Capitão cloroquina inventou que a mãe tomou a vacina da Oxford/AstraZeneca. Mas o cartão de imunização o desmente: ela foi vacinada com a vacina do Butantan
Jair Bolsonaro trabalha tão intensamente contra a vacinação da Covid-19 que até a sua mãe, dona Olinda Bonturi Bolsonaro, de 93 anos, ele tentou impedir que fosse imunizada.
Ele tem a ideia fixa de que a única coisa que presta contra a Covid-19 é a cloroquina. O irmão mais velho, preocupado com a possibilidade dela se infectar, insistiu e a família resolveu não aderir ao boicote do “capitão cloroquina”.
Vencido em sua teimosia de querer impedir que a mãe fosse vacinada, Bolsonaro arrumou outra confusão com a imunização de dona Olinda. Não quer admitir de jeito nenhum que sua mãe foi vacinada com a CoronaVac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa chinesa Sinovac.
Afinal, ele atacou a vacina de todas as formas possíveis. Ao contrário dos dados oficiais, ele espalhou que a CoronaCav provocaria doenças, deformações e até a morte. Agora, foi obrigado a comprá-la. E o que mais o irrita é que ela é fabricada pelo governo João Doria (PSDB), seu adversário político.
Dona Olinda foi imunizada no último dia 12 contra a Covid-19 com a CoronaVac, que aliás, por causa da sabotagem de Bolsonaro às vacinas, é praticamente a única em uso no Brasil. Foram entregues 12 milhões de doses pelo governo de São Paulo, e, nesta terça-feira (23), serão entregues pelo Butantan mais um lote de 2,7 milhões de doses.
A vacina da Oxford/AstraZeneca, que o governo federal contratou está em falta. Por problemas de não cumprimento de prazos, o Brasil está com apenas 2 milhões de doses dessa vacina sendo usadas.
Em transmissão ao vivo de quinta-feira, no dia 18 deste mês, Bolsonaro inventou que sua mãe tomou o imunizante de Oxford, fornecido pela Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz). A afirmação é surreal porque ele próprio mostrou o cartão que indicava o uso da CoronaVac.
A data prevista para a segunda dose, que consta no cartão de vacinação de dona Olinda, é 5 de março, ou seja, 21 dias depois da primeira dose, como recomenda a CoronaVac. Se fosse o imunizante da Oxford/AstraZeneca, como insiste Bolsonaro, a segunda dose seria ministrada apenas depois de 12 de abril.
Afundado em sua insanidade, Bolsonaro resolveu acusar o profissional de saúde que vacinou sua mãe de ter falsificado o cartão de vacinação. Sem suportar a notícia dada pela imprensa de que sua mãe tomou a “vacina do Doria”, ele disse que o enfermeiro falsificou o cartão. “Ele retornou à casa da família, em Eldorado (SP), rasgou o comprovante de vacinação que continha a palavra “Oxford” e trocou por outro, que indicava o Butantan, disse Bolsonaro.
“Ela foi vacinada e aconteceu uma coisa que é inacreditável. Ela mora no estado de São Paulo, no Vale do Ribeira. A imprensa noticiou, aqui comigo tá o Portal R7 exibindo a foto da minha mãe”. O presidente leu a manchete “Mãe de Bolsonaro tomou CoronaVac, apresentação dados oficiais “, disse Bolsonaro na live. E completou: “O cara (enfermeiro) foi embora, vacinou minha mãe e foi embora. Duas horas depois o cara volta apavorado na casa da minha mãe, chama a pessoa que acompanhou ela, pega o cartão de vacina dela e rasga”, disse.
O irmão do capitão cloroquina vai ter que ficar esperto senão, com mais esa confusão, ele vai atrapalhar também a segunda dose da dona Olinda, que deverá ser aplicada no dia 5 de março.
O empenho de Bolsonaro em atrapalhar a campanha de vacinação é enorme. Se depender só dele, a mãe ficará exposta ao vírus. Tanto que até agora ele não executou 91% dos recursos autorizados pelo Congresso Nacional aprovou para a aquisição de vacinas. Faz de tudo para não comprar as vacinas que o país precisa. Não por acaso, o Brasil foi o 57º país a iniciar a vacinação de sua população.
A empresa brasileira União Química já anunciou que tem parceria com o Instituto Gamaleia da Rússia e que pode entregar imediatamente 10 milhões de doses da vacina Sputnik V, que já está em uso em diversos países do mundo, com alta segurança e eficácia de 91,7%, e que pode produzir 8 milhões de doses por mês.
Mesmo assim, Bolsonaro orienta seu preposto na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a protelar a aprovação de seu uso emergencial no Brasil. Enquanto isso, muito poucos foram vacinados, menos de 3%, enquanto continuam morrendo mais de mil brasileiros por dia de Covid-19 e o país já amarga o número de 244 mil mortos desde o início da pandemia.
Em meio a maior crise sanitária que o país já viveu nos últimos 100 anos, Bolsonaro e seu ministro da Saúde, general Pazuello, atrapalham descaradamente a vacinação da população. Fazem isso acoplado à propaganda enganosa da cloroquina. Não por outro motivo, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou para a Procuradoria Geral da República (PGR) uma notícia-crime contra Bolsonaro pela defesa do uso de cloroquina durante a pandemia. Esses remédios são ineficazes contra a Covid-19.
A ação foi apresentada pelo PDT e denuncia a produção de 3,2 milhões de comprimidos de cloroquina e hidroxicloroquina pelo Exército com dinheiro do Sistema Único de Saúde (SUS). O próprio Tribunal de Contas da União (TCU) também concluiu “não haver amparo legal” para o uso de recursos do SUS na distribuição de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento para Covid-19.
“Foi nesse contexto que o Exército produziu 3,2 milhões de comprimidos de cloroquina a partir de solicitações dos Ministérios da Defesa e da Saúde, tendo o gasto da produção dos medicamentos orbitado pelo importe de R$ 1,6 milhão, com pelo menos 09 (nove) dispensas de licitação realizadas pelo Laboratório Químico do Exército, para adquirir insumos e o princípio ativo da droga”, diz a legenda na ação.
S.C.