Disse que não participaria da junta que tomaria o poder com a operação “Punhal Verde Amarelo”. A operação mataria Lula, Alckmin e Moraes. O “mito” acusou os militares que o cercavam por esses crimes. Braga Netto já pulou
Jair Bolsonaro arrasou o país, esfolou o povo, torrou as empresas públicas, tirou direitos sociais, estimulou o vírus da Covid e foi derrotado nas urnas pelo povo brasileiro. Mesmo assim, ele não queria largar de jeito nenhum o poder. Tramou um golpe de Estado para impedir a posse do vencedor das eleições – e até matar – Lula e seu vice, Geraldo Alckmin. Até o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, estava em sua mira assassina.
Os comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, confirmaram em depoimento à Polícia Federal que receberam a proposta de golpe de Estado diretamente de Jair Bolsonaro e afirmaram que o chefe da Marinha, Almir Garnier Santos, foi o único a se colocar à disposição do então presidente. Freire Gomes não só recusou-se a participar como ameaçou Bolsonaro de prisão.
Impedido de dar o golpe fascista pela grande resistência da sociedade, mas, principalmente, pela recusa do Alto Comando Militar em embarcar em sua aventura antidemocrática, Jair Bolsonaro tenta agora tirar o corpo fora e culpar os generais que o acompanhavam pelos seus crimes. A nova linha de defesa do golpista é de que seriam os militares os beneficiados da operação “Punhal Verde Amarelo”, descoberta pela Polícia Federal e que pretendia matar as autoridades já assinaladas,
A narrativa atual do advogado de defesa do “mito”, Paulo Amador da Cunha Bueno, de que o roteiro previa a criação de um “gabinete de crise” do qual Bolsonaro não faria parte, não convence ninguém. É mais uma tentativa espúria de livrar Bolsonaro da cadeia. A nova versão, além de não convencer ninguém, é uma confissão de crime e está criando uma grande confusão nas hostes golpistas que cercavam e bajulavam o ex-presidente. Eles estão sendo abandonados à própria sorte e até acusadas por ele.
A alegação de Cunha Bueno de que “quem seria beneficiado seria uma junta criada após a operação Punhal Verde Amarelo” sem Bolsonaro não corresponde à verdade dos fatos. O golpe era para manter Bolsonaro no poder, mesmo tendo perdido as eleições. Ele, portanto, não precisaria participar de junta nenhuma. Não precisava estar na junta arquitetada pelos golpistas, porque, estaria mantido no Planalto mesmo derrotado.
Ao insistir nessa versão, o advogado deixa claro que Jair Bolsonaro decidiu rifar completamente os seus comparsas do golpe para tentar se livrar sozinho da cadeia. “O que está escrito no arquivo não beneficia o meu cliente”, diz Cunha Bueno. “Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo”, alegou o defensor de Bolsonaro.
A alegação arranjada pela defesa de Bolsonaro não deixa de ser uma confissão de que havia realmente um plano de golpe. A diferença é que o chefe da intentona decidiu culpar apenas os seus comparsas pela trama criminosa. Em nota divulgada no sábado, o general Braga Netto, vice na chapa de Bolsonaro, chamou de “tese absurda e fantasiosa” a hipótese de que estaria envolvido em um “golpe dentro do golpe”.
Todas as alegações da defesa de Bolsonaro conflitam com as provas, depoimentos, documentos e trocas de mensagens. coletadas ate agora pela Polícia Federal. Tudo foi feito sob coordenação direta conhecimento integral de Bolsonaro e seu círculo íntimo de colaboradores. Neste círculo havia militares como o general Heleno, o general Braga Neto e até o comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, mas o chefe era Jair Messias Bolsonaro.
A investigação foi concluída na semana passada pela Polícia Federal. O relatório final foi divulgado. O país inteiro tomou conhecimento. Agora, a Procuradoria-Geral da República (PGR), Paulo Gonet, decidirá se apresenta ou não uma denúncia contra os envolvidos nos crimes investigados. Caso a acusação seja formalizada, os investigados poderão apresentar uma resposta oficial, antes de a acusação ser apreciada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).