“O Barão do Rio Branco deixou-nos um legado de estabilidade em nossas fronteiras e de convívio pacífico e respeitoso com nossos vizinhos na América do Sul”, disse o deputado. A bancada do PCdoB também repudiou a provocação do representante de Donald Trump na fronteira com a Venezuela
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), repudiou nesta sexta-feira (18) a visita do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, às instalações da Operação Acolhida em Roraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela. Para Maia a presença do norte-americano na fronteira do país é uma “afronta às políticas brasileiras externa e de defesa.”
Em nota, o presidente da Câmara disse que “a visita do secretário […], no momento em que faltam apenas 46 dias para a eleição presidencial norte-americana, não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa.”
O deputado acrescentou que, por ser presidente da Câmara, sentia-se na “obrigação” de destacar que a Constituição Federal prevê que o Brasil oriente suas relações internacionais pautado nos princípios de independência, da autodeterminação dos povos, da não-intervenção e da defesa da paz.
Numa clara atitude de provocação, Pompeo disse durante a visita, que os EUA vão “tirar” Nicolás Maduro da presidência da Venezuela. “O Barão do Rio Branco deixou-nos um legado de estabilidade em nossas fronteiras e de convívio pacífico e respeitoso com nossos vizinhos na América do Sul. Semelhante herança deve ser preservada com zelo e atenção, uma vez que constitui um dos pilares da soberania nacional e verdadeiro esteio de nossa política de defesa”, afirmou Rodrigo Maia no documento.
Juto com o secretário do governo Donald Trump estava o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, figura marcada por uma total subserviência ao governo norte-americano. Os dois provocaram aglomeração no Posto de Identificação e Triagem da Operação Acolhida, na capital Boa Vista.
Leia a íntegra da nota de Rodrigo Maia:
A visita do Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, nesta sexta-feira, às instalações da Operação Acolhida, em Roraima, junto à fronteira com a Venezuela, no momento em que faltam apenas 46 dias para a eleição presidencial norte-americana, não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa.
Como Presidente da Câmara dos Deputados, vejo-me na obrigação de reiterar o disposto no Artigo 4º da Constituição Federal, em que são listados os princípios pelos quais o Brasil deve orientar suas relações internacionais. Em especial, cumpre ressaltar os princípios da: (I) independência nacional; (III) autodeterminação dos povos; (IV) não-intervenção; e (V) defesa da paz.
Patrono da diplomacia brasileira, o Barão do Rio Branco deixou-nos um legado de estabilidade em nossas fronteiras e de convívio pacífico e respeitoso com nossos vizinhos na América do Sul. Semelhante herança deve ser preservada com zelo e atenção, uma vez que constitui um dos pilares da soberania nacional e verdadeiro esteio de nossa política de defesa.
Rodrigo Maia
Presidente da Câmara dos Deputados
PCdoB repudia tentativa de ingerência dos Estados Unidos na América do Sul
Em nota assinada pela líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida, a bancada do partido afirmou que a vista de Pompeo é “uma clara ameaça à nossa soberania nessa região tão estratégica ao nosso desenvolvimento”.
“Lembramos que cabe ao Estado brasileiro a manutenção de uma boa relação com seus vizinhos sul-americanos, com respeito à autodeterminação de seus povos e cooperação para o progresso de todos”, disse outro treco da nota do PCdoB.
Segue a íntegra da nota do PCdoB
Nesta semana, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, alta autoridade americana, está fazendo visitas a países da América do Sul. Chamou-nos atenção o momento e a pauta da visita do Sr. Pompeo nesta sexta-feira, 18 de setembro, em território brasileiro. O momento, por estarmos ainda em plena vigência da maior pandemia do século, com grandes perdas humanas em todo o continente americano, além de ser coincidentemente véspera das eleições presidenciais nos EUA.
Trata-se, pelo contrário, de uma movimentação cirúrgica em uma região bastante específica do nosso continente, qual seja, a região amazônica compreendida na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Há uma clara ameaça à nossa soberania nessa região tão estratégica ao nosso desenvolvimento.
A Venezuela tem sido um dos inimigos externos favoritos da gestão do presidente Donald Trump. Parece haver uma tentativa de cerco a esse país. A visita de Pompeo vem para conturbar a relação do Brasil e seus vizinhos. Já a Guiana descobriu nos últimos anos uma reserva de petróleo monumental que a fará crescer economicamente mais de 80% em 2020.
Como parlamentares brasileiros, expressamos nossa preocupação com o casuísmo da visita, que ameaça a soberania nacional na Amazônia e pode ser um ato hostil à Venezuela, e isso, certamente, não contribui para a resolução dos conflitos com o país vizinho.
Lembramos que cabe ao Estado brasileiro a manutenção de uma boa relação com seus vizinhos sul-americanos, com respeito à autodeterminação de seus povos e cooperação para o progresso de todos.
Não se pode admitir uma ingerência externa que coloque em risco os preceitos da integração pacífica em nossa região. Vale lembrar que, historicamente, somos favoráveis à resolução pacífica dos conflitos e autodeterminação dos povos. Segundo o parágrafo único do artigo 4º da Constituição Federal, “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.”
Perpétua Almeida, líder do PCdoB na Câmara