Pervertido afirmou que o deputado que ameaçou invadir e esmurrar os ministros do STF é um “injustiçado”. Defendeu a divulgação dos nomes dos servidores da Anvisa que aprovaram a vacina infantil para, no dia seguinte, chegarem mais de 100 ameaças de morte no site do órgão
Jair Bolsonaro defendeu na segunda-feira (17), em entrevista à Rádio Viva, do Espírito Santo, que os integrantes de seu “gabinete do ódio” possam cometer crimes sem serem molestados pelas autoridades.
“Eles estão perseguindo o nosso lado”, disse o mandatário ao comentar a prisão, ocorrida em fevereiro, do deputado Daniel Silveira, do PSL, por ameaçar de morte os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Nada de mais, a seu ver.
Ele disse que vai conversar com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sobre a medida provisória (MP) que dificultaria a ação das redes sociais para apagar conteúdos publicados por usuários. Editada por Bolsonaro em setembro do ano passado, na véspera de sua provocação golpista de 7 de Setembro, a MP foi devolvida por Pacheco. Os senadores concluíram, na época, que não se pode confundir liberdade de expressão com atividades criminosas.
O deputado Daniel Silveira, embalado pelo golpismo de Bolsonaro, achou que poderia cometer crimes e permanecer impune. Ele usou as redes sociais para ameaçar de morte o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga as atividades antidemocráticas de Bolsonaro e sua trupe. Silveira foi preso e Michel Temer acabou sendo chamado para escrever uma “carta de arrependimento”, em que Bolsonaro enfiou o galho dentro depois das ameaças feitas em 7 de Setembro.
Agora, cada vez mais rejeitado pelas pesquisas e antevendo dificuldades nas eleições deste ano, o capitão cloroquina resolveu sair de novo em defesa de seu “gabinete do ódio”. Sobre Daniel Silveira, disse: “como parlamentar, tem até o que seria uma garantia para você e não é mais. Lá [na Constituição] está escrito que você é civil e penalmente inimputável por quaisquer palavras, opiniões e votos”. As “palavras” de Daniel que Bolsonaro defende, entre outras são: “por várias vezes já te imaginei levando uma surra. Você e todos os ministros”. “Vou entrar aí e te cobrir de porrada”.
Ele disse que “liberdade de expressão é sagrada”. O que ele considera “sagrado” mesmo é poder ameaçar os outros de morte. Foi exatamente isso o que ele fez ao usar uma live e pedir a liberação dos nomes dos servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que aprovaram a vacinação infantil contra a Covid-19. No dia seguinte à fala de Bolsonaro, mais de cem ameaças de morte chegaram ao site da Anvisa levando apreensão aos servidores e suas famílias. É esse tipo de crime que Bolsonaro chama de “liberdade de expressão”.
Em uma entrevista na década de 90, quando já era deputado, Bolsonaro defendeu abertamente a tortura, ao afirmar que a ditadura tinha errado ao não matar umas 30 mil pessoas. Que, se dependesse dele, isso teria acontecido. Agora se acha no direito de se apresentar como defensor da liberdade. “(…) porque essa sanha, esse poderio ditatorial de controlar as pessoas tem crescido, e a esquerda tem ganhado muito com isso daí, em detrimento das opiniões da direita”, disse ele à Rádio Viva.
O que o país fez, na verdade, foi controlar uns criminosos fascistas que, imitando o seu “mito”, acharam que poderiam invadir o STF “com um jipe e dois soldados”, ou que podiam fechar o Congresso Nacional e outras loucuras. O que os democratas brasileiros garantiram foi que os fanáticos insuflados por Bolsonaro fossem presos. Os mesmos que fizeram um bombardeio simbólico do Supremo e defenderam abertamente a volta do AI-5, instrumento da ditadura, responsável por centenas de mortes e desaparecimentos de oposicionistas no país.
Além de estimular ameaças, Bolsonaro também usou as redes sociais para sabotar a luta contra a Covid-19. Neste caso, até mesmo as plataformas se encarregaram de tirá-lo do ar. A CPI da Pandemia também o denunciou como responsável por milhares de mortes.
“Nós temos assistido derrubada de páginas no Facebook, desmonetização de outras, mas só de gente do nosso lado. Gente que defende a família, defende os bons costumes, que briga por liberdade. Agora, o outro lado, não. Então é um cerceamento muito forte contra a gente”, reclamou Bolsonaro.
Esse “nosso lado”, a que ele se refere, são os negacionistas que combateram e combatem a vacinação e que vivem espalhando mentiras para ajudar a disseminação do vírus. Na semana passada, Bolsonaro afirmou que não irá admitir ser banido das redes sociais durante a campanha eleitoral deste ano. Isso é o que ele pensa, porque o que está em jogo não é só a lisura da eleição presidencial, mas também a proteção e a vida das pessoas. Se depender dele, mais pessoas teriam morrido.