Hugo Godoy, presidente CTA (dos Trabalhadores e Trabalhadoras) condenou o rentismo dos que, ao invés de governar, ousam “passar uma motosserra sobre o que resta do Estado social”.
Os manifestantes tomaram as ruas de Buenos Aires e de todo o país para denunciar o desgoverno de Javier Milei e exigir uma “pátria livre e soberana, com paz e justiça social”
“Por uma Argentina sem Fome, com Paz, Justiça Social e Soberania”, centenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas de Buenos Aires e de todo o país na última quinta-feira (5), erguendo vozes, faixas e cartazes em repúdio à política subserviente de Javier Milei ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e aos especuladores.
No centro da capital, diante uma Praça de Maio lotada, as duas Centrais de Trabalhadores da Argentina se somaram a um amplo leque de entidades do movimento popular e social, de pequenos e médios empresários, de produtores da cidade e do campo, de direitos humanos, igrejas, personalidades e de lideranças de parlamentares e partidos políticos de oposição.
“Estamos vivendo a dor de um momento que nos atinge a todos, sabendo que sentimos a angústia e a raiva de ver um país com riquezas e recursos tornar-se o banquete dos donos do poder econômico enquanto nega pão e remédios aos aposentados e trabalhadores”, afirmou Hugo Yasky, secretário-geral da CTA dos Trabalhadores. “Temos hoje 18% de indigência, enquanto consumimos menos carne do que há 18 anos”, acrescentou.
“Ao mesmo tempo em que os aposentados não vão mais receber remédios gratuitos, temos a imagem vergonhosa de um senador que se vendeu e foi pego na fronteira com 200 mil dólares”, recordou Yasky, destacando que “para aqueles que dizem que querem acabar com a corrupção, aqui está um fio que conecta esse senador que votou todas as leis com a Casa Rosada”. “A partir de hoje construímos um sujeito social que não se ajoelha e que sairá à luta em defesa do país”, enfatizou.
A seu lado, o dirigente da CTA dos Trabalhadores e Trabalhadoras, Hugo Godoy, denunciou que são os mais ricos, que sustentam o círculo financeiro, “os que não só querem governar, mas passar uma motosserra sobre o que resta do Estado social”. Para tornar isso possível, aumentam cada vez mais a repressão, adotando o receituário de um Estado repressor, tentando até mesmo que os manifestantes digam não. Desta forma, denunciou, “hoje a polícia quis impedir que ônibus chegassem até aqui, mas não conseguiram, porque temos um povo que se levanta, que não se resigna, que se reafirma na verdade de que a única luta que se perde é aquela que se abandona, como dizem as nossas Mães e Avós da Praça de Maio”.
A multidão deixou evidenciada a dura realidade em que se encontram mergulhados os argentinos: a queda da renda, da produção e do consumo interno, junto com as demissões de trabalhadores das esferas pública e privada, o corte em áreas estratégicas do Estado, enquanto a fome e a pobreza se agudizam.
“SUBMISSÃO DE MILEI NOS TORNA PRESOS DAS MULTINACIONAIS“
Representantes da Frente Nacional Rural, conformado por trabalhadores e pequenos produtores, assinalaram a necessidade de estar unidos numa grande frente para não ficar mais seguir submetidos à lógica de um desgoverno que nos complica. E exemplificou: “Estão importando produtos mais baratos do que os que podemos produzir nós mesmos. Tínhamos o Instituto Nacional de Erva Mate (INYM) que regulava o preço da erva e eliminaram a capacidade de fixar preços. Agora estamos presos à lógica das multinacionais que definem o preço que nos pagam e o preço que cobram de vocês, enquanto eles se enriquecem”.
Deixando clara sua solidariedade à resistência e ao descaminho adotado por Milei, as organizações religiosas foram enfáticas: “Somos inspirados pelas forças da terra que buscam um presente e um futuro melhores para este povo e todos os povos”.
Militante pelos direitos humanos, a sobrevivente do centro clandestino de detenção [e tortura] Clube Atlético, Ana Maria Careaga, esclareceu que a luta também visa preservar a memória, a verdade e a justiça, “já que este é um governo que busca a impunidade dos repressores”.
Taty Almeida, Mãe da Praça de Maio, convidou os manifestantes a participaram da Marcha da Resistência, uma vez que “hoje, mais do que nunca, precisamos estar resistindo a este governo desumano, negacionista, que pretende apagar a memória, mas que não conseguirá”.
Na mesma linha, Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz, conclamou a todos a se unirem para avançar. “Há muita força e muita luta em todo país, força que precisa se somar para superar a este governo vende-pátria. A soberania não se vende, não se vende a segurança alimentar de nossos camponeses, da agricultura familiar que este governo quer destruir”, encerrou.