Deputada líder dos fascistas diz que ligou para Alexandre de Moraes e mandou um e-mail. “Estou à disposição dele para conversar”, disse a parlamentar. Bolsonaro acusou o golpe e reclamou: “fui traído”
Depois da derrota de Bolsonaro na eleição presidencial e dos ataques criminosos de suas hordas fascistas às sedes dos Três Poderes começam a vir a público as desavenças entre integrantes “raízes” do bolsonarismo. O ex-presidente afirmou nesta quinta-feira (23) que a deputada Carla Zambelli o traiu e fez acordo com Alexandre de Moraes.
O ex-presidente afirmou que começou a desconfiar quando o magistrado desbloqueou os perfis da parlamentar nas redes sociais. Ele disse a interlocutores que ela fez um acordo com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, para retornar às redes sociais e se ver livre da ameaça de ser presa.
Na decisão em que desbloqueou os perfis da deputada no Facebook, Twitter, Instagram, TikTok, Gettr, WhatsApp e Linkedin, Moraes afirma que houve “a cessação”, por parte de Zambelli, “de conteúdos revestidos de ilicitudes e tendentes a transgredir a integridade do processo eleitoral”.
Nesta quinta (23), a deputada deu uma entrevista à Folha repleta de críticas a Bolsonaro. “Discordo da maneira como ele [o ex-presidente] levou aquele tempo todo [para falar após a eleição] e o silêncio que teve. Ele tinha que organizar a oposição, orientar a gente, ele tinha 28 anos de Câmara”, disse a deputada.
“Eu tinha o papel de defender Bolsonaro e o governo, qualquer um que os atacasse tinha que virar um alvo meu. Nesta legislatura, Bolsonaro não é mais presidente, então nosso alvo tem que ser Lula, seus feitos e desfeitos”, acrescentou.
Ao ser questionada se tem medo de ser presa, a deputada relata que, na verdade, o sentimento é outro. “Medo não é a palavra, mas expectativa, sim. Não como uma boa expectativa. Várias vezes fui dormir pensando que ia ter que acordar às 6h com a Polícia Federal na porta”, relatou.
Em 3 de janeiro deste ano, a PF chegou a cumprir um mandado de busca e apreensão em dois endereços da deputada. A ordem do ministro Gilmar Mendes, do STF, que mandou a PF recolher armas que não teriam sido entregues por ela. Em dezembro de 2022, Gilmar havia dado 48 horas para a deputada entregá-las às autoridades. Ela não cumpriu.
Ela disse também que atacava o Supremo para “proteger” o ex-presidente. E admitiu que partiu dela a iniciativa de lançar uma ponte de diálogo com Alexandre de Moraes. “Liguei [para Alexandre de Moraes] e mandei um e-mail. Alguns dias depois, minha rede foi devolvida, pode ter sido um gesto. Estou à disposição dele para conversar. Porque ele vai ser um alvo do PT daqui a pouco. O PT não vai se contentar em indicar somente os dois ministros que vão se aposentar”, afirmou ela na entrevista.
A parlamentar afirmou, ainda, que agora é contra o impeachment de Alexandre de Moraes, defendido por Bolsonaro quando ainda estava no comando do país: “Bolsonaro não ganhando, a gente tem que virar a chave. Qualquer impeachment no STF, o substituto vai ser indicado por Lula. Pode entrar uma pessoa que faça as maldades do Alexandre de Moraes parecerem uma criança chupando picolé”.
“Na live que Bolsonaro fez em 30 de dezembro, ele tinha que ter deixado claro o que pensava. Ele seria um remédio se tivesse dito que era para as pessoas saírem dos quartéis”, disse ainda Zambelli. Tínhamos que mostrar nosso descontentamento até para incentivá-lo a ser a voz da oposição”, declarou a parlamentar. “Agora, a gente está em outro patamar, agora não é hora de bater no STF, não é hora de fazer manifestação”, completou a deputada.