No 57º aniversário do histórico pronunciamento do reverendo Martin Luther King, “I have a Dream” (Eu tenho um sonho), na Marcha por Empregos e Liberdade, no dia 28 de agosto de 1963, e que reuniu desta vez – mesmo em meio à pandemia – 50.000 pessoas em Washington a concentração se chamou: “Marcha do compromisso – tirem os joelhos de nossos pescoços”, uma alusão ao assassinato de George Floyd que foi morto por policiais brancos ajoelhados sobre ele por nove minutos para tirar-lhe a vida intencionalmente.
A marcha foi convocada pela organização Rede de Ação Nacional (NAM, sigla em inglês), coordenada pelo reverendo Al Sharpton, um dos participantes do movimento pelos direitos civis encabeçado por King.
“Se as concentrações acontecem nos degraus do Memorial a Lincoln, ou nas ruas das comunidades, as pessoas se encontram neste momento com exigências e esperanças de mudanças”, afirma a convocatória da NAM.
A concentração deste ano em Washington acontece dias depois do assassinato com sete tiros pelas costas, diante de três de seus filhos, que deixou paralítico Jacob Blake, na cidade Kenosha, Estado de Wisconsin. Nas manifestações que se seguiram ao protesto, um jovem de 17 anos, armado, tirou a vida de dois manifestantes.
“Hoje há uma oportunidade que atravessa a nação de reunir as pessoas para enfrentar as injustiças raciais no interior de nossas polícias e diante de nossas casas”, afirma a convocatória da NAM, a qual se juntaram a NAACP (a mais tradicional organização antirracista dos Estados Unidos), a Liga Nacional Urbana, a Federação Hispânica e diversos sindicatos e grupos de defesa dos direitos civis.
As organizações também destacaram que o ato deste ano tem também como característica “o chamado à mobilização dos eleitores para as eleições de novembro”.
A ACLU (American Civil Liberties Union), divulgou, pouco antes do começo do ato, o discurso “I Have a Dream” de King quando centenas de milhares o assistiram no mesmo local de onde seu filho, Martin Luther King III, se dirigiu, nesta sexta-feira, à multidão para denunciar que “Ao invés da comunidade, Trump optou pelo caos”.
O deputado estadual que concorre ao senado por Washington, Charles Booker escreveu pouco antes do início da manifestação: “A marcha por Justiça ainda não se realizou. Dr. King tinha um sonho. Como legado daquele sonho, estamos de pé, agora, para exigir mudanças”.
“Basta! Basta!”, bradou o reverendo Al Sharpton, ao falar do mesmo lugar de onde Martin Luther King fez seu pronunciamento 57 anos atrás.
“Não viemos aqui hoje para assistirmos a um show. Só demonstrações sem mudanças legais não conduzem a transformações. Viemos para que vocês saibam e se preparem para que, em multidões como hoje, fiquemos ao sol ou na chuva, o dia inteiro se preciso for, diante das urnas”.
“Sempre escuto de como é insano que pais negros tenham que dizer a nossas crianças para se conservarem vivas, de termos que lhes explicar que, se um policial te parar não responda, não direcione sua mão ao porta-luvas do carro. Temos buscado essa conservação por décadas. Agora chegou a hora de uma conversação com toda a América, uma conversa sobre o racismo, sobre a mentira, sobre o ódio”, destacou Sharpton.
Ele respondeu com firmeza às acusações de Trump contra os manifestantes que tomaram o país de costa a costa após a morte de Floyd: “Não viemos para começar confusão. Viemos para parar com a confusão. Chega de agir como se não fosse problema atirar em nossas costas. Como se não fosse problema nos estrangular enquanto gritamos ‘Não consigo respirar’. Como se não fosse problema apertar um homem ao chão até que a vida dele se esvaia”.
Referindo-se à fala de Trump na Convenção Republicana, questionou: “Como pode falar, enquanto este jovem Jacob Blake está acamado em um hospital, sem dizer o seu nome?”