Após grande pressão da sociedade, o afastamento de 119 dias que havia sido determinado pela Comissão de Ética, e que mantinha a remuneração do deputado, foi ampliado para seis meses e sem salário
A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou, na quinta-feira (1º), por unanimidade, a ampliação da punição do deputado Fernando Cury (Cidadania) por importunação sexual à deputada Isa Penna (PSOL) no plenário da Assembleia, em dezembro de 2020.
Após grande pressão da sociedade, o afastamento de 119 dias que havia sido determinado pela Comissão de Ética, e que mantinha a remuneração do deputado, foi ampliado para seis meses e sem salário.
Com a ampliação da pena, o suplente de Fernando Cury, padre Afonso Lobato (PV), poderá assumir o cargo e, inclusive, formar um novo gabinete, exonerando os servidores do deputado afastado.
Embora a pena não seja a esperada por amplos setores sociais, que pediam a cassação do deputado, a própria deputada e parte dos deputados consideraram a ampliação da suspensão uma vitória. Para que a cassação de mandato fosse aprovada, 48 dos 94 deputados teriam que votar a favor, mas, segundo avaliação da própria Isa Penna, a pena máxima teria apoio de apenas 44 deputados.
“Fico feliz, não posso deixar de sentir felicidade. Qualquer deputado e qualquer homem vai pensar duas vezes agora. A questão não é a quantidade de meses, mas a mensagem aos assediadores de que não é aceitável. É uma derrota para o machismo”, afirmou a deputada após a votação.
Embora considere a votação de ontem uma vitória, a deputada afirmou que não acha justa a pena de suspensão e que vai continuar lutando pela cassação do deputado.
“É lamentável que o possível dessa Casa seja seis meses. Eu não faço política no parlamento que eu quero, mas no que existe. É uma redução de danos que não seja aprovado aquele relatório [de 119 dias]. Para mim derrotar aquele relatório é importante para que eu ande de cabeça erguida”, disse.
“Não basta só termos uma Casa mais diversa, temos que ter uma Casa inclusiva, que acolha as demandas das mulheres”, afirmou Marina Helou, líder da Rede, durante reunião dos parlamentares que costurou as três propostas em discussão, antes da votação: cassação (defendida por Isa e aliados), cinco meses (defendida por parlamentares próximos de Cury e deputados conservadores e evangélicos), e afastamento de seis meses, que teve o maior número de apoios.
“Mulheres das mais diferentes ideologias da Assembleia concordaram que 119 dias é pouco, não é punição. É uma vitória parcial do movimento de mulheres, mas, infelizmente, a cassação não é possível”, afirmou Mônica Seixas, líder do PSOL.
“Digo em nome de todos da Casa: jamais houve operação de salvamento, jamais houve protecionismo ou cumplicidade de qualquer colega parlamentar em relação ao caso. […] A Assembleia, com maioria absoluta entre seus parlamentares, dá um claro recado a toda sociedade. Não admite qualquer situação de assédio, seja contra mulher ou homem, orientação sexual, raça, credo ou idade”, afirmou o presidente da Assembleia, Carlão Pignatari (PSDB), após a votação.