Aproveitou o “Dia do Exército” para insinuar que não aceitará o resultado das urnas. “As Forças Armadas não dão recado”, disse ele. É verdade. Não dão recado e nem deram respaldo quando ele tentou virar a mesa no ano passado
O país está literalmente à deriva e sem governo. A inflação se agrava a olhos vistos, a economia está estagnada, o desemprego nas alturas e Jair Bolsonaro não faz outra coisa a não ser campanha antecipada e provocações contra a democracia. Quando não está em campanha, está operando o orçamento secreto e reunindo com pastores alocados por ele no MEC para recolher propina.
Sem solução para nenhum dos problemas do país, e cada vez mais rejeitado pelos brasileiros, ele fez um discurso, nesta terça-feira (19), Dia do Exército, cheio de insinuações e ameaças contra o processo eleitoral. Desnorteado, ele acha que pode manipular o Exército de Caxias no respaldo ao seu fracasso como chefe de Estado e em suas aventuras golpistas.
Voltou a levantar suspeitas sobre o sistema eleitoral brasileiro. “Não podemos jamais ter uma eleição no Brasil que sobre ela paire o manto da suspeição”, disse Bolsonaro, que frequentemente, e sem apresentar provas, levanta questionamentos sobre o sistema eletrônico de votação. Ele já foi derrotado no Congresso Nacional quando tentou retornar ao sistema de voto impresso e apuração manual.
Numa confissão clara de que ele próprio não governa o país, que vive em passeios e não sabe nada acerca do que ocorre com o Brasil e com o seu povo, Bolsonaro tentou jogar a responsabilidade sobre as Forças Armadas. Disse que são as Forças Armadas que “sabem o que é o melhor para o país”. Pensava-se que era o presidente que tinha essa função.
“As Forças Armadas não dão recado, elas estão presentes. Elas sabem como proceder, sabem o que é melhor para seu povo, o que é melhor para seu país”, disse Bolsonaro. O que as Forças Armadas vêm fazendo com bastante sabedoria é impedir que o lunático, que chegou ao Planalto fraudando as eleições com sua máquina de fake news, golpeie a democracia brasileira.
Se o objetivo agora era intimidar o país, o tiro saiu pela culatra e revelou, na verdade, um medo pânico do julgamento que as urnas farão de seu fracasso como presidente. Assim como saiu pela culatra também a tentativa de golpe do ano passado, quando ele achou que as Forças Armadas o seguiriam em sua aventura ditatorial.
Deu com os burros n´água e teve que pedir perdão no dia seguinte aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem havia xingado histericamente na véspera, na Avenida Paulista.
Em mais uma insistência de manipulação dos militares, Bolsonaro voltou a insinuar que a instituição o apoia em suas aventuras. “Elas [FFAA] têm participação ativa na garantia da lei e da ordem, da nossa soberania e do regime ao qual o povo quer viver. E nós sabemos que esse regime acima de tudo está a nossa liberdade”, afirmou o “capitão cloroquina”.
Ele fez menção ainda uma ação do Exército em 2016, ano em que ocorreu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “Também agora em 2016, em mais outro momento difícil da nossa nação, a participação do então comandante do Exército Villas Bôas marcou a nossa história”, afirmou, referindo-se ao general Eduardo Villas Bôas.
A lembrança é sintomática. O repúdio popular ao seu governo é cada vez maior. É por isso que, inutilmente, ele acena aos militares.
No sábado (16) ele já tinha feito provocações aos ministros do STF. “A gente não conseguiu entender o Tribunal Superior Eleitoral. Virou lá um grupo fechado, TSE Futebol Clube, o que se fala é lei. Até você vê, há poucas semanas, o Alexandre de Moraes falou que quem desconfiar do processo eleitoral vai ter o registro cassado e preso. Ô Alexandre, eu tô desconfiado. Vai me prender? Vai cassar meu registro? Que democracia é essa?”, afirmou.
Demonstrando que até hoje não absorveu a derrota que colheu ao tentar voltar à apuração manual – uma forma mais fácil de fraudar as eleições -, Bolsonaro atacou também o ministro Barroso, que presidia o TSE.
“O próprio Barroso há pouco tempo esteve nos Estados Unidos debatendo lá como tirar um presidente da República. A gente vê certos absurdos que acontecem. Quando fala em interferência, o ministro Barroso foi dentro da Câmara dos Deputados, interferiu e a PEC do voto impresso foi derrotada, é uma interferência clara. Ele agora em um debate, com Tábata Amaral numa live, me trata como inimigo. Ou seja, que democracia é essa?”, completou.
Não é o ministro Barroso que o trata como inimigo. É ele próprio que se comporta como um inimigo da democracia. Seu objetivo, tanto na entrevista de sábado, quanto no discurso do Dia do Exército, é atacar a democracia e as instituições. É por isso que toda a sociedade se une contra ele e que os democratas dos mais diversos partidos se unem para derrotá-lo nas urnas.
E é por isso também que as instituições da democracia do país se comportam como guardiões da democracia e combatem as suas iniciativas golpistas e antidemocráticas.
S.C.