Em ata, diz que “há progresso desinflacionário relevante”, mas segue com os juros elevados estrangulando a produção e o consumo
Em ata, divulgada nesta terça-feira (19), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reconheceu que o país vive um processo de desinflação, mas deixou claro que não vai acelerar os cortes na taxa básica de juros (Selic), hoje em 11,75% ao ano, mantendo o juro real elevado e a desaceleração econômica no país em 2024.
“O Comitê avalia que houve um progresso desinflacionário relevante”, disse o Copom, e afirma que em “relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista.
Enquanto o BC defende “serenidade e moderação na condução da política monetária”, a economia imbicou para baixo na virada do segundo trimestre, após o fim dos efeitos positivos da safra recorde de soja e milho. Diante de muita pressão social, o BC, presidido por Roberto Campos Neto, só começou o ciclo de cortes na Selic no início de agosto, após deixar a taxa fixada em 13,75% ao ano por 12 meses.
Os quatro cortes de 0,5 ponto percentual Selic até agora sustentam o Brasil entre as maiores taxas de juros do mundo, o que inibe os investimentos, o consumo de bens e serviços e trava a geração de empregos no país.
No terceiro trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto brasileiro (a soma dos bens e serviços finais produzidos no país) variou em alta de apenas 0,1%, em comparação com o segundo trimestre (1%).
“No que se refere à atividade econômica doméstica, a divulgação referente ao PIB do terceiro trimestre indicou moderação do crescimento econômico, em linha com o cenário de desaceleração da atividade ao longo do segundo semestre antecipado pelo Comitê”, afirmou o BC.
Segundo o IBGE, os investimentos tombaram -2,5% no período em análise, sendo o quarto trimestre consecutivo de queda no indicador de Formação Bruta de Capital Fixo (FBC), que mede a ampliação da capacidade produtiva por meio de investimentos em máquinas e equipamentos, construção etc. Frente ao ano passado, os investimentos estão -6,8% em baixa, o maior declínio por esse tipo de comparação desde o terceiro trimestre de 2020.
“Observa-se uma maior desaceleração na concessão de crédito à pessoa jurídica, aliada a uma recomposição envolvendo relativamente menos crédito via setor bancário e mais via mercado de capitais”, diz outro trecho da ata do Copom.
No início do quarto trimestre a economia seguiu sem dinamismo. Em outubro ante o mês imediatamente anterior, o faturamento real dos serviços recuou -0,6%, as vendas do comércio registraram queda de -0,2% e a produção industrial variou 0,1%.
Com o resultado de outubro, o volume de serviços prestados no Brasil já acumula três quedas seguidas (-1,4% em agosto, -0,2% em setembro e -0,6% em outubro). Já a produção industrial nacional, após a queda de 0,6% em julho frente a junho, estagnou ( 0,4% em agosto, 0% em setembro e -0,1% em outubro). E, por sua vez, as vendas do comércio, desde julho, orbitam em torno de zero ( 0,6% em agosto, 0,0% em setembro e -0,4% em outubro).
Por outro lado, cresce a transferência de renda do povo aos bancos e outros agentes financeiros via o pagamento dos juros da dívida pública – que bateu a marca de R$ 720,1 bilhões (6,80% do PIB) no acumulado de 12 meses até outubro, o que corresponde a 146 bilhões do que o pago no mesmo intervalo de meses do ano passado (R$573,2 bilhões), segundo dados do BC.
Para garantir que os recursos do Orçamento Geral da União sigam sendo brutalmente sugados para o pagamento de juros e a amortizações da dívida pública, o Copom também voltou a fazer pressão para que o governo não desista da meta fiscal de déficit zero em 2024.
“Com relação ao cenário fiscal, tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, defendeu o BC – metendo o bedelho onde não é chamado, já que não cabe ao BC tratar de um tema que não lhe compete, mas ao Ministério da Fazenda.