Em Audiência Pública realizada na segunda-feira (20), na Câmara Municipal de São José dos Campos, estudiosos do setor de aeronáutica e engenharia, bem como representantes do Ministério Público do Trabalho (MPT) posicionaram-se contra a entrega da Embraer para a americana Boeing.
A audiência foi convocada pelo MPT em conjunto com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (Sindmetal-SJC) para discutir e envolver a população na compra, anunciada no dia 5 de julho através de um memorando que alega a formação de uma joint-venture (parceria), em que a gigante norte-americana terá o controle de 80% de uma nova empresa a ser criada.
Para o procurador do Trabalho Rafael de Araújo Gomes, se o comunicado for de fato cumprido, não haverá parceria, mas sim uma compra, pois o controle operacional e de gestão responderá diretamente ao presidente mundial da norte-americana. “Todo o controle dessa nova empresa que vai explorar a aviação comercial fica com a Boeing. Estamos falando de 100% da gestão pela Boeing e 0% de papel da Embraer na gestão. Numa parceria, junta-se expertise. Os parceiros se unem, desenvolvem e gerem juntos os negócios. Não é isso que as empresas estão anunciando”, afirmou.
Os professores Marcos Barbieri, da Unicamp, e Roberto Bernardes, da Faculdade de Engenharia Industrial da USP, vêm estudando essa aquisição e consideram que, “o que está em jogo é a soberania e o futuro do Brasil em termos de ciência e tecnologia, conforme alertou Bernardes. “Todos os grandes conglomerados de aviação e defesa (como é o caso da Embraer) possuem controle nacional. É Imprescindível a parceria com o estado”, explica Barbieri.
O MPT chegou a notificar o governo Temer, pedindo que ao menos fossem garantidos os empregos dos funcionários da Embraer, mas sequer isso Temer se comprometeu a garantir. “Estamos falando de extinção para sempre de empregos no Brasil, estamos falando de mais de 26 mil empregos, de R$ 3,3 bilhões por ano de folha de pagamento. A maior parte dos empregos está em São José dos Campos. Qual será o significado disso para esta cidade?”, questionou o procurador Rafael Gomes.
Já o presidente do Sindmetal-SJC e trabalhador da Embraer, Herbert Claros, denunciou que, a Embraer completou 49 anos e vive um de seus melhores momentos, como já disse o próprio presidente da empresa. Então, por que estão querendo vendê-la? Por um único motivo: para atender aos interesses dos donos da Embraer. Mais de 70% das ações são de estrangeiros. A empresa está sendo vendida para atender bancos americanos”.