Dados compilados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que a Amazônia brasileira perdeu 87.762 km² para desmatamento ou queimadas ao longo dos 11 primeiros meses de 2020. A área equivale a duas vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro ou 15 vezes a área do Distrito Federal.
De acordo com dados do projeto Queimadas, também do Inpe, o país encerrou 2019 com 318 mil km² de vegetação consumida pelo fogo nos seis biomas, aumento de 86% em relação ao ano anterior. Em 2020, o Pantanal atingiu o recorde histórico de 22 mil focos de incêndio, 13 vezes mais do que em 2018. Os focos na Amazônia Legal também são os maiores desde 2010.
A Amazônia Legal é uma área definida pelo governo federal para facilitar o planejamento de ações na região. São áreas da bacia do rio Amazonas e de vegetações amazônicas. O território engloba 9 Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Maranhão. Soma 5.015.068 km², o que corresponde a 58,9% do território brasileiro. Dessa área, 11.088 km² foram desmatados de janeiro a novembro, segundo o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes).
Apesar da elevação da destruição dos biomas brasileiros, o governo Jair Bolsonaro cortou os orçamentos do Ibama e do ICMBio para 2021.
O cientista climatologista Carlos Nobre afirma que o discurso adotado por Bolsonaro desde a campanha de 2018 joga contra a preservação ambiental. “Isso passou uma mensagem muito forte para o setor da ilegalidade do agronegócio, que pode ser muito pequeno, mas o potencial de destruição é gigantesco”. Nobre argumenta que essa política “deu a esse setor, muito associado com o crime organizado, um sinal verde”.
“O crime ambiental, que rouba madeira e coloca fogo, sentiu-se muito empoderado. Eles se sentiram com um perigo pequeno de serem presos se cometerem ilegalidades”, diz Nobre.
Nobre começou a trabalhar em Manaus no Inpe, em 1975. Hoje, é pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP. É doutor em meteorologia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Massachusetts Institute of Technology). Foi chefe do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos e do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe, além de ser pioneiro em pesquisas sobre os impactos do desmatamento sobre o clima.
Bolsonaro foi protagonista de muitas polêmicas envolvendo os órgãos de fiscalização ambiental, tanto com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), quanto com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio). Nos dois primeiros anos, ampliou de forma significativa o processo de desmonte e esvaziamento dos órgãos responsáveis por cuidar do meio ambiente e das questões indígena e agrária.
Um dos momentos mais simbólicos do “sinal verde” dado por Bolsonaro à destruição ambiental foi do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, divulgada através das gravações de uma das reuniões ministeriais onde o ministro propõe que se aproveite o caos provocado pela pandemia para “passar a boiada” e flexibilizar a legislação e fiscalização ambientais.