Faleceu na manhã deste domingo (26), aos 91 anos, a artista plástica Tereza Costa Rêgo, um dos maiores nomes das artes plásticas do Brasil. O falecimento ocorreu na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Joana, em Recife, capital do Pernambuco.
Um dos maiores nomes da arte modernista em Pernambuco, a pintora estava em casa quando, durante a madrugada de sábado (24), sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame cerebral.
Ela foi socorrida ainda em casa por uma equipe médica e levada para a unidade de saúde. No caminho, a artista plástica sofreu uma parada cardíaca e foi reanimada pelos paramédicos. O estado de saúde de Tereza era gravíssimo quando ela deu entrada no hospital.
Por meio de nota, a família informou a morte de Tereza e agradeceu as “condolências de mensagens recebidas”. No texto, os parentes destacam a relação da artista com o público.
“Elas só mostraram o quão querida ela era por todos. Devemos sempre lembrá-la com amor, gratidão, alegria e saudade por tudo o que Tereza nos proporcionou em vida. Neste momento de dor e profunda tristeza, a família pede aos amigos e amigas, sensíveis compreensões para que ela possa, nos seu convívio, superar a imensurável perda”, afirma a nota.
A artista plástica morava Olinda, na mesma cidade onde funcionava o seu ateliê, mas, diante da pandemia, estava passando um tempo na casa de sua filha, Tereza Rozowykwiat, onde sofreu o AVC.
Políticos, personalidades e familiares lamentaram a lacuna deixada pela morte de Tereza. Para o governador pernambucano, Paulo Câmara, é “impossível dimensionar em palavras a importância da sua obra para o nosso Estado e para o Brasil”.
“O cenário artístico e cultural de Pernambuco ficou menor com a morte de Tereza Costa Rêgo”, disse Câmara.
Veja as considerações dos políticos pernambucanos:
Paulo Câmara, governador de Pernambuco
“O cenário artístico e cultural de Pernambuco ficou menor com a morte de Tereza Costa Rêgo. É impossível dimensionar em palavras a importância da sua obra para o nosso Estado e para o Brasil. Paisagista, doutora em história, militante de esquerda, Tereza era, acima de tudo, uma artista plástica de corpo e alma, que traduzia com beleza e perfeição seus sentimentos nas telas, retratando ali o imaginário popular, nossas lutas libertárias, a força da mulher, paisagens de Olinda e Recife e tantas outras figuras da nossa cultura. Tereza, certa vez, afirmou que “pintaria até não poder mais”, e assim o fez. Sua partida fará uma imensa falta à arte brasileira. Quero me solidarizar com todos os seus familiares, amigos e admiradores neste momento de profundo pesar.”
– Geraldo Julio, prefeito do Recife
“Irrecuperável a perda de Tereza Costa Rêgo, que nos deixou hoje. Artista de profunda sensibilidade, Tereza é um símbolo de resistência e liberdade e um grande exemplo da força da mulher recifense. No ano passado, a Prefeitura do Recife a homenageou na edição da agenda da Secretaria da Mulher, que a cada ano celebra uma grande mulher de nossa cidade. Feliz de poder ter deixado essa pequena homenagem ainda em vida à artista cuja força da obra não deixará morrer o legado. Quero mandar meus mais sinceros sentimentos à família e amigos.”
– Luciana Santos, vice-governadora de Pernambuco
“Os vermelhos perderam alguns tons de intensidade, neste domingo tão triste, em que Tereza Costa Rêgo se despede de nós. Deixa uma lacuna irreparável no cenário das artes plásticas no país e um lamento imensurável em nosso peito. A história de Tereza é um relato contínuo de paixão pela vida, pela liberdade, pela arte e pelo direito de ser mulher em toda sua plenitude. Uma lutadora em defesa da democracia, da justiça e de um mundo pautado pela oportunidade e pelo respeito. O PCdoB tem orgulho de ter algumas de suas páginas escritas pelo caminhar de Tereza, que ao lado de Diógenes Arruda, doou energia, tempo e coragem a resistência à ditadura e a construção do nosso partido em tempos tão difíceis. Todos nós, que convivemos com ela, nos sentimos honrados pela presença afetuosa, carismática e generosa e é com grande pesar que assistimos sua partida. Seu espírito jovial, sua arte inconfundível e sua memória vibrante seguirão conosco nos acolhendo e inspirando sempre.A Tereza, Joana, André, Daniel e demais familiares de nossa querida Tereza Costa Rêgo, meus sentimentos e meu abraço solidário.”
– Jarbas Vasconcelos, senador de Pernambuco
“Tereza Costa Rego foi símbolo de uma geração de talentosos pintores pernambucanos. Simples, atenciosa e criativa em sua arte, marcou a vida pelo engajamento social e pela beleza das cores em seu ateliê de Olinda. A notícia de seu falecimento entristece seus admiradores, entre os quais me incluo. Renovo meu reconhecimento e amizade, ao tempo em que levo sentimentos de pesar aos familiares e amigos”.
– João Campos, deputado federal
“Neste momento difícil, quero transmitir minha solidariedade a família e aos amigos de Tereza Costa Rêgo”
– Augusto Carreras, deputado federal
“É com muito pesar que recebemos a notícia do falecimento da artista plástica Tereza Costa Rêgo, um dos maiores nomes do modernismo pernambucano. Suas obras de cores vibrantes e traços inconfundíveis, marcam a nossa história. Nos solidarizamos aos familiares e amigos.”.
– Leda Alves, secretária de Cultura do Recife
“Tereza, antiga amiga, ontem, quando, na minha quarentena de 89 anos, soube que você havia sido hospitalizada, não acreditei que você estava se despedindo do Recife e de todos nós. Assumo: talvez a mais antiga amiga de infância sua, chorei. De saudades e pela paz de sabê-la conhecedora profunda do absoluto do amor. Você soube amar até o fim.”.
– Diego Rocha, presidente da Fundação de Cultura do Recife
“Perdemos hoje uma das maiores artistas do nosso tempo, do século passado e de todos que ainda estão por vir. A força e a importância histórica do seu trabalho legam eternidade à arte pernambucana, nordestina e brasileira”.
– Ricardo Leitão, jornalista e presidente da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe)
“Tereza Costa Rêgo foi uma mulher e uma artista que marcou a sua geração pela liberdade com que ela viveu e a criatividade com que exerceu a sua pintura”.
VIDA E OBRA
Tereza Costa Rêgo é um dos maiores nomes das artes plásticas no Brasil e uma das maiores expressões modernistas de Pernambuco. O corpo da mulher é um dos seus temas constantes, assim como procissões, igrejas, santos, a paisagem de Olinda e Recife e os animais.
Bisneta do Conde da Boa Vista e filha de uma família tradicional da aristocracia rural pernambucana, Tereza teve uma educação bastante rígida e repressora e foi na arte que encontrou espaço para expressar os seus sentimentos. Começou a pintar ainda criança, ingressando na Escola de Belas Artes com apenas 15 anos.
Foi casada por 14 anos e teve duas filhas: Maria Tereza e Laura Francisca.Foi contemplada com três prêmios do Museu do Estado e outro da Sociedade de Arte Moderna. Em 1962, realizou a primeira grande exposição, na Editora Nacional.
No mesmo ano, envolveu-se com o dirigente do Partido Comunista Diógenes Arruda e deixou o Recife. Em São Paulo, por motivos políticos, viveu na clandestinidade até 1969, quando seu companheiro foi preso. Aproveitou o tempo fora para se dedicar à arte e aos estudos, formando-se em história na USP.
Ela passou a dar aulas de História para vestibulandos e a trabalhar como paisagista em um escritório de planejamento. Em 1972, quando Diógenes foi libertado, o casal seguiu exilado para o Chile, mas com o golpe militar naquele país fez com que eles voltassem a se mudar.
Tereza e seu companheiro passaram seis anos em Paris, na França. Em nenhum momento ela parou de pintar. Expôs seus quadros, assinando com o nome de Joanna. Fez doutorado em História, na Escola de Altos Estudos da Sorbone, também na França.
De volta ao Brasil, em 1979, Diógenes não resistiu e morreu de ataque cardíaco. Tereza firmou-se como artista plástica de destaque em Pernambuco. Comprou uma casa em Olinda, onde morava e pintava.
Fez mestrado em História na UFPE e trabalhou na Prefeitura de Olinda. Foi diretora do Museu Regional e, por 12 anos, do Museu do Estado de Pernambuco. São Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa, Paris e Cuba, entre outros lugares, foram cenário para as exposições da artista.
Obras reproduzidas do site da artista:
http://www.terezacostarego.com.br/site/