
Um agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contou à Polícia Federal que foi “constrangido” a trazer do Catar para o Brasil três relógios de luxo para o ex-diretor-geral Alexandre Ramagem.
Os “presentes”, como contou o agente, eram para o Ramagem, que dirigiu o órgão durante o governo de Jair Bolsonaro.
O UOL revelou o depoimento dado pelo agente no âmbito do inquérito da “Abin paralela”.
O agente contou que foi “constrangido” por uma assessora de Alexandre Ramagem para que trouxesse os itens de luxo para o Brasil.
“Em uma das viagens, o declarante foi constrangido a trazer um presente do Qatar para Ramagem”, diz o depoimento.
Uma assessora do então diretor-geral da Abin “determinou ao declarante que levasse o presente de Ramagem”.
No depoimento não constam detalhes do pacote, que era composto por três relógios de luxo, ou como o agente fez para entrar no Brasil com os itens.
Alexandre Ramagem confirmou a existência do pacote, mas “que esses relógios foram recebidos, catalogados pela Abin e encaminhados ao museu da instituição”.
O inquérito da chamada “Abin paralela” investiga o uso ilegal, por parte do governo Bolsonaro, da Agência para espionar adversários políticos de Jair Bolsonaro. Entre outras coisas, pessoas lotadas no órgão utilizaram a ferramenta de monitoramento First Mile, que aponta o local exato de qualquer aparelho celular, ilegalmente pelo menos 887 vezes.
A expectativa da PF é conseguir concluir o inquérito e apresentar o relatório final ainda em abril, podendo fazer o indiciamento de Alexandre Ramagem (PL-RJ), que hoje é deputado federal.
Ramagem é réu junto com Jair Bolsonaro e outros seis por organizar a tentativa de golpe de Estado para manter o grupo no poder. A PF colheu provas de que Ramagem orientava Jair Bolsonaro sobre as mentiras que usariam acerca das urnas eletrônicas.
O caso dos relógios trazidos do Catar para o Brasil como “presentes” para Alexandre Ramagem se assemelha ao roubo das joias da Presidência por Jair Bolsonaro.
Enquanto era presidente, Bolsonaro se apropriou ilegalmente de joias, relógios e outros itens de luxo que o Brasil recebeu de presente de outros países.
O ex-presidente levou as peças para os Estados Unidos e as vendeu, mas, depois de revelado o caso, teve de “recomprá-las” para entregar ao Tribunal de Contas da União (TCU).