A remuneração dos atores “tem sido severamente desgastada”, afirma a atriz Fran Drescher, presidente do sindicato da categoria
Atores e roteiristas de Hollywood realizam a primeira paralisação conjunta em seis décadas anunciou, na quinta-feira (13/07), o sindicato dos atores (Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists SAG-AFTRA), que representa 160 mil atores sindicalizados de cinema, rádio e TV dos EUA.
Na noite da quarta-feira (12), o sindicato encerrou sem acordo as negociações de semanas com a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), órgão que reúne empresas como Netflix, Amazon, Apple, Disney, Warner, NBC Universal, Paramount e Sony.
Juntando-se à greve dos roteiristas que se estende desde o início de maio, os atores reivindicam que os grandes produtores cinematográficos concordem com uma remuneração ajustada pela inflação, pagamentos por ganhos residuais (como reprises ou obras destinadas a novas plataformas de streaming) e a solicitação de encomendas de séries com temporadas mais curtas, além da regulação da inteligência artificial.
“Depois de mais de quatro semanas de negociação, a AMPTP continua relutante em oferecer um acordo justo sobre as principais questões essenciais para os membros do SAG-AFTRA”, disse o sindicato em comunicado.
Além dos pagamentos quando estão atuando, os atores recebem royalties toda vez que uma produção em que participam é exibida na televisão, de acordo com conquistas anteriores da categoria. Agora os atores exigem que os serviços de streaming, como Netflix e Disney+, divulguem números de audiência, ao invés de pagarem aos atores a mesma taxa fixa, independentemente da audiência.
ACIONISTAS E CEOs LEVAM MILHÕES
A atriz Fran Drescher, presidente do SAG, assinalou que na última década a remuneração dos atores foi “severamente desgastada pela ascensão do sistema de streaming” e o desenvolvimento da Inteligência Artificial passou a representar “uma ameaça existencial para as profissões criativas”. “Todos os atores e performers merecem uma linguagem contratual que os proteja de ter a identidade e o talento explorados sem consentimento e pagamento”, apontou.
“Os estúdios afirmam que estão perdendo dinheiro enquanto dão salários de centenas de milhões de dólares para seus executivos. É ofensivo. Eles estão do lado errado da história. Todo o modelo de negócio foi alterado pelo streaming, pela inteligência artificial, temos que nos levantar. Não vamos mais aceitar isso”, afirmou Fran.
Ela apontou que a greve dos atores ocorre no momento em que os trabalhadores de todos os setores exigem salários justos e condições de trabalho dos empregadores que engordam as contas dos CEOs com salários e bônus multimilionários e também direcionam seus lucros para os acionistas enquanto cortam horas de funcionários, licença médica paga e salários.
“Os olhos do mundo e, particularmente, os olhos do trabalho estão sobre nós”, disse a atriz, mostrando que “o que está acontecendo conosco está acontecendo em todos os campos de trabalho. Quando os empregadores fazem de Wall Street e da ganância sua prioridade e se esquecem dos colaboradores essenciais que fazem a máquina funcionar, temos um problema.”
O sindicato lamentou ainda que a aliança que representa os estúdios de cinema e televisão tenha se “recusado a reconhecer que as enormes mudanças na indústria e na economia tiveram um impacto negativo sobre aqueles que trabalham”.
Já o CEO da Disney, Bob Iger, com salário anual de US$ 27 milhões (mais bônus), saiu em defesa dessa situação desequilibrada dizendo que roteiristas e atores não estão sendo “realistas” em suas demandas.
De acordo com uma ordem de greve publicada pelo sindicato, a paralisação se aplica aos empregados que atuam, cantam ou dançam, bem como aos dublês e manipuladores de marionetes ou profissionais que executam performances de captura de movimento.
Em maio, mais de 11.000 roteiristas de cinema e televisão entraram em greve, fazendo exigências semelhantes às dos atores, em especial em relação aos royalties de streaming.
ARTISTAS FAMOSOS SE ORGANIZAM NO MOVIMENTO
Em junho, um grupo de mais de 400 atores – incluindo os vencedores do Oscar Meryl Streep, Jennifer Lawrence e Rami Malek –havia pedido aos líderes do Sindicato dos Atores de Hollywood (SAG-AFTRA) que adotem uma “linha mais dura”, uma vez que as negociações contratuais, segundo eles, já haviam atingido um “ponto crítico”.
Esta é a primeira paralisação conjunta de atores e roteiristas em 63 anos, e deve ter um impacto significativo na produção de filmes e televisão. A greve também significa que estrelas sindicalizadas não poderão promover novos lançamentos ou participar de eventos do setor.
Artistas como Jamie Lee Curtis, Jeremy Renner, Matt Damon e Yvette Nicole Brown também estão entre os atores que se manifestaram a favor da greve. As estrelas que já participavam nos piquetes de apoio aos escritores incluem Jane Fonda, Susan Sarandon, Rob Lowe e Mark Ruffalo.
Duas estrelas do filme Oppenheimer, Cillian Murphy e Emily Blunt, abandonaram a première da produção na quinta-feira, horas antes de o sindicato convocar oficialmente a greve.
Se nos últimos dois meses, produções com roteiros já escritos puderam continuar, como “Gladiador 2”, “Mortal Kombat 2”, dentre outras, agora com a parada dos atores, a interrupção será praticamente completa.
Filmes prontos como “Barbie” e “Oppenheimer” terão sua divulgação afetada por causa da paralisação. A partir do anúncio da greve, atores estão proibidos de participar de eventos de divulgação de seus projetos.