pensar.
Na década de 1920, o capitão do Exército Ernst Röhm foi nomeado por Adolph Hitler comandante da primeira milícia nazista, denominada Sturmabteilung ou simplesmente SA.
Os camisas pardas, como também eram chamados, foram peça chave na escalada de Hitler, promovendo arruaças, queima de livros, terrorismo e ações variadas de intimidação contra comunistas, social-democratas, liberais, sindicalistas, artistas, intelectuais, judeus, toda a sorte de não arianos, portadores de necessidades especiais e quem mais aquelas mentes doentias elegessem como alvos de seus delírios persecutórios.
Eram 300 mil, em 1933, quando Hitler foi nomeado primeiro-ministro pelo marechal Hinderburg. E já passavam de 2 milhões quando o velho presidente lhe confidenciou que o Exército Alemão se sentia pouco à vontade com a consideração dispensada pelo führer a um estridente bando de arruaceiros.
A resposta foi fulminante e entrou para a história como “A Noite dos Longos Punhais”. Em 30 de junho de 1934, Hitler decepou a cabeça das SA.
Antes que elas entendessem o que estava acontecendo, uma centena de dirigentes estavam mortos, inclusive o capitão Röhm. Milhares de quadros intermediários foram presos. As SA não eram mais necessárias.
Não é possível afirmar que esse episódio tenha paralelo com a morte do capitão Adriano Magalhães quatro dias depois do telefonema. Mas, se tiver, o sargento Ronnie Lessa, vizinho de Bolsonaro e outro dos assassinos da vereadora Marielle Franco, que se encontra preso em Porto Velho, pode ir botando as barbas de molho.
SÉRGIO RUBENS