O Ministério da Saúde anunciou, nesta quarta-feira (5), a aplicação da vacina contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos sem exigência de prescrição médica. O recuo da recomendação ocorreu após entidades médicas e científicas criticarem a medida que dificulta a imunização das crianças durante audiência realizada na terça-feira (4).
Mais de 20 milhões de crianças deverão ser vacinadas contra a Covid-19. Contudo, o governo Bolsonaro, que continua tentando impedir a imunização das crianças, só confirmou a compra de 3,7 milhões de doses, o suficiente para imunizar menos de 10% das crianças com as duas doses.
Segundo o secretário executivo da pasta, Rodrigo Cruz, a fabricante Pfizer só pode entregar 3,7 milhões de doses até o fim do mês de janeiro. Entretanto, as doses já poderiam ter sido negociadas caso o governo brasileiro tivesse interesse em organizar a vacinação. Em 16 de dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária autorizou o uso do imunizante em crianças, mas Marcelo Queiroga e Jair Bolsonaro preferiram criar barreiras contra a vacina, ao invés de negociar com o fabricante a entrega das doses.
Queiroga disse, durante a coletiva da tarde desta quarta-feira, que antes de comprar mais unidades é preciso observar “qual que será a taxa de adesão dos pais a essa vacinação”. “Os pedidos dependem dessa velocidade da vacinação e também da capacidade de entrega das vacinas pela indústria”, emendou.
A previsão é de que as primeiras 1,248 milhão de doses cheguem em 13 de janeiro e comecem a ser enviadas aos municípios no dia seguinte. Neste mês, há previsão de chegada de dois outros lotes com a mesma quantidade de vacinas nos dias 20 e 27 de janeiro. “Será adotado o critério populacional para a distribuição das doses”, afirmou Rodrigo Cruz.
O Ministério da Saúde recomendou que a imunização seja feita por faixa etária decrescente com prioridade para as crianças com comorbidade ou deficiência permanente, indígenas e quilombolas. Em seguida, devem ser imunizadas aquelas que vivem em lar com pessoas com alto risco para evolução grave de covid e depois crianças entre 10 e 11 anos, 8 e 9 anos; 6 e 7 anos e, por fim, crianças com 5 anos. O intervalo da aplicação das duas doses pediátricas será de 8 semanas e a imunização começa ainda em janeiro.
A decisão de não exigir prescrição médica vai ao encontro do que era defendido pelos Conselhos Nacionais de Secretarias de Estaduais e Municipais de Saúde (Conass e Conasems) e até mesmo na enquete realizada pelo governo na internet.
A decisão da Saúde de vacinar crianças ocorre em meio à resistência do presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados à imunização desta faixa etária. Antes de liberar a vacinação, o Ministério criou mecanismos para dificultar a aprovação da aplicação dos imunizantes, com a criação de consulta e audiência pública sobre o tema, que já havia sido autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 16 de dezembro.
A audiência pública promovida pela Saúde contou com a presença de indicados pela deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-SP) que são contrários à vacinação e defensores da imunidade de rebanho em crianças. No encontro, as entidades médicas e científicas repeliram as fake news propagadas pelos participantes indicados pelo governo e defenderam a imunização urgente.
“Reitero a posição do Conass da não exigência de prescrição médica para a vacinação de crianças contra a Covid-19. Neste momento, 20 Estados do Brasil, que representam 80% da população brasileira, já publicaram norma sobre o tema”, destacou o secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, que representou o Conass no evento.
“Nesses estados não serão exigidas prescrições médicas para proteger as crianças da covid e das posições anti-vacinas. Acreditamos que ao longo da semana, todos os demais estados devem publicar normas semelhantes. Estados e Municípios tem competência para definir isso”, ressaltou.