Áudios reforçam que Temer pegou propina da Odebrecht, conclui PF

O amigo e operador de Temer, João Batista Lima. Foto: Reprodução

Em relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal na semana passada, a Polícia Federal afirmou ter encontrado fortes indícios de que Michel Temer recebeu R$ 1,4 milhão dos R$ 10 milhões que teriam sido acertados em jantar com executivos da Odebrecht.

Áudios foram entregues no âmbito do inquérito que apura o repasse de R$ 10 milhões da Odebrecht para o MDB a pedido de Temer. Segundo colaboradores da Odebrecht, o valor foi acertado em 2014, num jantar ocorrido no Palácio do Jaburu.

A Polícia Federal avaliou que os áudios entregues por Álvaro Novis, um dos colaboradores da Lava Jato, reforçam a suspeita de que a Odebrecht entregou dinheiro ao operador de Michel Temer, João Batista Lima, como contrapartida a benefícios para a empresa. Caberá à Procuradoria Geral da República avaliar o que a PF informou e decidir se oferece denúncia.

Leia abaixo as transcrições dos áudios comprometedores entregues por Novis à PF. Nas conversas, João Baptista Lima Filho fala com interlocutores. Lima é colaborador antigo e amigo íntimo de Temer e chegou a ser preso neste ano numa investigação que apura o pagamento de propina na edição do decreto dos portos. Seguem abaixo as transcrições dos áudios:

João Baptista Lima Filho – Alô.

Interlocutor – Seu João?

João Baptista Lima Filho – Ele mesmo.

Interlocutor – O pessoal está aí. O senhor está no local? Aquela encomenda…

João Baptista Lima Filho – Não, estou fora. Nós não falamos antes. Eu estou com uns compromissos agora, só vou estar lá na minha base por volta das 14h30. Como o senhor vê? Dá pra passar às 14h30?

Interlocutor – Eu vou ver aqui e retorno. O senhor está longe de lá, né?

João Baptista Lima Filho – Estou longe. Estou aqui para o lado de Santo Amaro. Com compromisso que não posso deixar de atender. Então, 14h30, 15h é que eu estou chegando lá na minha base.

Interlocutor – Então, vou ver se consigo marcar para as 15h.

João Baptista Lima Filho – O senhor faz favor e me dá uma ligada. Obrigado!

Depois dessa ligação, o coronel Lima ligou para a Argeplan. Minutos depois, telefonou para o celular da Vice-presidência da República, usado à época pela então chefe de gabinete de Temer.

Alguns minutos depois, Lima Filho ligou diretamente para o presidente Michel Temer. Foi um telefonema rápido, de 55 segundos. Em seguida, dois minutos depois, Lima recebeu uma ligação de uma pessoa que seria responsável por entregar o dinheiro.

 João Baptista Lima Filho – Alô.

Interlocutor – Seu João?

João Baptista Lima Filho – Ele mesmo.

Interlocutor – Ah, sim. Bom dia.

João Baptista Lima Filho – Tudo bem.

Interlocutor – Bem, hoje, então, aquela reunião foi adiada e vai ser entre 3 e 5 horas. Das 15h às 17h.

João Baptista Lima Filho – Ok, estou por lá nesse horário.

interlocutor – Tá. Só que nós temos três etapas dessa reunião, que vai ser quinta e sexta-feira. Agora quinta e sexta. Eu queria ver com o senhor se pode ser entre 10 e 12 horas, na quinta e na sexta?

João Baptista Lima Filho – Veja se vocês podem me fazer isso daí às 12 horas. Eu faço de tudo pra estar as 12 horas. É possível?

Interlocutor – De 12 vão marcar, então, porque sempre tem que dar um espaço de tempo, vamos marcar de 12 a que horas?

João Baptista Lima Filho – 12 às 13h, tudo bem?

Interlocutor – 12 às 13, nos dois dias. Então, está combinado.

João Baptista Lima Filho – Combinado. Um abraço.

Interlocutor – Combinado. Até logo. Tchau.

Poucos minutos depois dessa ligação, Lima voltou a telefonar para o celular de Michel Temer, com quem conversou por cerca de cinco minutos.

Dias depois, quando, segundo a PF, as entregas foram concluídas, um interlocutor identificado como Márcio ligou para o coronel Lima para confirmar se estava tudo certo.

João Baptista Lima Filho – Alô.

Márcio – João?

João Baptista Lima Filho – Ele.

Márcio – Opa, aqui é o Márcio, tudo bom?

João Baptista Lima Filho – Tudo bem, Márcio.

Márcio – Eu recebi um recado aqui. Sinceramente, não estou entendendo, acho que a pessoa está se expressando mal aqui, eu não estou entendendo. Nós tivemos 3 reuniões, quarta, quinta e sexta. Fiz uma na quarta, fiz uma na quinta e na sexta você ia demorar e me pediu que entregasse ao Silva.

João Baptista Lima Filho – Isso. Isso.

Márcio – Então, as três reuniões foram concretizadas.

João Baptista Lima Filho – Tudo bem. Tem alguma previsão pra mais alguma coisa ou não?

Márcio – Não. Ainda não tem informação nenhuma.

João Baptista Lima Filho – Tá bom, então.

Márcio – Então, mas essas três foi tudo certinho. O pessoal tá se expressando mal aqui, tá fazendo uma confusão do cacete.

João Baptista Lima Filho – Tudo bem. A última, de sexta-feira…

Márcio – Sei…

João Baptista Lima Filho – Em que foi entregue ao Silva as atas. Elas não foram iguais às atas anteriores. Um pouco abaixo.

Márcio – É um pouco abaixo, porque o número era quebrado.

João Baptista Lima Filho – Tá certo. Tá certo…

Márcio – Tá bom?

João Baptista Lima Filho – Tá entendido, então.

Márcio – Ok.

João Baptista Lima Filho – Eu agradeço.

Márcio – De nada. Um abração. Tchau.

João Baptista Lima Filho – Obrigado. Um abraço. Tchau.

 

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