Uma barragem em Ouro Preto, a 96 km de Belo Horizonte, entrou em estado de alerta após ser identificada uma trinca significativa na barragem Forquilha V, da mineradora Vale. A constatação foi confirmada na noite de segunda-feira (05) pela Agência Nacional de Mineração (ANM). A unidade apresenta risco potencial alto e vidas humanas podem ser atingidas em caso de incidente ou rompimento, alerta o órgão.
Após a inspeção, a ANM determinou à mineradora a limpeza e o monitoramento da progressão ou estabilização das fissuras. A Vale também terá que enviar relatórios com o monitoramento da situação da estrutura, das medidas de segurança implementadas e um estudo sobre as causas do problema.
A população do distrito de Antônio Pereira, onde está localizada a barragem, vive em estado de alerta pela ameaça de um rompimento. A unidade foi construída através do método de alteamento a montante. Ou seja, é a mesma técnica utilizada na barragem da Mina Córrego do Feijão, também de propriedade Vale, que se rompeu em 2019, em Brumadinho (MG), e da barragem do Fundão (de propriedade da Samarco / Vale / BHP Billiton), que se rompeu em 2015, em Mariana (MG).
A mineradora alegou que foi a equipe técnica da própria companhia que identificou as fissuras e comunicou a AMN. Apesar da determinação da Situação de Alerta, a Vale diz que as fissuras não promovem alterações nas condições de estabilidade da barragem. Acrescentou, em nota, que um plano de ação já está em andamento para diagnóstico e tratamento da situação e que a estaria sendo monitorada 24 horas por dia.
Em nota, a mineradora disse que a barragem não tem influência sobre outras barragens do complexo e que “não há comunidade e estruturas operacionais na sua Zona de Autossalvamento (ZAS)”. No entanto, segundo relatório público pelo órgão federal, há presença de pessoas a jusante da barragem que seriam atingidas em um possível rompimento.
Zonas de Salvamento inclui toda região em que não exista tempo suficiente para uma intervenção das autoridades em uma emergência. Para delimitá-la, adota-se a distância que corresponde a um tempo de chegada da onda de inundação igual a 30 minutos ou 10 km.
A Vale não respondeu, até o momento, questionamentos da imprensa sobre quais comunidades poderiam ser atingidas caso houvesse um rompimento.
MINA MAR AZUL
Também em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, a população sofre as consequências da mineração predadora estimulada pela gestão Romeu Zema (NOV). “Apesar de propagandear para todo o país que a população de Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG) está mais segura com a descaracterização da barragem B3/B4, o empreendimento da mina Mar Azul, de propriedade da mineradora Vale, segue causando danos aos moradores da região e está longe de ser um problema resolvido”, diz texto publicado pelo MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), em sua página eletrônica.
“Isto porque”, continua a entidade, “desde maio, os moradores têm convivido com o barulho intermitente e a poeira incessante gerados pela demolição da Estrutura de Contenção à Jusante (ECJ) da barragem.
No último dia 25, os atingidos de São Sebastião das Águas Claras, distrito de Nova Lima, denunciaram a situação ao Ministério Público de Minas Gerais e à Fundação Estadual de Meio Ambiente. No início do mês, os atingidos também entregaram uma carta à ministra de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, segundo o MAB.
No documento, o MAB e a Associação de Pessoas Atingidas por Mineração (APAM) cobram a paralisação imediata das obras de demolição da ECJ e pedem que a mineradora apresente à comunidade alternativas para a solução do problema. Solicitam também a contratação de auditoria técnica para verificar a dimensão dos ruídos da obra e abertura de inquéritos civil e criminal para apurar o caso.
“A comunidade atingida, da região do Capela Velha – majoritariamente formada pela população negra – é uma das mais vulnerabilizadas no Macacos e da cidade de Nova Lima, que é a cidade com maior presença de ricos do Brasil. Agora, tem que suportar a empresa fazendo obras que desrespeitam os níveis permitidos pela legislação de poluição sonora e do ar. As mineradoras não internalizam os custos de suas operações e deixam o povo pobre pra ‘pagar o pato’, jogando com a impunidade e se aproveitando da falta de acesso à justiça das comunidades periféricas”, critica Artur Colito, integrante do Coletivo de Direitos Humanos do MAB.
“Nós estamos sofrendo com falta de ar, as crianças pondo sangue pelo nariz, todo mundo com muita dor de cabeça. Quem estava sem tomar remédio teve que voltar a tomar. A poeira e a depressão estão tomando conta. O ser humano que vive sob esse estresse o tempo todo, nessa situação insalubre, não vai ficar bem”, denuncia a atingida Cláudia Santa Prates.