Ataque ucraniano com foguetes contra a represa hidrelétrica de Kakhovka, na região de Kherson, na noite de segunda para terça-feira (5 e 6), que destruiu metade da estrutura e o prédio da sala de máquinas, causando um despejo descontrolado de água sobre cidades e povoados a jusante, além de gerar temor sobre o impacto no resfriamento da usina nuclear de Zaporozhia. A Rússia pediu a reunião em caráter de emergência do Conselho de Segurança da ONU para discutir o ataque.
A água já subiu 11 metros em algumas áreas e fez centenas de pessoas deixarem suas casas, segundo a agência russa Tass. O regime de Kiev negou a autoria do crime de guerra e jogou a culpa sobre Moscou. Construída em 1956, a barragem possui um reservatório de 18 km³, que fornece água para a península da Crimeia e para a usina de Zaporozhia – a maior central nuclear da Europa, que fica a cerca de 125 quilômetros de Nova Kakhovka, às margens do mesmo rio. A cidade de Alyoshki foi a mais afetada pelas enchentes e está quase totalmente alagada, conforme relatado pelo chefe do governo da região, Andrey Alekseenko.
“A responsabilidade pelo ataque terrorista à hidrelétrica de Kakhovka é das autoridades ucranianas, que decidiram retirar reforços de Kherson”, afirmou o ministro da Defesa russo, Sergey Shoigu, nesta terça-feira (6), à agência de notícias Tass.
“Tendo sido mal sucedido nas suas ações ofensivas, a fim de reforçar o seu potencial, o inimigo decidiu transferir unidades e equipamentos de Kherson para a área de suas ações ofensivas, enfraquecendo assim significativamente as suas posições em Kherson”, disse o ministro.
As forças ucranianas na margem direita do Dnieper assumiram posições defensivas. O ataque contra a barragem da hidrelétrica visou impedir “operações ofensivas do exército russo” nesta área, finalizou Sergey Shoigu.
Não é a primeira vez que a hidrelétrica é atacada pelo regime ucraniano. Em outubro do ano passado, em média, por dia, até 20 mísseis foram disparados contra a usina. O que levou o enviado russo as Nações Unidas, Vasily Nebenzia a alertar então o Conselho de Segurança da ONU de que as forças de Kiev estavam considerando um ataque “imprudente” à barragem com minas marítimas ou mísseis. “As autoridades de Kiev e seus apoiadores ocidentais assumirão total responsabilidade por todas as consequências de um cenário tão devastador”, alertou Nebenzia.
A inundação ameaça principalmente a margem leste do rio, para onde as tropas russas se retiraram no ano passado em meio a preocupações de que os militares ucranianos explodissem a barragem.
A jornalistas, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, denunciou a “sabotagem deliberada do lado ucraniano”, com consequências “muito graves” para dezenas de milhares de habitantes da região, alem de conseqüências ambientais e de outra natureza.
Peskov disse ainda que a sabotagem tem como motivação o fracasso da assim chamada contraofensiva ucraniana, bem como “privar a Crimeia de água”. Os 2 milhões de residentes da Crimeia recebem em grande parte sua água do Canal da Crimeia do Norte, que é alimentado pelo reservatório acima da barragem de Kakhovka.
Na central de Zaporozhia, segundo as autoridades responsáveis, está tudo sob controle até aqui. “O nível da água na lagoa de resfriamento não mudou. Cinco unidades estão em um estado de desligamento a frio, uma está em um estado de desligamento a quente”, disse o diretor Yuri Chernichuk. Ele acrescentou que as piscinas de resfriamento com combustível nuclear usado têm um ciclo fechado, que não tem conexão direta com o reservatório de Kakhovka.
Segundo o jornal russo Komsolmoskaya Pravda, as forças ucranianas continuam bombardeando as proximidades da hidrelétrica com artilharia, o que impede que especialistas inspecionem a barragem. “Em tempos de paz, já há cinco horas, os mergulhadores estariam trabalhando debaixo d’água, inspecionando o corpo da barragem, talvez algum tipo de medida de emergência já tivesse começado. Agora isso é impossível de fazer.”
A União Europeia, que não sabe quem explodiu os gasodutos Nord Stream 1 e 2, atribuiu imediatamente a culpa da explosão da represa aos russos, que a controlam, engrossando o coro de “terrorista” emanado de Kiev.
A explosão de Kakhovka fez lembrar artigo no ano passado no Washington Post, em que um general ucraniano relatou plano, que acabou não usando então, de explodir exatamente essa represa.
Intitulado “Por dentro da contra-ofensiva ucraniana que chocou Putin e reformulou a guerra ”, seus autores citaram o ex-comandante da Contra-ofensiva Kherson de novembro Major General Andrey Kovalchuk, que surpreendentemente admitiu ter planejado este crime de guerra:
“Kovalchuk pensou em inundar o rio. Os ucranianos, disse ele, até realizaram um teste de ataque com um lançador HIMARS em uma das comportas da barragem de Nova Kakhovka, fazendo três furos no metal para ver se a água do Dnieper poderia ser elevada o suficiente para bloquear as travessias russas, mas não inundar as proximidades aldeias. O teste foi um sucesso, disse Kovalchuk, mas o passo permaneceu como último recurso”.