
Milhares de pessoas se manifestaram no Obelisco de Buenos Aires, ponto zero da capital argentina, expressando seu rechaço ao acordo que o governo de Mauricio Macri negocia com o Fundo Monetário Internacional e ao aprofundamento do ajuste neoliberal. A multidão, mobilizada sob as consignas de “A Pátria está em perigo”, “Chega de ajuste” e “Fora FMI”, saiu às ruas no Dia 25 de Maio, data que marca os acontecimentos revolucionários ocorridos nessa data em 1810, na cidade de Buenos Aires, capital do Vice-reinado do Rio da Prata, dependente do rei da Espanha, e que tiveram como consequência a destituição do vice-rei Baltasar Hidalgo de Cisneros e sua substituição pela chamada Primeira Junta.
A comemoração do primeiro governo nacional argentino, que marcou a independência da Espanha, convocada por organizações sociais, sindicais e políticas encheu a larga Avenida 9 de Julio e teve no encerramento o povo cantando o Hino Nacional. Desde o palco foi lido um documento em que se defendeu o valor do patrimônio público, se expressaram críticas ao governo nacional e se colocaram diversas reivindicações.
A manifestação foi convocada por sindicatos da Confederação Geral do Trabalho e as duas Centrais de Trabalhadores Argentinos. Também estiveram presentes entre a multidão milhares de professores e seus dirigentes que tinham acabado de protagonizar dois dias atrás a enorme Marcha Federal Educativa; além de dirigentes políticos da oposição. Os atores Osmar Núñez e Paola Barrientos se alternaram na leitura de um texto que foi escrito em conjunto pelos diferentes setores que convocaram o ato.
No documento proclamou-se a defesa do “trabalho digno que gera as riquezas da pátria” e se defendeu “a necessidade do desenvolvimento industrial, protegendo as economias regionais” no marco de uma “soberania ameaçada pelo programa de saque”.
No texto se expressou o apoio à educação pública e ao papel do Estado para fazer frente às corporações.
Em outra passagem do documento se reivindicou a “liberdade de expressão e comunicação popular” para evitar a concentração da mídia em poucas mãos, o que leva à “construção de um pensamento único que defende os programas de ajuste e saque”.
Finalmente, se falou da “necessidade de integrar nosso destino com a América Latina”. No fechamento afirmou que “sabemos do que se trata, o colonialismo neoliberal só oferece miséria”, e chamou os argentinos a enfrentar essa política “nas ruas e nas urnas”, no marco da “unidade necessária para construir a Pátria que sonhamos”.
Muitos marcharam para o Obelisco com bandeiras argentinas; outros levaram as de agrupações partidárias. O famoso ‘hit do verão’ (“Mauricio Macri PQTP”), consigna que quem esteve na Argentina nos últimos meses, certamente escutou, cantou-se uma e outra vez desde cedo e voltou a se ouvir apenas acabaram os últimos acordes do Hino Nacional, que marcou o fim da mobilização. No palco, o ‘hit’ foi puxado, entre outros, pelas Mães da Praça de Maio.
O governo argentino, no início deste mês, elevou os juros para 40%, hoje os mais altos do mundo, e anunciou um corte no investimento público de mais de 1,5 bilhão de dólares. “A redução do gasto público é essencial para agradar o FMI, especialmente nas áreas onde ele aumentou nos últimos anos, em particular os salários, as pensões e as transferências sociais. No dia 9 passado, o ministro de Fazenda, Nicolás Dujovne, e a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, se reuniram para aprovar um empréstimo desse órgão que seria de pelo menos 30 bilhões de dólares.