No final da tarde de sábado (8), Jair Bolsonaro voltou a agredir e atacar a cobertura da imprensa.
Na porta do Palácio da Alvorada, ele falou o que quis contra a mídia, disse que não ia dar entrevista e deu uma banana para os jornalistas.
Ele deixou a residência oficial com destino a um evento evangélico no estádio Mané Garrincha. Parou para falar com apoiadores, mas disse que não responderia às perguntas dos repórteres.
Mostrou-se especialmente incomodado com as reportagens publicadas na quarta-feira (5), quando, ao defender o programa de prevenção à gravidez na adolescência da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), afirmou que uma pessoa com HIV — vírus da Aids — representa “uma despesa para todos no Brasil”.
E se queixou que está “levando porrada de tudo quanto é grupo de pessoas que têm este problema lamentavelmente”. Segundo Bolsonaro, a imprensa distorceu o que ele falou e focou que “o aidético é oneroso no Brasil”
“Eu falei: o que que faltou? Faltou uma mãe, uma avó que pudesse dar orientação para não começar a fazer sexo tão cedo. Qualquer pessoa com HIV é uma pessoa que, além do problema de saúde gravíssimo, que temos pena, é custoso para todo mundo”, disse Bolsonaro na nova versão do que falou.
Bolsonaro não se queixou de que o que foi publicado pela imprensa sobre o assunto é falso, que não é verdade. Reclamou que o que foi publicado, expressando a verdade do que ele falou, o fez levar “porrada de tudo quanto é grupo de pessoas que têm este problema lamentavelmente”.
Com isso ele está querendo dizer que o que é bom para ele deve ser publicado e o que não é deve ser censurado. Provavelmente ele quer que a mídia se transforme numa assessoria de imprensa do Palácio do Planalto.
Bolsonaro também reclamou da cobertura sobre a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nos combustíveis, quando ele cobrou dos governadores a baixarem o imposto. Ele declarou que não ouviu “uma matéria legal, decente”.
Para Bolsonaro, “decente” é o que ele gosta e lhe traz benefícios. Segundo ele, “este não é o papel da imprensa”. “Vocês não podem continuar agindo assim, destruindo reputações. Vê se vai ter alguma retificação de vocês no jornal amanhã? Não vai deixar porque o editor não vai deixar ir para frente. Eu quero conversar, quero ser amigo de vocês, mas não dá”, protestou.
“É só fofoca, é só intriga. Fica ruim conversar com vocês. Sei que muitos de vocês não têm culpa porque passa pela mão do editor, que está rindo”, afirmou.
Antes de entrar no carro, Bolsonaro fez o gesto de banana para os jornalistas. “Vou dar uma banana para vocês, tá ok?”, disse Bolsonaro, seguindo para o estádio sob a escolta de batedores.
Sobre “destruir reputações”, muito coisa sobre isso está vindo à luz, revelando como a campanha eleitoral de Bolsonaro e o bolsonarismo usaram e têm usado maciçamente as redes sociais para destruir reputações, alijar adversários e mentir.
Muitas das revelações têm surgido na CPMI das Fake News em andamento no Congresso.
Em depoimento na comissão, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, disse que as milícias digitais bolsonaristas agem como “gangues de rua”, que fazem “estardalhaço e ataques”. De acordo com Santos Cruz, as condutas ilegais devem ser reprimidas pela Justiça. “Há comportamentos semelhantes a gangues de rua: xingamentos, condutas marginais”.
“É a tentativa de humilhação, de intimidação. Temos que separar o que é liberdade de expressão. A liberdade de expressão não significa que você pode xingar indiscriminadamente, humilhar, intimidar, destruir reputações. A liberdade de expressão com toda essa tecnologia disponível não eliminou o Código Penal. Tem condutas que podem ser criminosas? Tem, sem dúvida nenhuma. A calúnia, a difamação e a injúria continuam no Código Penal”, apontou.
A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), vítima das milícias digitais bolsonaristas e que está brigada com o bolsonarismo, disse que “Eduardo Bolsonaro está amplamente envolvido” nas milícias digitais, e que outros deputados federais e estaduais e membros do Palácio do Planalto fazem parte do “gabinete do ódio” montado para atacar opositores.
“O que eu vou mostrar aqui é fruto da investigação que eu comecei a fazer com muito mais intensidade depois que eu virei o alvo de ataques coordenados na internet. Inclusive os laudos são assinados por um perito renomado”, explicou ela à CPI.
O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), antes ligado a Bolsonaro, confirmou o que Joice revelou e afirmou que assessores ligados à Presidência da República comandam as “milícias digitais” e controlam “perfis falsos em excesso”. “O Planalto virou o porto seguro de terroristas digitais”, afirmou Frota, também depoimento à CPMI.
Por fim, Bolsonaro também se fez de vítima, comentando as reportagens sobre o filho de Lula, Fábio Lula da Silva.
O jornal Folha de S. Paulo publicou reportagens revelando detalhes do material apreendido pela Polícia Federal durante a fase Mapa da Mina da Lava Jato, deflagrada em dezembro e que apura se dinheiro repassado pela Oi a sócios do filho de Lula foi usado para a compra do sítio de Atibaia (SP).
Em contrapartida, no sábado (8), ela publicou o artigo “Fábio Lula da Silva e o peso de um sobrenome”, de Marco Aurélio de Carvalho, advogado que atua na defesa do filho do ex-presidente Lula.
Bolsonaro não falou nada sobre a primeira reportagem contra o filho de Lula – provavelmente porque gostou dela – mas reclamou do artigo do advogado em defesa do Lulinha
Para Bolsonaro, com isso o jornal está “defendendo o filho do Lula. Está sendo perseguido porque é filho do Lula”. E se queixou que a imprensa persegue a sua família, referindo-se a seus filhos.
Principalmente Flávio Bolsonaro, atual senador, que ele tenta a todo custo blindar das denúncias de desvio de dinheiro quando era deputado no Rio de Janeiro. Fabrício Queiroz, seu ex-assessor, operava o esquema que arrecadava dinheiro dos funcionários do gabinete de Flávio, alguns fantasmas.
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