A Agência Nacional de Vigilância Sanitária voltou a recomendar que o Ministério da Saúde suspenda provisoriamente a temporada de navios de cruzeiros na costa brasileira. A medida vem depois do crescente aumento de infecções por Covid-19 em embarcações nos últimos dias.
Segundo a agência, dados apontam que a variante ômicron tem o potencial de se espalhar mais rapidamente do que outras variantes e que a proteção imunológica de vacinas e de casos anteriores de Covid-19 pode não ser tão efetiva.
A recomendação da Anvisa também considerou que, mesmo diante da elaboração de Planos de Operacionalização para a retomada da temporada de cruzeiros no âmbito dos municípios e estados, estabelecendo as condições para assistência em saúde dos passageiros desembarcados em seus territórios e para execução local da vigilância epidemiológica ativa, na prática têm sido observadas dificuldades impostas pelos entes locais diante da necessidade de eventuais desembarques de casos positivos para Covid-19 em seus territórios.
“A manifestação da agência foi pautada no princípio da precaução, ao priorizar o impedimento da ocorrência de agravo à saúde pela adoção das medidas necessárias à sua proteção”, disse em nota a Anvisa.
A agência fala em “indícios de irregularidades” e afirmar que avisará outros órgãos de controle para a investigação.
“Ressalta-se que o descumprimento dos protocolos sanitários e a desobediências às medidas de restrição impostas pelas autoridades constituem infrações sanitárias que, se confirmadas após apuração em processo administrativo, resultam em multas e suspensão das atividades.”
A agência ressalta, porém, que a recomendação não afeta ainda as operações de navios de cruzeiro. “Até decisão final do grupo de ministros, as operações seguem, como regra geral, autorizadas, submetidas às regras sanitárias vigentes”, diz a nota, referindo-se à necessidade de uma decisão dos ministérios da Saúde, da Justiça e Segurança Pública e da Infraestrutura para a recomendação entrar em vigor.
A Anvisa investiga uma suspeita de casos de Covid no navio MSC Preziosa. O navio está ancorado na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. A empresa responsável pela operação confirmou ter identificado o que, segundo ela, seria “um pequeno número de casos de Covid-19 entre as pessoas que estão a bordo do MSC Preziosa”. Segundo a companhia, o montante de infectados representa 0,6% do total da população a bordo.
“Todos os casos são assintomáticos ou com sintomas leves”, diz trecho da nota da empresa MSC Cruzeiros.
Recentemente, a Anvisa recomendou que o Ministério da Saúde suspenda provisoriamente a permissão de cruzeiros na costa brasileira. Segundo o órgão, a suspensão teria “caráter preventivo, até que haja mais dados disponíveis para avaliação do cenário epidemiológico”.
Nos últimos dias, dois navios tiveram atividades interrompidas ao longo do dia: o Costa Diadema, que estava atracado em Salvador (BA), e o MSC Splendida, que está no Porto de Santos (SP).
O MSC Splendida está parado no Porto de Santos, no litoral paulista, desde a madrugada desta quinta-feira (30/12) com um total de 78 pessoas infectadas, incluindo turistas e membros da tripulação. Além dos casos positivos, também foram identificadas 54 pessoas sob suspeita porque tiveram contato com os contaminados por Covid. Há cerca de 4 mil pessoas no navio.
Já o cruzeiro Costa Diadema atracou no porto de Salvador, na Bahia, nesta manhã. Na embarcação, as autoridades sanitárias confirmaram 68 casos de Covid-19, sendo 56 tripulantes e 12 passageiros. O Costa Diadema saiu de Santos e estava indo em direção ao porto de Ilhéus (BA). O navio tem um total de 3.836 viajantes, entre passageiros e tripulação.
Segundo a Anvisa, a retomada de operações de navios havia sido permitida no país em cenário epidemiológico anterior à notificação mundial sobre a identificação da nova variante, a ômicron. Ela vem sendo a responsável pelo aumento de contaminações por coronavírus em todo o país.
CRUZEIROS ARMADILHAS
Para Sérgio Zanetta, sanitarista e professor de Saúde Pública e epidemiologia do Centro Universitário São Camilo, a decisão já deveria ter sido tomada anteriormente pela Agência, pois os cruzeiros são “armadilhas para transmissão da Covid-19”.
“Tirando o convés, o navio é inteiramente refrigerado. É um único ar que circula e, portanto, se tiver uma pessoa contaminada a chance de disseminar o vírus é muito grande”, afirmou Zanetta, em entrevista à CNN neste sábado (1).
Segundo o professor, mesmo que seja solicitado o comprovante de vacinação e exames prévios, há algumas falhas possíveis, que fez com que os navios de cruzeiros virassem armadilhas.
“O problema é alguém autorizar a temporada de cruzeiros com o quadro epidemiológico que temos. Enquanto houver transmissão sustentada pela Covid, este tipo de evento não é recomendado”, afirmou.
“Realizar eventos em ambientes abertos ainda tem algum sentido, mas em ambientes confinados, como em um navio, é totalmente fora de propósito”, acrescentou o sanitarista.