
Ato se concentrou próximo ao parlamento mesmo com ruas tomadas por milhares de policiais fortemente armados para que Milei fizesse passar por 21 votos, decreto de submissão ao FMI
Um verdadeiro aparato de guerra, que contou com cercas de metal, mais de dois mil policiais munidos de armamento pesado, foi utilizado, nesta quarta-feira (19), para impedir lideranças e manifestantes de se aproximarem do parlamento.
Com o clima de repressão e compra de votos de deputados, o decreto foi aprovado por 129 votos a 108
Passados sete dias do grande ato pelo reajuste das aposentadorias – que contou com o apoio das torcidas organizadas e de milhares de manifestantes -, os argentinos voltaram a tomar as ruas de Buenos Aires nesta quarta-feira para exigir um basta à política de atropelo aos direitos sociais levada a cabo pelo governo neoliberal de Milei.
“MILEI NUM GRAVE SURTO DE DELÍRIO PSICÓTICO”
“Sair atrás dos aposentados todas as semanas só é justificável devido a um grave surto de delírio psicótico que é aconselhável fazê-los perceber. É por isso que desta vez eles isolaram o cérebro. Cercaram a marcha e militarizaram a praça. Eles estavam com medo. Não queriam as imagens da semana anterior, com sua leve violência, de pele e osso: um golpe, uma bala de borracha, um ‘gazinho’. Tudo normal, naturalizado. Não desta vez. O governo de Milei tornou-se uma máquina perturbadora de aterrorizar, de violentar, de desumanizar o outro, de inferiorizar para dominar, de colocar pessoas contra pessoas”, descreveu o jornal Página12.
Nas proximidades ao Congresso, enquanto as colunas de aposentados, estudantes, sindicatos e movimentos sociais começavam a engrossar a marcha, a corja policialesca adiantou-se, começando desde bem cedo a vasculhar carteiras de senhoras e mochilas de estudantes, exigir documentos e a interrogar quem quisesse cruzar as cercas de terror e ódio, num claro atropelo à “livre circulação”.
Sob violenta repressão, a Câmara de Deputados aprovou por 129 votos a 108 – com seis abstenções – o decreto presidencial que dá carta branca a Milei a assinar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional. Por ser ratificado pela Câmara, não é necessário que seja debatido no Senado. E quanto à dívida de 44 bilhões de dólares pagos atualmente pelo governo, seguirá vergonhosamente com sinal verde para que a sangria seja acelerada na contramão dos interesses do país e de seu povo.
Quase 60% dos aposentados e pensionistas ganham o salário mínimo, equivalente a cerca de 265 dólares (R$ 1.500). O governo congelou um bónus de cerca de 70 dólares (R$ 400,00) no ano passado e reduziu a entrega de medicamentos gratuitos, cujo preço duplicou em um ano.
MÁXIMO KIRCHNER CONDENA “MARIONETES” E RECORDA CASO DAS CRIPTOMOEDAS
“Isso vai falhar e vocês sabem disso. Eles estão se livrando do problema e quando os líderes se livram do problema, isso cai na cabeça do povo. Assim não temos país, somos marionetes. Vale a pena perguntar para que servimos neste momento”, condenou Máximo Kirchner, elevando a denúncia na Câmara dos Deputados. O líder oposicionista recordou que “no caso das criptomoedas, se o presidente não fizesse parte dessa estafa, ele não conseguiria identificar um golpe a dois centímetros do nariz dele. E se isso acontecesse, estamos dando poderes a quem não viu isso”. Sendo assim, acrescentou Kirchner, “no dia 10 de dezembro de 2027, o governo que tomar posse poderá levantar a ilegalidade e a ilegitimidade desta dívida”.
O deputado nacional da União pela Pátria pelo Chaco, Aldo Leiva, questionou a aprovação do endividamento, frisando que além de “uma verdadeira fraude” é a maior armação da história institucional do país. Com os bolsos cheios, denunciou, “dizem uma coisa e terminam votando outra”. “Os envelopes – repletos de dinheiro – estão na ordem do dia. Não tenho nenhuma dúvida da compra de vontades, o voto FMI”, enfatizou.
A megaoperação montada pelos nazifascistas para impedir a mobilização iniciou com a “advertência” nos alto-falantes dos serviços de transporte público que a Polícia iria reprimir. Um anúncio ainda mais descarado e covarde, pois foi exatamente isso que ocorreu na manifestação da semana passada quando fez uso e abuso de cacetetes, armas com balas de borracha, bombas de gás e de spray contra cabeças de idosos, que deixou pessoas cegas e outras à beira da morte, como o fotógrafo Pablo Nahuel Grillo, de 35 anos. Permanece viva na lembrança a senhora de 81 anos, com uma bengala, que foi pulverizada com spray de pimenta e empurrada por um policial até desmaiar.
Desta vez, Milei tentou reduzir os riscos de imagens tão estarrecedoras, mantendo o cerco às estações de trens e ruas próximas ao Congresso.
ENTIDADES CONDENAM ILEGALIDADE E ILEGITIMIDADE DO ACORDO
Rechaçando o descaminho empreendido, entidades sindicais, organizações estudantis e de direitos humanos aprovaram um documento na terça-feira (18) ressaltando que “o FMI, como organização membro do sistema das Nações Unidas, deve respeitar o princípio da devida diligência e recusar ser cúmplice de uma manobra inconstitucional para assinar um acordo de forma secreta e antidemocrática, o que violará mais uma vez o direito ao desenvolvimento da população argentina”. Desta forma, solicitam que a organização rejeite “o acordo anunciado pelo governo argentino, pois, pela sua ilegalidade e ilegitimidade de origem, é suscetível de ser repudiado pelas futuras administrações do nosso país, estendendo a responsabilidade pela violação da ordem nacional e internacional a todos os funcionários que o assinam”.