
Ainda em Davos, onde foi participar do Fórum Econômico Mundial, Jair Bolsonaro recebeu a jornalista Lally Weymouth para uma entrevista ao jornal The Washington Post. Ao ser perguntado sobre o envolvimento de seu filho mais velho, o deputado estadual e senador eleito pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, com a milícia que atua no Estado, ele respondeu: “não é da sua conta”.
A jornalista perguntou sobre o escândalo envolvendo Flávio, que também empregou pessoas com laços estreitos com membros da milícia. A resposta completa à jornalista: “Este não é um assunto de governo – ou da sua conta – mas eu vou dar minha opinião. Seu nome de família, Bolsonaro, é a razão. É resultado de acusações políticas ao meu governo”.
Segundo a matéria, a repórter também perguntou se ele podia “assegurar à comunidade LGBT que eles têm lugar no seu Brasil”. Bolsonaro disse que “todos têm lugar no nosso Brasil”. Pouco depois da entrada no ar da entrevista, outro filho de Bolsonaro festejava no Twitter o autoexílio do deputado Jean Wyllys (PSOL/RJ), noticiado pela imprensa internacional como resultado de “ameaças de morte” de bolsonaristas.
Dias antes, Jair Bolsonaro afirmou que a pressão para que seu filho Flávio explique as movimentações suspeitas em sua conta tem o objetivo de atingir seu governo. “Eu acredito nele, a pressão enorme em cima dele é para tentar me atingir”, disse em entrevista à RecordTV em Davos, na quarta-feira (23).
Mais cedo, em entrevista à Bloomberg TV, ele havia dito que, se ficar provado que Flávio cometeu algum ilícito, ele terá de pagar o preço. “Se, por acaso, ele errou e isso ficar provado, eu lamento como pai, mas ele vai ter que pagar o preço por essas ações”, afirmara.
À RecordTV, no entanto, Bolsonaro mudou o tom, tentando amenizar a situação. Reclamou que as acusações contra Flávio seriam “infundadas”, que houve quebra do sigilo bancário pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e até chamou o senador eleito de “garoto”.
“Nós não estamos acima da lei, como qualquer outro estamos embaixo da lei. Agora que cumpra a lei, não faça de maneira diferente para conosco. Não é justo atingir o garoto para tentar me atingir”, repetiu.
Flávio, o “garoto” de 37 anos, está no noticiário desde que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostrou que Fabrício Queiroz, ex-motorista dele na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, movimentou R$ 1,2 milhão em sua conta de maneira suspeita. O documento apontou operações bancárias suspeitas de 74 servidores e ex-servidores da Alerj.
O MP-RJ abriu uma investigação sobre o caso, que acabou resvalando no parlamentar. Em novo relatório do Coaf, Flávio Bolsonaro aparece com quase 48 depósitos em dinheiro na sua conta, no total de R$ 96 mil, em apenas um mês. Todos com o mesmo valor: R$ 2 mil.
O “garoto” de Jair Bolsonaro também foi pego em ligações com a milícia, que age em grilagem de terras no Rio. Uma força-tarefa do MP-RJ e da Polícia Civil prendeu o major Ronald, que foi homenageado por Flávio com uma moção de louvor na Alerj em 2004.
A mãe e a mulher de outro denunciado na mesma operação, realizada na terça-feira (22), trabalharam no gabinete dele na Assembleia Legislativa.
W. F.